No
artigo que assina no Público de ontem, Pacheco Pereira faz um curioso desafio aos
leitores no sentido de imaginarem se há 20 anos lhes passaria pela cabeça
certos factos que entretanto ocorreram e que refere de seguida.
Deixamos
aqui apenas cinco dessas referências, neste caso, a personalidades bem
conhecidas dos portugueses e que têm em comum dois factos: 1) Estão todos a
contas com a justiça, indiciados de vários crimes; 2) Em vários momentos a “Pátria”
esteve-lhes agradecida ao ponto de lhes atribuir condecorações.
Parece
uma contradição que indivíduos portadores de condecorações nacionais tenham de
prestar contas à justiça por crimes bem graves como é do conhecimento público.
Contra factos não há argumentos e é esta a actual realidade portuguesa.
José Sócrates,
antigo primeiro-ministro português, está acusado de mais de 30 crimes. Mesmo
que sejam provados dez dos 30, irá passar muitos anos na cadeia. O que é que
pensava a Pátria dele? Elegeu-o para primeiro-ministro duas vezes e
condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Ricardo Salgado,
anteriormente conhecido como o “dono disto tudo”, está acusado de mais de 20
crimes. Mesmo que só sejam provados dez dos 20, irá passar muitos anos na
cadeia. O que pensava a Pátria e o mundo dele? Tem um doutoramento honoris
causa e várias condecorações nacionais e estrangeiras, muita gente
tinha medo dele e ainda mais gente devia-lhe favores. Ele sabe disso.
Zeinal Bava, o gestor modelo, premiado com
todos os prémios, apontado como exemplo à juventude tecnologicamente afoita,
está acusado de cinco crimes. Mesmo que apenas metade seja provada, poderá
passar vários anos na cadeia. O que pensava a Pátria dele? Tem um doutoramento honoris
causa, e a Pátria condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito
Empresarial.
Henrique Granadeiro,
considerado um dos grandes gestores portugueses e com uma longa carreira cívica
e política, está acusado de oito crimes. Mesmo que apenas metade seja dada como
provada, pode passar alguns anos na cadeia. O que pensava a Pátria dele?
Bebia-lhe os vinhos e condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Armando Vara não é exemplo para aqui chamado, porque a Pátria pensava dele o
mesmo que pensa agora, mas não deixou entretanto de lhe atribuir a Grã-Cruz da
Ordem do Infante D. Henrique.
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