domingo, 13 de novembro de 2016

EXPLORAÇÃO DE HIDROCARBONETOS: É PRECISO ESCLARECER A OPINIÃO PÚBLICA



Sob o lema "Salvar o Clima, Parar o Petróleo", centenas de pessoas manifestaram-se em Lisboa e no Porto. Certamente seria desejável que fossem muitas mais, dada a gravidade da situação que se vive em Portugal quanto à possibilidade de se vir a explorar petróleo e gás natural, tanto no mar como em terra. Se não houver uma forte mobilização popular poderá acontecer o que vem sucedendo em muitos países em que lucros fabulosos vão parar aos bolsos de uma pequena minoria enquanto para a restante população ficará o lixo, a poluição e a destruição da economia.
Não há risco zero nem sequer na prospecção, quanto mais na exploração de hidrocarbonetos. É muito importante um forte esclarecimento junto da opinião pública por parte dos mais bem informados já que o país como um todo não receberá senão ínfimos benefícios financeiros em troca de rios de dinheiro que serão canalizados para o estrangeiro.
O Bloco de Esquerda sempre tem estado na primeira linha da luta pela defesa do ambiente e contra interesses que nada têm a ver com os da esmagadora maioria dos portugueses. Por isso, a exploração de hidrocarbonetos com o cortejo de prejuízos que acarreta para todos nós é uma das frentes dessa luta.
É dentro desta linha que hoje divulgamos o excelente artigo de opinião do Eng. do Ambiente, João Camargo, que transcrevemos do Público de hoje.
Começamos pelo que se sabe: Donald Trump prometeu durante a campanha tirar os Estados Unidos do Acordo de Paris e deixar de contribuir para os fundos das Nações Unidas no Combate às Alterações Climáticas, fechar a Agência de Protecção Ambiental americana, retomar projectos como o oleoduto KeyStone XL (que cortaria os EUA para trazer petróleo das areias betuminosas do Canadá até ao Golfo do México) e cancelar o Plano de Energia Limpa de Obama. Segundo Trump, as alterações climáticas são uma invenção da China para prejudicar as exportações dos EUA.
No meio desta informação decorre a Cimeira do Clima, em Marraquexe, a COP-22 que tem como objectivo tornar o Acordo de Paris em algo concreto. Partes, representantes e observadores em Marrocos não escondem a sua apreensão: os EUA são o maior produtor mundial de combustíveis fósseis, desde o início da revolução do fracking. São também o segundo maior emissor de gases. Um abandono do acordo, difícil de conseguir porque foi ratificado por Obama, faria com que a base de acção ficasse ainda mais reduzida. Sem saber exactamente o que fazer, os participantes da cimeira continuam o processo, a negociação para efectivar o acordo, para torná-lo mais vinculativo e reduzir mais as propostas dos países, para garantir a transferência de milhares de milhões de euros dos países ricos para os mais afectados pela radical mudança climática, para contabilizar efectivamente as emissões de dióxido de carbono.
Falta o que não se sabe: por estes dias Trump rodeia-se de um enxame de lobistas da finança, das farmacêuticas, das armas, das petrolíferas, para distribuir lugares no executivo e para construir uma mundivisão mais clara para o seu mandato, mas quando reunir com a NASA não haverá debate sobre as alterações climáticas, quando reunir com o Pentágono ser-lhe-á dito que, acredite ou não, já são consideradas uma das principais ameaças à segurança nacional nos EUA. De que serve isso? Obama sabia-o e admitia-o mas, como W. Bush, considerou ou pelo menos agiu como se o estilo de vida americano não fosse negociável. Os EUA afastam-se da China (o maior emissor de gases com efeito de estufa) com quem assinaram há poucos meses o Acordo de Paris e aproximam-se da Rússia (2º produtor mundial de fósseis e 5º maior emissor de gases com efeito de estufa), que nem sequer ratificou o acordo.
Nenhuma América “Great Again” se fará sob os escombros da devastação climática. Não se sabe se Trump sabe disso, não se sabe se é real ou propaganda a sua posição sobre as alterações climáticas, depois da campanha vista e da ausência do tema dos debates, mas os fenómenos climáticos extremos em território americano agravaram nos últimos anos, com os furacões Katrina, Sandy e Ike, as cheias no Louisiana, e no Midwest, a seca na Califórnia e os incêndios florestais no Alasca, e continuarão.
Fica a lição, para a governança mundial que pretende um acordo climático para salvar os seres humanos que vivem na Terra, mas também para todos os activistas e pessoas preocupadas: a negação de factos já não é razão para se perder debates ou sequer para perder a eleição para o cargo mais poderoso do planeta. Além de ter razão, é preciso ter muita força. Ontem nas ruas em Portugal defendeu-se a espécie humana na Terra: Salvar o Clima, Travar o Petróleo. Parar as concessões de gás e petróleo no país. Hoje sai-se à rua em Marraquexe para pedir que, frente à gigante contrariedade que é a eleição de Trump, se tenha muito mais força. Precisamos dela, não para salvar o planeta, que continuará a existir. Precisamos dessa força para salvar a Humanidade.

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