Cada vez mais somos confrontados com um tipo de linguagem proveniente dos nossos governantes que, se estivermos com alguma atenção, constatamos que o seu significado é o contrário daquele que nós conhecemos normalmente. Percebe-se que a intenção é lançar a confusão sobre as populações menos informadas para as manipularem com maior facilidade. Dizer uma coisa e o seu contrário, numa linguagem retorcida, dá muito jeito porque é como se se jogasse com cinquenta números no euromilhões. Acerta-se sempre. Como afirma Pacheco Pereira no seguinte texto que transcrevemos da última edição da revista "Sábado" (19/4) não dizem nada, dizendo, ou dizem tudo, não dizendo.
“Novilíngua” orwelliana
Todos os dias novas palavras e expressões revelam como Orwell foi um verdadeiro precursor a perceber como o poder usa as palavras para mandar. Entre as novas aquisições da “novilíngua” encontra-se o “temporário”, que passou a significar definitivo, e o “ajustamento estrutural excepcional”, signé Vitor Gaspar, uma contradição nos seus termos porque se é “estrutural” não pode ser “excepcional”. Outra é a “restituição intensa” dos subsídios de Natal e férias, expressão utilizada pelo primeiro-ministro. “Intensa” é o quê? Metade, três quartos ou nada? Presume-se que signifique que, em vez de ser “gradual” passe a ser pouco “intensa”. Ilude-se quem pensa que isto são jogos florais. Bem pelo contrário, são jogos de poder, destinados a não dizer nada, dizendo, ou a dizer tudo, não dizendo.
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