Joseph Stiglitz é um conhecido economista norte-americano, antigo vice-presidente do Banco Mundial. Para além de outras distinções, foi galardoado com o Prémio Nobel da Economia em 2001. Se bem que já tenha afirmado que “para a maior parte do Mundo a globalização, como tem sido conduzida, assemelha-se a um pacto com o demónio”, não se iluda alguma esquerda sonhadora e fiquem descansados muitos fanáticos do neoliberalismo que não estamos na presença de alguém de esquerda. O cargo que ocupou no Banco Mundial é uma credencial suficiente para percebermos perante o tipo de personalidade que nos encontramos. É um homem do sistema que percebeu há muito que o extremismo a que o capitalismo chegou, só pode levar à sua autodestruição, para além do sofrimento que está a causar no mundo.
À margem de uma conferência que proferiu na Corunha (Espanha) sobre o tema “Pode o capitalismo salvar-se a si mesmo?”, Stiglitz declarou aos jornalistas presentes que “a austeridade por si só não vai resolver os problemas porque não vai estimular o crescimento". Trata-se de “uma receita para um crescimento menor, para uma recessão e para mais desemprego. A austeridade é uma receita para o suicídio", afirmou.
Por outro lado e, nem de propósito, José Manuel Pureza aborda hoje no DN a receita da austeridade recessiva que tanto Merkel como Sarkozy insistem em aplicar, transformando em dogma o défice zero mesmo que o seu fundamentalismo ideológico arraste toda a Europa para um naufrágio que já se perfila no horizonte.
“Lembrava ontem o Financial Times que foi tarde demais que os passageiros de primeira classe do Titanic tomaram consciência de que no naufrágio do navio eles naufragariam também. É uma metáfora certeira para a crise europeia. A tese de que quando o fogo da crise chamuscar as barbas da Alemanha e da França então tudo se resolverá é dramaticamente ilusória. A verdade é que o fogo já está nas suas casas. E eles continuam a regá-lo com gasolina. O que leva Angela Merkel e Nicolas Sarkozy a insistir na receita da austeridade recessiva é muito mais que o seu visível desdém para com as economias da periferia europeia: é o fundamentalismo ideológico que transforma o défice zero em dogma, mesmo - e sobretudo - quando isso acarreta a incineração do mais ténue vestígio de serviço público e de Estado social, seja na periferia seja nos seus próprios países. Não se arrependem porque é precisamente isso que querem em primeira linha. Na sua delirante irresponsabilidade, mostram estar convictos de que se for preciso destruírem a União Europeia para manterem os juros do financiamento das suas economias baixos - sim, a França e a Alemanha também se endividam... - levarão o projecto até ao fim. Sucede que, entretanto, as notícias de ontem mostram que Alemanha e França estão já a começar a naufragar nesse naufrágio que provocaram à União Europeia. Talvez dêem sinais de preocupação quando o ângulo de inclinação do navio for já de dimensão irreversível. Tanto pior para eles e para nós: a orquestra no tombadilho toca já as últimas valsas cuja melodia se mistura com o mergulho final do barco.”
A conclusão a tirar é que, infelizmente, a forma como se está a combater a recessão provocada pela austeridade aplicando-se mais do mesmo, numa espiral sem fim, só pode conduzir a UE ao fundo do abismo
Luís Moleiro
À margem de uma conferência que proferiu na Corunha (Espanha) sobre o tema “Pode o capitalismo salvar-se a si mesmo?”, Stiglitz declarou aos jornalistas presentes que “a austeridade por si só não vai resolver os problemas porque não vai estimular o crescimento". Trata-se de “uma receita para um crescimento menor, para uma recessão e para mais desemprego. A austeridade é uma receita para o suicídio", afirmou.
Por outro lado e, nem de propósito, José Manuel Pureza aborda hoje no DN a receita da austeridade recessiva que tanto Merkel como Sarkozy insistem em aplicar, transformando em dogma o défice zero mesmo que o seu fundamentalismo ideológico arraste toda a Europa para um naufrágio que já se perfila no horizonte.
“Lembrava ontem o Financial Times que foi tarde demais que os passageiros de primeira classe do Titanic tomaram consciência de que no naufrágio do navio eles naufragariam também. É uma metáfora certeira para a crise europeia. A tese de que quando o fogo da crise chamuscar as barbas da Alemanha e da França então tudo se resolverá é dramaticamente ilusória. A verdade é que o fogo já está nas suas casas. E eles continuam a regá-lo com gasolina. O que leva Angela Merkel e Nicolas Sarkozy a insistir na receita da austeridade recessiva é muito mais que o seu visível desdém para com as economias da periferia europeia: é o fundamentalismo ideológico que transforma o défice zero em dogma, mesmo - e sobretudo - quando isso acarreta a incineração do mais ténue vestígio de serviço público e de Estado social, seja na periferia seja nos seus próprios países. Não se arrependem porque é precisamente isso que querem em primeira linha. Na sua delirante irresponsabilidade, mostram estar convictos de que se for preciso destruírem a União Europeia para manterem os juros do financiamento das suas economias baixos - sim, a França e a Alemanha também se endividam... - levarão o projecto até ao fim. Sucede que, entretanto, as notícias de ontem mostram que Alemanha e França estão já a começar a naufragar nesse naufrágio que provocaram à União Europeia. Talvez dêem sinais de preocupação quando o ângulo de inclinação do navio for já de dimensão irreversível. Tanto pior para eles e para nós: a orquestra no tombadilho toca já as últimas valsas cuja melodia se mistura com o mergulho final do barco.”
A conclusão a tirar é que, infelizmente, a forma como se está a combater a recessão provocada pela austeridade aplicando-se mais do mesmo, numa espiral sem fim, só pode conduzir a UE ao fundo do abismo
Luís Moleiro
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