Os membros mais débeis da União Europeia (UE), nomeadamente os Estados do sul, são aqueles que piores consequências sofrem com a acção do directório Paris-Berlim. É comer e calar perante a força bruta das imposições de Sarkozy e Merkel. Este duo faz tábua rasa da democracia, põe e dispõe, não tolerando que qualquer estado-membro interfira nas suas determinações. Por muito que se pretenda fazer crer o contrário, o próprio Durão Barroso acabou por se transformar numa figura decorativa. Por vezes finge fazer voz grossa aos poderosos mas não passa de um nítido nulo.
O texto seguinte é um excerto de um artigo de opinião que hoje se pode ler no “Diário de Coimbra”, com o sugestivo título “A demónio… cracia!” e tem muito a ver com a absoluta irrelevância de Portugal em termos de UE.
(…) “A democracia dos estados, que emana da soberania de cada um, já estava posta em causa, desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Paris e Berlim deixaram de discutir com os parceiros e vão aos conselhos europeus, apenas, para apresentar e impor as decisões aprioristicamente tomadas por ambos. O mundo retrocedeu e estamos a recriar o poder medieval da força. Sarkozy e Merkel nem sequer acreditam que qualquer outro parceiro possa ter uma ideia prestável, que ajude a superar a crise. Como não toleram que qualquer estado-membro reclame razões de que se julgue credor.
Pela experiencia que tenho da cobertura de Conselhos Europeus – mal contados estive em mais de 20 – quer-me parecer que chefes de governo como o português já nem devem opinar e que chegam às cimeiras sem qualquer posição de princípio. Quanto muito, farão uma qualquer pergunta tímida, pouco substantiva, com o cuidado de não incomodar Sarkozy ou Merkel. Avalio isto pelos noticiários que me chegam.
Um exemplo: nos dias imediatos à falência do Lehman Brothers, Bruxelas exortou os estados-membros a adoptarem medidas de apoio social, que servissem de pára-choques aos efeitos devastadores da crise que se adivinhava. Até Jean-Claude Trichet, exorbitando as suas funções o disse.
A crise não se resolveu, pelo contrário, agravou-se. Mas o poder político europeu entendeu que essas medidas de apoio social já não eram necessárias e, pelo contrário, deviam ser reduzidas à sua expressão mais simples, ou mesmo eliminadas. Esta mudança de atitude foi inclementemente imposta pelos mercados que não têm tempo a perder com solidariedades ou contemplações de qualquer tipo. Mas nem Sócrates, nem Passos Coelho, sobretudo o primeiro, incomodaram os altos comandos da Europa, recordando que uma parte da derrapagem da despesa foi para acorrer às situações mais críticas e que essa tinha sido uma directiva política da Comissão Europeia.
Chegámos a um ponto em que já não temos força para nada. Tal como, antes de mim, já outros o disseram, corremos o risco de desaparecer como Nação. Vegetamos na Europa, em claro défice de consideração e respeito, por culpa própria.
O Tratado de Lisboa, tal como está, já não vai durar muito. E tenho a certeza que, seja ele revisto em que sentido for, ou mais liberal ainda, ou recuperando qualquer coisa da Europa Social, ou por qualquer ironia absolutamente imprevisível, num sentido mais federalista, Portugal votará sempre com os grandes estados, indiferente às consequências que essa irresponsabilidade possa ter no futuro. Este Estado está em pleno processo de obsolescência e precisa de ser refundado, por outr gente, por outro poder.” (…) (Sérgio Borges)
O texto seguinte é um excerto de um artigo de opinião que hoje se pode ler no “Diário de Coimbra”, com o sugestivo título “A demónio… cracia!” e tem muito a ver com a absoluta irrelevância de Portugal em termos de UE.
(…) “A democracia dos estados, que emana da soberania de cada um, já estava posta em causa, desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Paris e Berlim deixaram de discutir com os parceiros e vão aos conselhos europeus, apenas, para apresentar e impor as decisões aprioristicamente tomadas por ambos. O mundo retrocedeu e estamos a recriar o poder medieval da força. Sarkozy e Merkel nem sequer acreditam que qualquer outro parceiro possa ter uma ideia prestável, que ajude a superar a crise. Como não toleram que qualquer estado-membro reclame razões de que se julgue credor.
Pela experiencia que tenho da cobertura de Conselhos Europeus – mal contados estive em mais de 20 – quer-me parecer que chefes de governo como o português já nem devem opinar e que chegam às cimeiras sem qualquer posição de princípio. Quanto muito, farão uma qualquer pergunta tímida, pouco substantiva, com o cuidado de não incomodar Sarkozy ou Merkel. Avalio isto pelos noticiários que me chegam.
Um exemplo: nos dias imediatos à falência do Lehman Brothers, Bruxelas exortou os estados-membros a adoptarem medidas de apoio social, que servissem de pára-choques aos efeitos devastadores da crise que se adivinhava. Até Jean-Claude Trichet, exorbitando as suas funções o disse.
A crise não se resolveu, pelo contrário, agravou-se. Mas o poder político europeu entendeu que essas medidas de apoio social já não eram necessárias e, pelo contrário, deviam ser reduzidas à sua expressão mais simples, ou mesmo eliminadas. Esta mudança de atitude foi inclementemente imposta pelos mercados que não têm tempo a perder com solidariedades ou contemplações de qualquer tipo. Mas nem Sócrates, nem Passos Coelho, sobretudo o primeiro, incomodaram os altos comandos da Europa, recordando que uma parte da derrapagem da despesa foi para acorrer às situações mais críticas e que essa tinha sido uma directiva política da Comissão Europeia.
Chegámos a um ponto em que já não temos força para nada. Tal como, antes de mim, já outros o disseram, corremos o risco de desaparecer como Nação. Vegetamos na Europa, em claro défice de consideração e respeito, por culpa própria.
O Tratado de Lisboa, tal como está, já não vai durar muito. E tenho a certeza que, seja ele revisto em que sentido for, ou mais liberal ainda, ou recuperando qualquer coisa da Europa Social, ou por qualquer ironia absolutamente imprevisível, num sentido mais federalista, Portugal votará sempre com os grandes estados, indiferente às consequências que essa irresponsabilidade possa ter no futuro. Este Estado está em pleno processo de obsolescência e precisa de ser refundado, por outr gente, por outro poder.” (…) (Sérgio Borges)
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