No texto que assina na última edição do “Expresso”, Daniel Oliveira faz referência ao que sucede com uma parte significativa das transacções bolsistas europeias: metade destas transacções é feita fora das bolsas, num sistema que ele designa de “candonga”, ainda pior do que o capitalismo de casino. Provavelmente muita gente desconhece esta situação que é levada a cabo através de meios informáticos muito sofisticados que poucos dominam mas cujos resultados estão bem à vista. Estamos perante mais uma consequência da rédea solta que foi dada aos mercados. Há gente que está a tomar decisões criminosas que afectam de forma drástica as nossas vidas, quem sabe se de forma irreversível.
CAPITALISMO DE CANDONGA
Em 2007, a Comissão Europeia, através da directiva MIF (mercado de instrumentos financeiros), desregulou a organização das praças bolsistas da Europa. Com a sua fé inabalável na concorrência, conseguiu o que queria: metade das transacções bolsistas europeias são feitas fora das bolsas, através de sistemas opacos, que permitem que as transacções sejam feitas sem se saber por quem, em que quantidades e a que preço. Do capitalismo de casino passámos para o capitalismo de candonga. Tudo se passa em computadores superpotentes, numa multiplicação vertiginosa de transacções que apenas os profissionais mais especializados neste jogo controlam. Quem anda a tentar “acalmar os mercados” deveria saber que os profissionais dos mercados vivem do seu nervosismo e alimentam o nervosismo dos amadores que os seguem. Não querem os nossos ansiolíticos para nada.
A dimensão, a rapidez e a complexidade com que os mercados financeiros hoje funcionam estão para lá das capacidade dos homens e das suas instituições. Para se perceber o que isto quer dizer, conta-se, num artigo recente da edição portuguesa do “Le Monde Diplomatique”, como no dia 6 de Maio de 2010, o índice Down Jones caiu mais de 9% numa só sessão, levando a cotação de várias empresas a despenhar-se em apenas alguns minutos. O algoritmo de um operador no Kansas gerou automaticamente 75 mil contratos a prazo sobre a variação de um índice bolsista. Lançou o pânico noutros computadores de bancos e fundos de investimento. Em catorze segundos os contratos mudaram de mãos 27 mil vezes. São isto os mercados, e não umas pessoas muito conscienciosas que analisam cuidadosamente os resultados económicos de empresas e Estados.
As coisas estão neste estado porque se fizeram (e continuam a fazer) escolhas políticas criminosas. Porque os governos são estúpidos? Não. Porque são politicamente corruptos. Quando vemos António Borges a dirigir o Departamento Europeu do FMI e Mario Draghi à frente do Banco Central Europeu e sabemos que os dois foram vice-presidentes da Goldman Sashs – que foi quem mais ganhou com a crise do subprime e que ajudou a Grécia a mascarar a verdadeira dimensão do seu défice – percebemos de quem estamos reféns. De gente com um currículo que devia ser considerado cadastro. (Daniel Oliveira, Jornalista)
CAPITALISMO DE CANDONGA
Em 2007, a Comissão Europeia, através da directiva MIF (mercado de instrumentos financeiros), desregulou a organização das praças bolsistas da Europa. Com a sua fé inabalável na concorrência, conseguiu o que queria: metade das transacções bolsistas europeias são feitas fora das bolsas, através de sistemas opacos, que permitem que as transacções sejam feitas sem se saber por quem, em que quantidades e a que preço. Do capitalismo de casino passámos para o capitalismo de candonga. Tudo se passa em computadores superpotentes, numa multiplicação vertiginosa de transacções que apenas os profissionais mais especializados neste jogo controlam. Quem anda a tentar “acalmar os mercados” deveria saber que os profissionais dos mercados vivem do seu nervosismo e alimentam o nervosismo dos amadores que os seguem. Não querem os nossos ansiolíticos para nada.
A dimensão, a rapidez e a complexidade com que os mercados financeiros hoje funcionam estão para lá das capacidade dos homens e das suas instituições. Para se perceber o que isto quer dizer, conta-se, num artigo recente da edição portuguesa do “Le Monde Diplomatique”, como no dia 6 de Maio de 2010, o índice Down Jones caiu mais de 9% numa só sessão, levando a cotação de várias empresas a despenhar-se em apenas alguns minutos. O algoritmo de um operador no Kansas gerou automaticamente 75 mil contratos a prazo sobre a variação de um índice bolsista. Lançou o pânico noutros computadores de bancos e fundos de investimento. Em catorze segundos os contratos mudaram de mãos 27 mil vezes. São isto os mercados, e não umas pessoas muito conscienciosas que analisam cuidadosamente os resultados económicos de empresas e Estados.
As coisas estão neste estado porque se fizeram (e continuam a fazer) escolhas políticas criminosas. Porque os governos são estúpidos? Não. Porque são politicamente corruptos. Quando vemos António Borges a dirigir o Departamento Europeu do FMI e Mario Draghi à frente do Banco Central Europeu e sabemos que os dois foram vice-presidentes da Goldman Sashs – que foi quem mais ganhou com a crise do subprime e que ajudou a Grécia a mascarar a verdadeira dimensão do seu défice – percebemos de quem estamos reféns. De gente com um currículo que devia ser considerado cadastro. (Daniel Oliveira, Jornalista)
Sem comentários:
Enviar um comentário