Para
muitos professores, o que agora se está a passar com os ataques de que estão a
ser alvo por parte do Governo faz lembrar o consulado de Sócrates e a
famigerada acção da sua lugar-tenente
para a área da educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Nessa altura, através de
uma manobra propagandística meticulosamente articulada, os professores quase
foram transformados nos principais responsáveis de todos os problemas que
atingiam o país. É bom recordarmos as duas mega manifestações de docentes que
juntaram em Lisboa aquelas que ainda são consideradas as maiores manifestações de
toda uma classe profissional até agora levadas a cabo em Portugal.
Para
muitos – não todos – professores, nada fazia prever que voltássemos a esse
tempos assim como aos que se seguiram com a direita no poder, a fazer a
esmagadora maioria dos portugueses pagar uma austeridade criminosa imposta de
fora mas dilatada cá dentro pelo radicalismo neoliberal que PSD e CDS levaram a
cabo sem apelo nem agravo. As ameaças do actual ministro da Educação, com o
assentimento de António Costa, não auguram nada de bom numa altura em que o PS,
depois de se servir dos partidos à sua esquerda para se manter no poder, pretende
agora afastar-se deles para voltar à sua natureza, aproximando-se de políticas
claramente conotadas com a direita. A recusa da contagem integral do tempo de
serviço dos professores é apenas um exemplo mas há mais, como bem se percebe pelas
dificuldades que Bloco e PC têm tido na aprovação de iniciativas conjuntas.
O
texto seguinte constitui um excelente artigo de opinião em que o advogado
Domingos Lopes toma posição no “Público” de hoje sobre a política governamental
relacionada com a progressão na carreira dos professores.
Como quem não quer assumir, Costa envia sinais de
estar a alterar o rumo da política que segundo ele deu bons resultados, aliás
visíveis por toda a gente, menos por Cristas e Rio.
A austeridade que Passos transformou em eixo da sua
política de empobrecimento está nestes meses de 2018 a emergir e até com o
mesmo argumentário, ou seja, não há dinheiro, o que não é verdade, nem sequer
no anunciado montante referente à despesa com a progressão dos professores na
sua carreira.
Quer Tiago Rodrigues, quer Costa não discutem o
problema com base em qualquer outro fundamento que não seja o da inexistência
dos alegados 600 milhões de euros... Ou seja, atiram para cima de todos os
professores a aleivosia de se quererem apoderar de algo que o país não tem, e
com esse despropósito criar sérias dificuldades em Bruxelas e Berlim onde tudo
se decide. Trata-se de um problema interno, onde os portugueses são relegados
para uma espécie de nativos coloniais que têm na chancelerina e no Président
Macron os seus tutores ou ajudantes da missa como os monsieur Moscovici
e monsieur Dombrovskis, os comissários europeus das Finanças e da
Economia... apesar de por cá o Presidente omnipresente invocar a qualidade de
bom aluno, uma verdadeira junta de freguesia entre o mar e a raia de Espanha.
Os professores são apresentados como uma classe que
não olha a meios para atingir os seus fins e ameaça com greve os pobres dos
alunos, como se os pais dos alunos não tivessem tido a possibilidade de subir
na sua carreira profissional.
Marcelo, Costa, Santos Silva e Centeno, quando se
trata enfrentar Bruxelas pelos cortes brutais nos fundos de coesão, já acham
que menos 7% é bem melhor que menos 14%, como se Portugal se apresentasse à UE
de mão estendida e internamente, diante de uma classe estratégica para o
desenvolvimento do país, de pau em riste. É caso para perguntar: onde está a
paixão pela Educação?
O argumento do bom aluno do Eurogrupo que Marcelo
gosta de invocar serve para tentar meter na cabeça dos portugueses que o terror
austeritário é o único critério para governar e assim manter o país com as
reformas que consistem sempre em cortes na despesa pública, satisfazendo as
novas divindades, os mercados.
A situação acentuou-se desde que Centeno foi levado
para presidente do Eurogrupo, que ninguém sabe bem o que é do ponto de vista
institucional.
Ainda gostava de ver Centeno defender que na Alemanha
o tempo de trabalho dos professores alemães não contava para a progressão na
carreira profissional. Cairia, em Berlim, a torre da televisão na
Alexanderplatz e o rio Spree saía do leito... Até a madame Europa, como
a tratam com toda a sabujice alguns jornalistas, se revoltaria contra tal
despautério.
Claro que para esta elite de cá uma coisa são os
professores da Presidente da Europa e outra coisa são os nossos professores da
Junta de Freguesia de Portugal.
Os professores pertencem a um grupo profissional
absolutamente indispensável para fazer o país progredir, dado o relevo da
educação nas novas condições da produção. Acentua-se, como bem se sabe, a
substituição da produção manual pela altamente especializada
Só através da extensão e sofisticação da educação se
pode chegar ao desenvolvimento económico que o país necessita. Tenha-se na
devida conta que nos países com maior índice de desenvolvimento humano a
profissão de professor é das mais concorridas e prestigiadas.
Só o governo de um país desinteressado nesse tipo de
desenvolvimento ataca os professores no seu conjunto acusando-os de
chantagistas, tentando atirar a opinião pública contra eles, em vez de os
defender.
Se
diante do país o primeiro-ministro acha que não há dinheiro para o direito mais
elementar na vida de um cidadão, forçosamente transmite a ideia que o Estado é
alguém em que se não pode confiar com todas as consequências negativas
advenientes.
Costa
parece estar a absorver a filosofia centeneana que, por sua vez, absorveu a
bruxelense, isto é, a de Portugal não passar de uma junta de freguesia da
Europa alemã.
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