quinta-feira, 5 de abril de 2012

A POBREZA É O NOSSO FUTURO?

Cada vez mais se nota, quer em conversas no dia-a-dia, quer na leitura da imprensa que, pessoas conotadas com a ideologia vigente se encontram numa posição crescentemente crítica relativamente às medidas que o governo PSD/CDS vem tomando face às promessas feitas bem como em relação à problemática que nos envolve. O desemprego aumenta de forma galopante e, o pior de tudo é que se está a perder a esperança. É o próprio FMI que admite, segundo um jornal online, ser “bem possível” que a recessão seja mais profunda. E recessão não rima com criação de emprego e, sem este não há crescimento económico.
O texto seguinte foi recolhido da edição de ontem do “Diário As beiras” e o seu autor é próximo do PSD.

O futuro é coisa do passado
Com mais ou menos meia vida vivida, a acreditar nas estatísticas e na mortalidade do ser humano, com um susto de saúde apanhado, com mais de um quarto do mundo palmilhado e uma vida profissional interessante (mesmo com tentativas alheias de a estragar), só mesmo o patriotismo eleva a minha angústia para patamares reflexivos.
Porém, por ser português e não me ver a ser outra coisa qualquer, não posso deixar de dizer o quanto me angustiam as mais recentes notícias sobre o desemprego e o emprego que resta…
Comecemos pelo primeiro: vejo que Portugal, que até tinha números razoáveis neste capítulo, é o terceiro país na União Europeia com maior taxa de desemprego, com especial relevo para os jovens. Ora, se já era catastrófico o cenário se olharmos o nosso baixo nível de rendimento e à incapacidade das famílias para absorverem mais encargos (sendo que, muitas vezes, já têm que suportar a despesa de alojamento e alimentação de muitos jovens que, aos trinta e qualquer coisa, ainda não conseguem autonomizar-se), somo a isso a frustração de quem passa anos a qualificar-se para uma determinada vocação e que vê cerceado o seu direito a sonhar… Quem, em consciência pode, por exemplo, tirar um curso de Direito e ambicionar ser um advogado de sucesso, ou cursar filosofia e pensar no ensino como uma linha de vida? Não bastava a ausência do mérito como norte da vida portuguesa, junta-se agora a saturação do mercado…
Em trânsito entre a ideia do desemprego e os pensamentos sobre o emprego, mais dúvidas brotam como escolhos deste caminho… Designadamente, como podemos sobreviver com a equação que faz corresponder cortes salariais e crescimento generalizado de preços (gasolina mais cara da UE é insuportável, se virmos que as portagens e os transportes públicos também sobem) e aumento ou não decréscimo de impostos (o acréscimo anunciado do IMI é ameaça para muitos proprietários de uma residência)?
Mais ainda, se a maioria dos trabalhadores aproveita os subsídios de férias e de Natal para pagar o imposto do carro ou o IMI, como ler a notícia de um diário nacional que alvitra a possibilidade de a Comissão Europeia preconizar a abolição definitiva ou a redução graúda dos ditos 13º e 14º mês?
Mesmo sem a mesma agrura, não deixo de procurar imaginar, diariamente, qual o pensamento de quem assiste a tudo isto ganhando o salário mínimo ou pouco mais e tendo os desejos “normais” de um ser humano que não nasceu para se escravo… Será arrogância querer ter uma casa?!... É pecado querer proporcionar uma vida melhor aos filhos, agora que é coisa do passado deixar-lhes algo que não dívidas aos banco?!... Voltámos a Darwin?... (Gonçalo Capitão, jurista)

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