quinta-feira, 12 de abril de 2012

O ALARANJAMENTO DO PS

Como escrevia há poucos dias Francisco Louçã em artigo de opinião no Esquerda.net, “o tratado orçamental proíbe os Estados europeus de adotarem políticas anti-crise e, portanto, favorece a destruição da saúde, da segurança social ou da escola pública. Agrava a recessão. Torna-a mais cruel”. Mas o PS vai votar a favor porque está de acordo com tudo embora queira fingir o contrário. E, para isso, inventou a elaboração de uma adenda europeia ao tratado europeu em que defende medidas de carácter económico contra a recessão. Uma adenda que “não existe” e que serve apenas para o PS “salvar a face” entrando numa “mascarada” que não faz nada pelo emprego mas que convém às-mil-maravilhas à direita. É o alaranjamento do PS. Ou, se quisermos dizer se outra maneira, a americanização da política portuguesa em que fica garantido que pouco se altera qualquer que seja o partido que assuma o poder.
Significativa também é a posição de Pacheco Pereira em relação ao Pacto Orçamental, como se pode verificar pelo texto seguinte que hoje assina na “Sábado”. Sem margem para dúvidas. O que se diria se esta opinião fosse emitida por um “radical”?...

Pacto Orçamental e álibi do PS
Ainda estou para perceber a posição do PS quanto ao novo tratado internacional que Portugal vai assinar, o chamado Pacto Orçamental. O dito Pacto é um condensado de tudo o que está errado na actual política europeia, seja pela iniciativa, seja pela intenção, seja pelo método e pelo diktat – tudo inaceitável. Mesmo assim vai ser assinado de cruz pelo Governo e, pelos vistos, pelo PS. O caso da assinatura pelo CDS é de outra natureza, é de falta de vergonha e de memória. Mas, no governo, o CDS costuma ser assim. Lucas Pires e Freitas do Amaral devem sentir-se bem vingados.
O PS como partido mais europeísta do que nacional (como cada vez mais é o PSD), foi pioneiro a assinar de cruz tudo o que era imposto a Portugal, culminando nesse grande sucesso de papel que foi o Tratado de Lisboa. O PS e o PSD (e também o CDS…) contribuíram muito para a deslegitimação da UE quando violaram a promessa de levar o último tratado a referendo, impedindo a última oportunidade, mesmo que ténue e desigual, de fazer uma discussão sobre a deriva antieuropeia em nome do upgrade da Europa. Antes e depois de Lisboa, embarcaram em todos os erros de política europeia que prejudicaram, e muito, a posição portuguesa: enfraquecimento da Comissão, fortalecimento do Conselho e do Parlamento, fim do direito de veto, perda de poder dos parlamentos nacionais, caminho para o directório.
Mas, agora, o novo Pacto ainda vai mais longe na desgraça: institucionaliza a divisão na EU, dá aos directórios os instrumentos para expulsar os países “malcomportados” (Grécia e Portugal são os principais alvos) e impõe institucionalmente as políticas alemãs como políticas europeias. No último caso, vai obrigar Portugal a um longo período de recessão e estagnação, e à menorização de estar sempre “intervencionado”.
O PS tem directa e completa responsabilidade em tudo isto, mas agora vai conhecer a suprema humilhação de ir institucionalizar na lei o oposto de tudo o que pensa sobre a economia, a sociedade e o desenvolvimento. Se voltar a governar um dia futuro, terá de fazer a mesma política que o PSD faz hoje, ou então violar o tratado. Pobre PS!

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