No
texto seguinte (com o título acima) que transcrevemos do Diário de Coimbra de
hoje, o seu autor (*) parte da leitura do anexo do documento final “que
concluiu nesta segunda-feira, a reunião dos países do G-20, na China” cheio de
hipocrisia no que se refere às intenções lá manifestadas para fazer uma pequena
resenha do que se passa actualmente no mundo… A conclusão não é nada animadora,
como se pode perceber pela leitura do texto.
Ao
ler com atenção o anexo do extenso documento final, designado por “Consenso de
Hangzhu”, que concluiu nesta segunda-feira, a reunião dos países do G-20, na
China, confesso que fiquei deslumbrado.
Nele,
fala-se de visão, “de maneira a estimular e abrir novos horizontes de
crescimento para melhor garantir os interesses comuns das gerações presentes e
futuras”, de integração, “criando sinergias entre as políticas orçamentais,
monetárias e estruturais e reforçando a coerência entre o económico, o social,
o trabalho e o emprego”, de abertura, “garantindo um apoio público de grande
amplitude para favorecer a expansão do crescimento e da participação de todos”
para que “esse crescimento seja benéfico em todos os países, em particular para
as mulheres, jovens e categorias desfavorecidas, erradicando a pobreza, com uma
melhor coordenação da ação pública”.
Embrenhado
na leitura, até me esqueci da presença inopinada do Michel Temer, depois do “excelente
trabalho” que promoveu no pântano brasileiro, mas a brutal realidade que nos
invade, deixou-me à beira de um ataque de nervos.
Logo
no dia seguinte, o diário digital “Économie Matin” anuncia que o
Procurador-Geral de Saint-Louis – depois de passar largos anos no departamento
de justiça em Washinton – acusa o HSBC de ter “lavado” 670 mil milhões de
dólares, dos cartéis mexicanos Sinaloa, Juarez e Zetas, sublinhando que o
responsável mexicano do banco, com delegações em 77 países, já tinha sido
advertido, em tempo oportuno.
Este
tema, aliás, surge na cimeira, com os vinte mais poderosos do planeta (86% do
PIB mundial) a solicitarem à OCDE e ao FATF (Finantial Actin Task Force) para
inventariarem os paraísos fiscais e os múltiplos processos de deslocalização financeira,
como se tivessem a sua origem na última passagem do ano.
Num
outro plano e, receio, num âmbito similar, questiono publicamente o Banco
Central Europeu se tem adquirido obrigações de empresas europeias, já que
possuo a informação de que, no caso espanhol e com o banco Morgan Stanley como
intermediário, tal processo ocorreu com a Repsol (500 milhões) e Iberdrola (200
milhões)? Haverá alguma empresa portuguesa que tenha beneficiado de um tal
esquema processual?
Recordo,
com azedume, terem sido necessárias as revelações do “WikiLeaks” para
demonstrar o que o FMI fez, obcecado por um impossível equilíbrio orçamental,
pretendendo liquidar a Grécia, como acontece com uma simples empresa privada,
sujeita a uma intervenção judicial.
A
Europa, na sua deliquescência, já não suporta mais migrantes, tema
arbitrariamente evitado na cimeira, deixando a questão ucraniana no cinzentismo
das conversas privadas. A situação de calais, a mais visível, é tenebrosa, pelo
que não é difícil imaginar o que os grandes grupos mediáticos nos escondem , no
Iémen, no Afeganistão,, na Síria ou no Iraque, enquanto o regime
saudita-wahhabita-salafista – no que concerne das questão islâmica – dispõe de
tendas climatizadas para albergar quase um milhão de pessoas (Meca) e não recebe
nem um imigrante ou refugiado.
E
que dizer da vulnerabilidade, da fome, da miséria e das constantes violações
físicas e de rapto de menores na região africana dos Grandes Lagos. A que
século regressámos?
Numa
próxima oportunidade, não poderei deixar de abordar a última reunião da Nato,
em Varsóvia. Um verdadeiro manual de guerra frígida, nas suas 37 páginas e 137
capítulos, a que não é alheio o renascimento do populismo em países axiais da Europa.
Se
incluirmos a degradação da situação no Mar Meridional da China, neste cenário
quase dantesco, é conveniente abrir a janela, de manhã, ao acordar e respirar
fundo.
(*) João
Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação
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