Encarar a segurança como uma resposta de fim de linha, mais do que como
um fundamento da organização social, faz facilmente dela um instrumento do
estado de exceção.
(…)
Muitos dos que argumentaram com a defesa
da segurança das pessoas para criticar a greve dos camionistas, facilmente
aceitaram limitações inaceitáveis ao direito à greve.
(…)
[Um Governo que] mostra toda a
compreensão com jornadas de trabalho absolutamente excessivas dos trabalhadores
que decidiram parar e fórmulas remuneratórias que ludibriam a lei e fogem ao
fisco e à segurança social é um governo que falha no que diz estar a acautelar:
a defesa das pessoas.
Ficou comprovado que são
injustas as condições de remuneração e de trabalho que foram impostas [aos
motoristas de matérias perigosas], bem como à generalidade dos trabalhadores do
setor, ao longo de muitos anos.
(…)
[O Governo] assumiu
excesso de sintonia com a ANTRAM, por vezes dureza gratuita com os trabalhadores
em luta e recorreu aos serviços mínimos e à requisição civil com excessos.
(…)
Aproveite-se a campanha
eleitoral, que até agora é muito pobre, para travar manobrismos perigosos e a
gula do Partido Socialista, para forçar o investimento em setores como o
ferroviário, para assegurar progresso.
A combinação entre o
capitalismo global, o neoliberalismo e a digitalização parece desenhar diante
de nós um sistema social cada vez mais mercadorizado, mas onde a autonomia dos
indivíduos se vê cada vez mais confinada.
Elísio
Estanque, “Público” (sem
link)
A estratégia [do Governo
em torno da greve dos motoristas] era simples: conseguir evitar que a greve
fosse evitada; assustar o país.
(…)
A consequência mais
duradoura e importante deste conflito (…) é a banalização de um precedente
grave contra o direito à greve.
(…)
Há aqui uma violente marca
histórica, vinda de um partido que reclamava a tradição democrática.
(…)
Para criar este precedente
e ganhar a autoridade pública de que o Governo se quer revestir, era preciso
que a greve não fosse evitada e que as partes se acirrassem.
(…)
Quem trabalha no privado
sabe bem como funciona este truque do salério de referência ser insignificante
e ficar na mão dos subsídios vários.
(…)
Os motoristas entraram
logo a perder na disputa da opinião pública.
(…)
Houve mesmo três ministros,
um em cada telejornal, não fosse alguém não perceber.
(…)
O Governo quis comprometer
o Presidente da República e, por isso, requisitou logo a tropa. Sempre dá boas
imagens de televisão.
Francisco
Louçã, “Expresso” Economia (sem
link)
A desproporcionalidade
desta greve, não retirando justiça às suas reivindicações, deu espaço ao
Governo para impor serviços mínimos pesadíssimos e uma requisição civil (…)
previamente decidida como primeiro recurso e aplicada ao fim de 19 horas de
greve.
(…)
O sindicalismo quando fica
na mão de irresponsáveis, enfraquece-se.
(…)
O problema não é o
comportamento do Governo, é sentir-se tão confortável nesse papel. E, como
ficou óbvio para todos, desejá-lo.
(…)
[Toda a esquerda, já deveria
ter iniciado] uma mudança radical no sindicalismo, para o renovar, fortalecer e
proteger de oportunistas.
Daniel
Oliveira, “Expresso” (sem
link)
O conflito laboral dos
motoristas de matérias perigosas era uma bagatela que em três meses de
preparação poderia ter sido negociada ao ponto de evitar a greve.
Pedro
Santos Guerreiro, “Expresso” (sem
link)
Esta greve [dos motoristas] é justa
porque o lucro que as petrolíferas têm justificam os aumentos pedidos.
(…)
Um estado autoritário é uma porta aberta
ao populismo de extrema-direita.
(…)
As greves afetam naturalmente a
população, mas a população, é muito mais afetada pelos baixos salários.
Raquel Varela, “Expresso”
(sem link)
Como foi possível que durante 20 anos o
patronato não tenha aumentado estes trabalhadores [motoristas] ?
(…)
É claro que as empresas transportadoras têm
notórias culpas no cartório.
Nicolau
Santos, “Expresso” (sem link)
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