Tal
como aconteceu aquando da tragédia de Pedrógão Grande, toda a gente opina hoje
sobre as origens e os responsáveis dos incêndios que estão a assolar de uma
forma particularmente violenta o centro do país.
Há,
sem dúvida, causas imediatas para tantas ignições de fogos e mãos criminosas
por de trás da maior parte delas mas, a questão de fundo, está nas alterações
climáticas que propiciam as condições para que os incêndios florestais se
desenvolvam com tanta rapidez e de efeitos tão devastadores em vidas e haveres.
Se, as temperaturas de Verão que têm persistido em pleno mês de Outubro assim
como as percentagens de humidade anormalmente baixas para a época não têm
ocorrido, nenhum incendiário conseguiria atear o mais pequeno fogo, por mais
que se esforçasse. Estamos em crer que, entre as pessoas mais idosas, ninguém
se lembrará de uma situação climática como a que vem ocorrendo ultimamente com
crónica falta de chuvas e temperaturas anormalmente altas.
Num
outro plano, como que a ajudar no sentido mais negativo à situação actual,
estão a nossa mancha florestal e o abandono das terras do interior de Portugal.
É,
em síntese o que podemos tirar de uma curta mas certeira declaração do Eng. do
Ambiente e Especialista em Alterações Climáticas, João Camargo, que
reproduzimos a seguir.
Não há nenhuma coincidência. Estiveram hoje mais 9ºC
do que devia. A humidade relativa esteve nos 25% e abaixo quando devia estar no
60-70%. 50-60% da mancha florestal são pinheiros e eucaliptos, a que se juntam
matos para garantir a combustão perfeita. 20% do território nacional abandonado
ou de dono desconhecido. Seca extrema a severa em 90% do território nacional.
Na Galiza também arde a sério. Na Califórnia, de clima similar, parece que caiu
uma bomba atómica de tanto incêndio. Não vai mudar enquanto não se mudar a
floresta (literalmente, mudar estrutura e composição de espécies). E ignorar
que o novo clima vai ser parecido com isto é que é criminoso.
É claro que, conhecidas as causas, é
preciso actuar com base nelas, prevenindo o futuro por um lado e, no imediato,
acudir com eficácia e rapidez as populações afectadas.
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