De
tempos a tempo, temos a possibilidade de ler no Público um artigo de opinião do
Embaixador da Palestina, Hikmat Ajjuri, onde, naturalmente, o diplomata defende
as causas do seu povo.
No
texto publicado este sábado, AJJuri refere um pedaço da história do século XX
que levou à criação de Israel, à custa dos territórios usurpados à Palestina. Muita
gente deve desconhecer, pelo menos em parte, estes acontecimentos pelo que é de
elementar justiça para com os palestinianos a sua divulgação.
A
questão palestiniana é uma ferida aberta a nível mundial que continua a sangrar
como na primeira hora em que foi aberta sem que os principais responsáveis pela
sua existência dêem o mais pequeno passo para a cicatrizar. Como muito bem se
sabe, e aqui está suficientemente explícito, o povo palestiniano, através dos
seus representantes, não pode fazer mais cedências ao ocupante de uma terra que
lhe pertence, sob pena de, na sua totalidade, passar a ser estrangeiro no seu
próprio país.
O
Direito Internacional e o Direito Internacional Humanitário são regulamentos
que nasceram do ventre dos valores humanos para proteger a humanidade e a
infraestrutura humana. A democracia e os Direitos Humanos são, naturalmente, as
ferramentas utilizadas para fazer cumprir estes regulamentos. A menos que estas
ferramentas sejam mantidas sãs e salvas, a lei da selva prevalecerá.
O
terrorismo, que está a atingir todos os lugares nos dias de hoje, é o culminar
da nossa incapacidade em manter as ferramentas de implementação dos tais
regulamentos.
Esta
falha manifesta-se todos os dias de diferentes formas. Mas a mais vergonhosa de
todas é aquela que se manifesta através da manutenção de uma democracia interna,
enquanto externamente se mantém uma aliança com ditadores e opressores, como é
o caso de Israel - um poder ocupante.
Há
99 anos atrás, a 2 de Novembro, James Balfour, o então ministro dos Negócios
Estrangeiros da Grã-Bretanha, prometeu aos sionistas, em nome do seu governo,
criar um lar nacional para os judeus na Palestina. Até à criação de Israel, em
1948, esta promessa ilegal, também conhecida como a Declaração de Balfour,
incentivou a emigração de judeus de uma atmosfera antissemita na Europa para o
que, consequentemente, se tornou uma atmosfera de apartheid em Israel.
A
promessa de Balfour foi materializada, à custa dos habitantes indígenas da
Palestina, através de uma resolução, também ela ilegal, da Organização das
Nações Unidas. Materialização essa que se concretizou quando, em Novembro de
1947, esta Organização aprovou a sua resolução número 181 de partilha da
Palestina Histórica. Na verdade, esta resolução foi a primeira violação da
Carta das Nações Unidas, onde se proíbe a atribuição de qualquer território, a
menos que antes exista um acordo entre os povos indígenas. Já para não falar
que a organização atribuiu 56% das terras a 30% da população, cuja esmagadora
maioria eram imigrantes que tinham fugido da Europa.
Em
1918-1919 uma delegação do Congresso norte-americano, aconselhou a não
implementação da Declaração de Balfour, pois era algo que seria impossível
concretizar sem a utilização de força esmagadora contra a população indígena.
Os
norte-americanos estavam certos e os resultados da sua implementação, em 1948,
foram uma catástrofe. 800 mil pessoas da população palestiniana indígena foram
expulsas à força, cerca de 500 das suas vilas e aldeias foram apagadas do mapa,
além dos milhares de mortos e feridos que resultaram das mãos dos gangues
sionistas.
Após
esta catástrofe (Nakba), Israel declarou-se como um Estado em 78% da Palestina
Histórica, 22% a mais do que lhe tinha sido atribuído pela ONU. Como
consequência, Israel transformou-se num Estado de apartheid e numa fonte
constante de conflito e violência até ao presente.
Apesar
desta injustiça histórica infligida aos palestinianos, estes reconheceram, em
1988, o direito de Israel existir em 78% da Palestina Histórica. Reconhecimento
este que foi endossado por todos os estados da Comunidade Internacional,
excepto por Israel, o poder ocupante.
Este
comportamento irresponsável e arrogante de Israel acrescido às suas práticas
selvagens na terra, contra o povo palestiniano sob ocupação, é um desafio
absoluto ao Direito Internacional, e é algo que tem contribuído bastante para
inflamar o actual terror em todo o mundo. Esta ligação ao terror foi afirmada
por muitos líderes mundiais, incluindo presidentes norte-americanos.
Por
fim, o mínimo que os palestinianos esperam da Grã-Bretanha – o país do Mandato
e o farol dos Direitos Humanos e da democracia – em troca da injustiça
infligida sobre eles ao longo dos últimos 99 anos, é que sejam corrigidos
alguns dos danos causados ??pelo seu ex-ministro dos Negócios Estrangeiros,
através do reconhecimento pleno do Estado da Palestina, lado a lado com o
Estado de Israel.
Ao fazer isto, a
Grã-Bretanha, não só irá encorajar outros países a seguir o seu exemplo, como
também contribuirá tremendamente para secar muitos dos recursos do terror, que
estão a matar pessoas inocentes por todo o lado, supostamente em nome da
justiça.
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