Os
principais responsáveis pelo estado de abandono a que chegou o interior do país
deviam corar de vergonha antes de fazerem um festival de afirmações da mais
elevada hipocrisia no momento em que passou o primeiro aniversário da tragédia de
Pedrógão Grande, que ceifou mais de seis dezenas de vidas. É óbvio que nos
estamos a referir aos partidos que governaram (?) Portugal desde 1976 até 2015,
PS, PSD e CDS os quais não mexeram uma palha para evitar a desertificação que
actualmente se verifica neste país. Aliás, todas as políticas que levaram a cabo
nessas áreas não podiam conduzir a um estado diferente daquele que agora se
verifica.
Depois
das lágrimas de crocodilo agora vertidas, caso venham a assumir funções governativas,
os partidos do antigo “arco da governação” voltarão a tomar as mesmas decisões
nefastas para o interior pois os interesses que defendem continuam a ser os
mesmos. Por isso, é muito importante que se divulguem todas as opiniões que
denunciam essas funestas intenções para que as populações não acreditem em
promessas que nunca serão cumpridas. O artigo de opinião que o advogado Domingos
Lopes assina no “Público” de hoje cumpre exactamente essas funções.
De repente os que têm governado o país descobriram que
o interior está desertificado, sem gente, sem serviços, com a agricultura
abandonada, sem futuro.
É extraordinário. Os que têm governado desde 1976 até
2015 e nunca saíram dos cinquenta quilómetros da faixa do litoral e só agora na
triste luta política em torno dos incêndios, descobriram o interior… Que andou
a fazer Mário Soares? Cavaco? Sampaio? Durão? Guterres? Sócrates? Passos
Coelho?
Alguns fizeram auto-estradas que davam para exportar,
mas os camiões vinham de lá para cá e eram poucos os que iam para lá.
Este modelo de desenvolvimento impulsionado pelo
marcelismo e desenvolvido nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974 é o
responsável pelo estado de coisas atual.
Que bem que fala Fernando Negrão a proclamar a
necessidade de dar atenção ao interior. A viagem dele e dos seus pares devia
ser ao interior das suas consciências e deixar de fazer de conta que o abandono
não é obra sua também.
Mesmo Marcelo Rebelo de Sousa que foi líder do PSD
nunca falou do interior como fala agora. Falhou à frente do PSD. Foi-se. Dava
mergulhos no Tejo para ver se ganhava a Câmara de Lisboa e não mergulhava no
interior. Descobriu-o agora. Mesmo como comentador omnipresente pouco ou nada
falou do interior. Claro, mais vale tarde que nunca. Sem dúvida. Mas caramba,
os filhos têm nome e os pais é que lhes dão os nomes. Este é o tipo de
desenvolvimento que Cavaco apoiou entusiasmado cortar vinhas e olivais, o
abandono do interior. Não há memória? Ponham as mãos no interior das
consciências; deixem-se de pantominices.
A criação de uma burguesia compradora que investiu em
hipermercados e similares levou grande número de agricultores à ruina. Importar
para vender no Pingo Doce, no Continente, no Intermarché, no Mini Preço...
Telefonar, encomendar e vender. Este é o mote. Campanhas publicitárias
agressivas. Grandes promoções. E aqui estamos. Por obra e graça de quem
governou e dos que no tecido económico apoiaram esta política.
É quase como aquelas e aqueles que por tudo e por nada
falam dos valores da família, só que é para família ver, pois os horários de
trabalho, as distâncias entre o local de residência e o posto de trabalho
e os ritmos não deixam tempo para a família. É um faz de conta, tão em
moda neste país a cair para o mar e desertificado no seu interior.
Como se pode imaginar que os jovens fiquem no interior
onde nasceram, se, ali, olhando em volta, só vêem velhice? Se não têm onde
arranjar um emprego digno? Se os municípios são os maiores empregadores… Se até
se fecha estações de correios, e até os balcões da CGD… Se os hospitais estão a
dezenas e dezenas de quilómetros… Se os exames médicos estão à mesma distância,
se a saída é emigrar ou ir para a polícia ou para as Forças Armadas? Como podem
falar em coesão social, se o Estado não investe no interior? Se Bruxelas do
alto do seu potestas não o permite e o governo amoucha porque é assim a
nossa vidinha de mão estendida a ver se este ano, os Comissários, espécie de
sátrapas persas, cortam menos porque, como diz Marcelo, somos bons alunos. E
como disse Santos Silva, devíamos dar graças a Deus porque podia ser pior…
Em breve será muito pior. O número de votos cairá
brutalmente e onde não há votos, não há investimento. Porque falam quando
deviam calar-se no interior da sua vergonha?
É uma dor de alma viajar
para o terreno da solidão dominante. É revoltante querer fazer dessa solidão
dos abandonados, criados por políticas sucessivas rotuladas de sucesso, arma de
arremesso, como no caso dos incêndios. Triste vida. Triste sina.
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