domingo, 29 de abril de 2012

NÃO HÁ APOLÍTICOS

A crónica que Sousa Tavares (ST) assina no “Expresso” de ontem intitulada “Mago” tem um conteúdo demasiado importante pelo que deve ser suficientemente divulgada perante aqueles que não a leram. ST desmonta a falácia que é comum ouvirmos, segundo a qual, ministros como Vitor Gaspar apenas tomam decisões técnicas que nada têm a ver com “política” e para as quais não há alternativa. Nada mais falso. Tão política é a agenda de Vitor Gaspar como o é a daqueles que a contestam. Apenas têm sinais contrários. Perigoso e errado é não pensarmos assim.
Seguem-se alguns excertos que nos parecem mais importantes já que o texto completo, apesar de importante é longo:

Dez meses passados começo a pensar que Vitor Gaspar não é um calmante, mas sim um indutor de sono. Anestesiou-nos, adormeceu-nos, fez connosco o velho truque dos economistas, que é o de retirar ao adjetivo “política” ao nome da suposta ciência conhecida como Economia Política (…)

Nunca acreditem nos economistas “apolíticos”: o seu objetivo final é tão político quanto o dos políticos, apenas querem chegar lá por si sós, invocando uma pretensa superioridade técnica que dispensará o controlo político democrático sobre aquilo que vão fazendo. E as situações de emergência financeira, como a que vivemos, são ocasiões privilegiadas para fingir que se dispensa a política, em nome da urgência e em nome da tal superioridade técnica, que, porém, esconde sempre uma agenda política – entre nós, cada dia mais evidente. (…)

Os dados das execuções orçamentais de 2011 e 2012 são suficientemente claros para percebermos que o Governo e a troika falharam todas as previsões relativamente ao como e ao ritmo: jamais voltaremos aos mercados, sem assistência, em 2013. O mesmo se constata em Espanha e em Inglaterra, onde outros governos movidos por idêntica fé liberal estão a conduzir os seus países à recessão e à falta de perspetivas.(…)

Entre nós, porém, cada dois meses Vitor Gaspar repete-nos que Portugal está no bom caminho. Está sim: 1500 novos desempregados todos os dias, falências às dezenas diariamente, receita fiscal a cair descontroladamente, projectos úteis para o futuro do país a serem abandonados às cegas e o regresso a um Portugal de emigração que julgávamos morto para sempre. Sim, estamos no bom caminho, mas para as ideias de Vitor Gaspar e deste Governo. Trata-se de desmantelar, não o Estado Social, mas sim todas as funções essenciais do Estado, aquelas em nome das quais somos chamados a pagar impostos; de sacrificar no altar das privatizações a capacidade do setor público ditar regras de concorrência civilizada, ao menos nos sectores essenciais para a salvaguarda da soberania nacional ou para a defesa dos consumidores; de assegurar a desforra e instalar o total arbítrio nas relações laborais.(…)

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