sábado, 22 de outubro de 2011

A FACTURA AÍ ESTÁ

Muitos portugueses que apadrinharam este governo votando quer no PSD quer no CDS estarão, nesta altura, a torcer a orelha. Alguns o terão feito para nos livrarmos de uma figura execrável, não só sob o ponto de vista político, sem pensarem nas poucas garantias que a mudança apresentava. Agora vamos todos pagar uma pesada factura relativamente à qual o poder nos quer fazer crer que não há “alternativa”. Mas há, mesmo para muita gente identificada com o regime.
As críticas já vêm de muitos lados e tornaram-se mais ferozes com a apresentação do Orçamento do Estado (OE) para 2012. Uma das principais tem a ver com o facto de um importante lote de medidas propostas ir muito para além do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) acordado com a troika. Como hoje podemos ler Expresso, pela pena de Nicolau Santos “no OE a redução das despesas com pessoal são o quádruplo (!) do exigido pelo PAEF (de 0,4 para 1,6); nas prestações sociais em espécie é 1,5 vezes superior (de 0,4 para 0,6); no aumento de impostos sobre a produção, é 2,5 vezes superior, no imposto sobre o rendimento também se pede mais uma décima (de 0,3 para 0,4); mas naquilo que foi o grande cavalo de batalha de PSD e CDS durante a campanha eleitoral, os consumos intermédios, o OE não só não consegue fazer nenhuma poupança adicional em relação ao PAEF, como em valores absolutos recua mesmo (de €702 milhões para €690 milhões)”.
Os trabalhadores da função pública e os pensionistas serão os principais atingidos mas o terreno está preparado para que, também no sector privado, sejam cortados os subsídios de férias e de Natal. Aliás, pelas palavras do ministro das Finanças, pode perceber-se que a ideia será mesmo a de acabar, de vez, com aqueles subsídios.
Entretanto é bom que reflictamos sobre a possibilidade de estarmos a ser usados numa estratégia perversa: o brutal aperto de cinto a que vamos estar sujeitos em 2012 e 2013 contém uma margem de manobra que o permita afrouxar com a aproximação do próximo ciclo eleitoral. Dada a forma como este governo tem actuado, é uma possibilidade bem real.

Luís Moleiro

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