segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A DEMOCRACIA ATRAPALHA?

Progressivamente temos verificado que muitos políticos que elegemos para conduzir os destinos do país são, afinal, os mandatários do capital financeiro que ora domina o mundo. Esses políticos não fazem mais que repetir as ordens que vêm de entidades sem rosto mas cujo poder é de autênticos deuses. As promessas que fazem nas campanhas eleitorais são para deitar no lixo logo que os votos estejam contados. Ainda há cinco meses tivemos esse exemplo em Portugal.
O momento actual talvez constitua o ponto de partida para uma era pós-democrática em que os mercados financeiros liberalizados, que não morrem de amores pela democracia, já dão ordens sobre a forma como os governos devem ser constituídos e sobre as medidas que devem tomar.
Temos dois exemplos bem frescos que chegam da Grécia e da Itália, onde ascenderam ao poder figuras que não foram sujeitas ao voto popular. O exemplo grego é comentado por Daniel Oliveira na coluna que assina no “Expresso”, da seguinte forma:
(…)“O novo primeiro-ministro grego corresponde muito mais ao poder político que nos irá governar. Feito de tecnocratas apagados que ninguém sabe a quem obedecem. Vindo do BCE, a instituição que se tem encarregado do enterro da Europa e que é hoje, tal como o departamento europeu do FMI, dirigida por um homem da Goldman Sachs. Membro da obscura Comissão Trilateral, criada nos anos 70 por Rockefeller, para ser a sala de estar onde o poder financeiro e político trocam favores. Ali se forjam “estadistas”. Os mercados financeiros liberalizados depõem políticos, elegem políticos, derrubam políticas, impõem políticas. Sem precisar de nenhuma máquina de propaganda ou de lideres carismáticos. Porque dispensam a nossa simpatia ou apoio. Têm o crédito, os juros, as agências de notação e o poder da chantagem.
No seu processo de globalização, o capitalismo dominado pelo capital financeiro tem gestores locais sem fidelidades nacionais nem qualquer sentimento de pertença a um povo, a uma classe ou a uma corrente política. E tem uma força destrutiva que nenhum exército imperial até hoje conheceu. Não tem líderes claros, não tem programa, não tem rumo, não tem ética. Com ele não se negoceia para evitar a morte. Porque a sua voracidade não conhece um momento de paz e de equilíbrio.
Por isso, quando os bancos protestam porque o Estado quer intervir na sua gestão em troca da utilização de dinheiros públicos para os salvar estão a queixar-se de um favor. Quem queira salvar as democracias ainda virá a defender a nacionalização da banca. Assim como os exércitos são dos estados, este colosso não pode ser deixado à solta. Não será um programa ideológico. Será uma luta pela sobrevivência.”
(…)

Luís Moleiro

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