sábado, 29 de outubro de 2011

À DIREITA DA DIREITA

Em artigo de opinião que hoje assina na edição impressa do “Público”, São José Almeida afirma que “o espírito do tempo que vivemos” é “totalitário”. Quem não anda distraído no seu dia-a-dia, dá conta da ostracização a que são sujeitas as opiniões, que contrariam o “monolitismo unanimista e autoritário”, quando apontam caminhos alternativos para ultrapassarmos o difícil momento de crise económica e social que vivemos. E isto, é tão verdadeiro que, as próprias personalidades, indiscutivelmente de direita, são alvos das mais veementes críticas quando colocam em evidência a realidade pura e simples. Veja-se, por exemplo, o que sucedeu ao Presidente da República quando, recentemente, “cometeu o "pecado" de querer pedir debate, reflexão crítica, ponderação sobre a melhor forma de governar e satisfazer as necessidades dos cidadãos”.
Tal como já fizemos anteriormente, vamos hoje deixar aqui a posição de mais uma individualidade de direita, fortemente crítica em relação a uma pretensão do Governo, desta vez, no que se refere à privatização da RTP. É Henrique Raposo, jornalista do “Expresso”, que, numa hipotética conversa se dirige ao primeiro-ministro. Eis um excerto dessa conversa:
(…) “Temos, caríssimo Pedro, mil coisas para liberalizar, mil mudanças a fazer no sentido de aproximar Portugal de uma normalidade europeia. Com certeza. Mas, curiosamente, a obsessão do dr. Relvas está em algo que nem sequer tem discussão nos EUA. Em qualquer país civilizado, existe uma TV pública forte e plural. Ponto. Como diz? Não ouvi, meu caro? Sim, sim, claro, claro, devemos mudar o modelo da RTP. Mas aquilo que está a ser proposto não tem pés nem cabeça. É que nem sequer vai sobrar a RTP2. Sim, meu caro, eu gosto da RTP2. Sim, defendo um serviço público de TV sem publicidade. Sim, defendo uma TV pública que faça aquilo que os privados não fazem. Sabe porquê, sr. primeiro-ministro? Porque antes de sermos consumidores, somos portugueses. Antes de sermos telespectadores, fazemos parte de uma cultura que devia ser protegida e promovida por uma RTP a sério (não a actual), por uma RTP fora das preocupações das audiências. E essa RTP reformada (e não desmantelada) devia partir do pressuposto de que os portugueses não são seres passivos à espera dos gordinhos da Bárbara, ou seja, devia estar concentrada na produção e transmissão de ficção (assente na nossa literatura) e de documentários (assentes na nossa História). Até lhe digo mais: no mundo de hoje, uma língua que não consiga produzir uma cultura audiovisual não passa de uma língua morta.” (…)
Para mal de todos nós, os portugueses estão perante um governo composto de radicais, à direita da direita.

Luís Moleiro

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