quinta-feira, 8 de setembro de 2016

RESPIRAR FUNDO


No texto seguinte (com o título acima) que transcrevemos do Diário de Coimbra de hoje, o seu autor (*) parte da leitura do anexo do documento final “que concluiu nesta segunda-feira, a reunião dos países do G-20, na China” cheio de hipocrisia no que se refere às intenções lá manifestadas para fazer uma pequena resenha do que se passa actualmente no mundo… A conclusão não é nada animadora, como se pode perceber pela leitura do texto.
Ao ler com atenção o anexo do extenso documento final, designado por “Consenso de Hangzhu”, que concluiu nesta segunda-feira, a reunião dos países do G-20, na China, confesso que fiquei deslumbrado.
Nele, fala-se de visão, “de maneira a estimular e abrir novos horizontes de crescimento para melhor garantir os interesses comuns das gerações presentes e futuras”, de integração, “criando sinergias entre as políticas orçamentais, monetárias e estruturais e reforçando a coerência entre o económico, o social, o trabalho e o emprego”, de abertura, “garantindo um apoio público de grande amplitude para favorecer a expansão do crescimento e da participação de todos” para que “esse crescimento seja benéfico em todos os países, em particular para as mulheres, jovens e categorias desfavorecidas, erradicando a pobreza, com uma melhor coordenação da ação pública”.
Embrenhado na leitura, até me esqueci da presença inopinada do Michel Temer, depois do “excelente trabalho” que promoveu no pântano brasileiro, mas a brutal realidade que nos invade, deixou-me à beira de um ataque de nervos.
Logo no dia seguinte, o diário digital “Économie Matin” anuncia que o Procurador-Geral de Saint-Louis – depois de passar largos anos no departamento de justiça em Washinton – acusa o HSBC de ter “lavado” 670 mil milhões de dólares, dos cartéis mexicanos Sinaloa, Juarez e Zetas, sublinhando que o responsável mexicano do banco, com delegações em 77 países, já tinha sido advertido, em tempo oportuno.
Este tema, aliás, surge na cimeira, com os vinte mais poderosos do planeta (86% do PIB mundial) a solicitarem à OCDE e ao FATF (Finantial Actin Task Force) para inventariarem os paraísos fiscais e os múltiplos processos de deslocalização financeira, como se tivessem a sua origem na última passagem do ano.
Num outro plano e, receio, num âmbito similar, questiono publicamente o Banco Central Europeu se tem adquirido obrigações de empresas europeias, já que possuo a informação de que, no caso espanhol e com o banco Morgan Stanley como intermediário, tal processo ocorreu com a Repsol (500 milhões) e Iberdrola (200 milhões)? Haverá alguma empresa portuguesa que tenha beneficiado de um tal esquema processual?
Recordo, com azedume, terem sido necessárias as revelações do “WikiLeaks” para demonstrar o que o FMI fez, obcecado por um impossível equilíbrio orçamental, pretendendo liquidar a Grécia, como acontece com uma simples empresa privada, sujeita a uma intervenção judicial.
A Europa, na sua deliquescência, já não suporta mais migrantes, tema arbitrariamente evitado na cimeira, deixando a questão ucraniana no cinzentismo das conversas privadas. A situação de calais, a mais visível, é tenebrosa, pelo que não é difícil imaginar o que os grandes grupos mediáticos nos escondem , no Iémen, no Afeganistão,, na Síria ou no Iraque, enquanto o regime saudita-wahhabita-salafista – no que concerne das questão islâmica – dispõe de tendas climatizadas para albergar quase um milhão de pessoas (Meca) e não recebe nem um imigrante ou refugiado.
E que dizer da vulnerabilidade, da fome, da miséria e das constantes violações físicas e de rapto de menores na região africana dos Grandes Lagos. A que século regressámos?
Numa próxima oportunidade, não poderei deixar de abordar a última reunião da Nato, em Varsóvia. Um verdadeiro manual de guerra frígida, nas suas 37 páginas e 137 capítulos, a que não é alheio o renascimento do populismo em países axiais da Europa.
Se incluirmos a degradação da situação no Mar Meridional da China, neste cenário quase dantesco, é conveniente abrir a janela, de manhã, ao acordar e respirar fundo.
(*) João Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação

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