Ouvirmos os discursos de membros do Governo, empresários e direita em geral, em dia de greve, é assistirmos a um exercício da mais pura hipocrisia.
Todos eles juram, batendo com as mãos no peito defender o direito constitucional à greve. Mas quando se pronunciam concretamente sobre qualquer greve, verifica-se que, se pudessem, a proibiriam, expressa ou encapotadamente. Chovem as críticas à forma como os trabalhadores, através das suas organizações mais representativas, decidem protestar contra as injustiças de que são vítimas, o que, aliás, lhes sai do bolso porque os dias de greve são descontados nos seus salários.
Mas, uma greve põe sempre em causa o poder constituído e isso é fonte de mal-estar para a classe dominante. Não é por acaso que, num primeiro momento, o Governo tenta minimizar os números da adesão para, a seguir, os seus muitos porta-vozes na comunicação social virem apregoar, repetidamente, os prejuízos causados pela greve. Parece contraditório mas não é. Num curto espaço de tempo uma acção complementa a outra. É uma forma de propaganda, tão usada que todos já a conhecemos.
No artigo de opinião que assina no ‘Público’ de terça-feira, 29 de Novembro, José Vítor Malheiros refere-se a este tema, de forma muito realista, como se pode verificar:
“Não é possível ouvir um governante, um empresário, um político da direita falar de greve sem que este, primeiro, garanta que defende "o direito constitucional" à greve e sem que, em seguida, ponha em causa esse mesmo direito quando se trata de uma greve em concreto. O direito à greve, para todos estes cavalheiros, é algo que apenas é legítimo se 1) a economia do país estiver florescente, com taxas de crescimento de dois dígitos 2) se nos dias anteriores os trabalhadores que vão fazer greve trabalharem ao dobro do ritmo para não prejudicar as encomendas 3) se a greve não causar o mínimo incómodo a ninguém 4) se a greve não tiver o mínimo pressuposto político e se reivindicar apenas coisas como o direito a escolher o canal de televisão que se prefere 5) se a greve não for noticiada para não dar má impressão a Angela Merkel e "aos mercados". Daí os serviços mínimos de 50 por cento, para ninguém notar que há greve. Daí a intervenção dissuasora da polícia, evidentemente instruída para agir de forma musculada.
António Marques, presidente da Associação Industrial do Minho, entrevistado pelo PÚBLICO, depois de defender o "direito constitucional", considerou a greve geral "de uma demagogia, de um oportunismo e de uma insensibilidade social a toda a prova", para defender em seguida que, numa democracia, "o protesto exerce-se nas urnas e não nas ruas". Não nas ruas.
E o pensamento de António Marques vai mais longe: o industrial minhoto diz que seria conveniente criar "mais insegurança" aos trabalhadores, "para que se mantivessem mais empenhados no seu trabalho". Longe das ruas e com medo. O verniz democrático estala.”
Luís Moleiro
Todos eles juram, batendo com as mãos no peito defender o direito constitucional à greve. Mas quando se pronunciam concretamente sobre qualquer greve, verifica-se que, se pudessem, a proibiriam, expressa ou encapotadamente. Chovem as críticas à forma como os trabalhadores, através das suas organizações mais representativas, decidem protestar contra as injustiças de que são vítimas, o que, aliás, lhes sai do bolso porque os dias de greve são descontados nos seus salários.
Mas, uma greve põe sempre em causa o poder constituído e isso é fonte de mal-estar para a classe dominante. Não é por acaso que, num primeiro momento, o Governo tenta minimizar os números da adesão para, a seguir, os seus muitos porta-vozes na comunicação social virem apregoar, repetidamente, os prejuízos causados pela greve. Parece contraditório mas não é. Num curto espaço de tempo uma acção complementa a outra. É uma forma de propaganda, tão usada que todos já a conhecemos.
No artigo de opinião que assina no ‘Público’ de terça-feira, 29 de Novembro, José Vítor Malheiros refere-se a este tema, de forma muito realista, como se pode verificar:
“Não é possível ouvir um governante, um empresário, um político da direita falar de greve sem que este, primeiro, garanta que defende "o direito constitucional" à greve e sem que, em seguida, ponha em causa esse mesmo direito quando se trata de uma greve em concreto. O direito à greve, para todos estes cavalheiros, é algo que apenas é legítimo se 1) a economia do país estiver florescente, com taxas de crescimento de dois dígitos 2) se nos dias anteriores os trabalhadores que vão fazer greve trabalharem ao dobro do ritmo para não prejudicar as encomendas 3) se a greve não causar o mínimo incómodo a ninguém 4) se a greve não tiver o mínimo pressuposto político e se reivindicar apenas coisas como o direito a escolher o canal de televisão que se prefere 5) se a greve não for noticiada para não dar má impressão a Angela Merkel e "aos mercados". Daí os serviços mínimos de 50 por cento, para ninguém notar que há greve. Daí a intervenção dissuasora da polícia, evidentemente instruída para agir de forma musculada.
António Marques, presidente da Associação Industrial do Minho, entrevistado pelo PÚBLICO, depois de defender o "direito constitucional", considerou a greve geral "de uma demagogia, de um oportunismo e de uma insensibilidade social a toda a prova", para defender em seguida que, numa democracia, "o protesto exerce-se nas urnas e não nas ruas". Não nas ruas.
E o pensamento de António Marques vai mais longe: o industrial minhoto diz que seria conveniente criar "mais insegurança" aos trabalhadores, "para que se mantivessem mais empenhados no seu trabalho". Longe das ruas e com medo. O verniz democrático estala.”
Luís Moleiro
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