segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A BANCA NUNCA PERDE

Mesmo que o neguem, e lhe dêem outro nome, a verdade é que se está a cumprir o que as forças de esquerda consequente previam desde há cerca de um ano e meio – está a proceder-se à reestruturação da dívida grega, depois de o país ficar exaurido com os sacrifícios que lhe foram impostos pela malfadada troika. Resultado: os sacrifícios não serviram para nada. No entanto, ao contrário do que deveria suceder, o exemplo helénico não está a servir para o Governo português mudar a sua estratégia no que diz respeito às metas definidas no Memorando de entendimento.
O seguinte texto é de Marisa Matias e tem por tema o dia seguinte da banca depois da reestruturação da dívida grega.

UMA MÃO CHEIA DE NADA
“A cultura dos tempos é aquela que condena tudo ao presente, esquecendo o passado e eliminando o futuro.
Com um ano e meio de atraso, foi finalmente reconhecida a necessidade de reestruturar a dívida grega. Várias vozes se juntaram para entoar: “foi uma grande perda para os credores”. É bem verdade que os credores irão ganhar muito menos do que previam, mas ganhar menos não é bem sinónimo de perda. Recuemos ao passado. Alguém contestou os lucros abusivos destes mesmos credores quando cobravam taxas de juro agiotas e iam ganhando às custas do desespero de muitos? Avancemos para o futuro. Alguém está a contestar o outro lado desta decisão? Não, pelo contrário, foi aplaudida, e é bom lembrar que outro lado é esse. Os mesmos credores que perdem nos lucros previstos, beneficiarão das medidas adoptadas para a recapitalização da banca. Traduzido por miúdos, os bancos livram-se dos produtos tóxicos ao mesmo tempo que ganham dinheiro fresco.
É certo que há um problema de solidez da estrutura financeira na banca europeia, e é bom reconhecê-lo, mas estas supostas perdas serão mais do que compensadas através do processo de recapitalização. É, aliás, aí que mora o problema do futuro: com o que aprendemos do passado, a recapitalização da banca deveria ser acompanhada de contrapartidas, mas não foi isso que prevaleceu. Nas decisões tomadas, nem vislumbre de uma política de crédito para o crescimento, nem uma ideia sobre pôr os bancos a pagar impostos sobre os seus lucros. Se é certo, repito, que a banca europeia está com dificuldades, é também errado confundir o excesso de endividamento dos bancos com ausência de lucros. De cada vez que vem uma nova crise diz-se: desta vez vai ser diferente. De cada vez que vem uma nova Cimeira Europeia também se diz: desta vez vai ser diferente. Mas a diferença teima em chegar e nem sequer se pode acusar uma falha na previsão meteorológica. As condições do clima em que vivemos são bem conhecidas por todos e a tempestade teima em não passar.”

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