terça-feira, 20 de agosto de 2019

OPORTUNISMO POLÍTICO A RODOS



A evolução da greve dos motoristas veio mostrar à opinião pública que as tomadas de posição dos principais protagonistas tinham como pano de fundo as próximas eleições legislativas. Houve oportunismo político a rodos em que destacaremos o PS, a direita e o Dr. Pardal Henriques. Por parte do sindicato, assistimos a um processo de luta muito mal conduzido que, até agora, não trouxe qualquer vitória aos seus associados e pressentimos que tal não venha a acontecer, pese embora as justas reivindicações dos motoristas.
A ação musculada do Governo contra os grevistas e claramente ao lado do patronato tem como óbvio objetivo a captação dos votos da direita mas pode ser um tiro no pé do PS porque vem demonstrar que uma maioria absoluta deste partido é de todo indesejável, em particular para a classe trabalhadora. Para aqueles que criaram algumas ilusões sobre o atual PS, estes dias vieram demonstrar que os “socialistas” continuam iguais a si próprios e só não fizeram mais tropelias ao longo deste mandato porque foram travados pelos restantes parceiros do acordo parlamentar, em especial, o Bloco. A tendência natural do PS é para acompanhar a direita caso não seja freado pelo voto dos portugueses.
Pardal Henriques, serviu-se do sindicato para fazer figura de durão, com vista ao seu projeto político.
O grau mais elevado de oportunismo político que a greve dos motoristas trouxe á tona tem a ver com a metamorfose que a direita apresentou através da clara incoerência com as suas posições tradicionais na matéria em causa. A este propósito aqui ficam dois excertos da crónica de ontem de Daniel Oliveira, no “Expresso” Diário.

Mas o mais delicioso foi assistir à autêntica transfiguração da direita mediática portuguesa, que por pouco não reivindicou para si o vocabulário marxista da luta de classes. Não é habitual ver a direita aplaudir uma greve, mas ainda menos comum vê-la aplaudir uma greve por tempo indeterminado por causa de um aumento em 2021. É a mesma direita que costuma rasgar as vestes por qualquer greve de 24 horas para pressionar a uma negociação salarial congelada há anos. Não bate a bota com a perdigota. Nem sequer vou recordar o que disseram e escreveram noutras requisições civis, em greves que não eram por tempo indeterminado nem tinham a capacidade de paralisar toda a economia nacional. Não entro nesse jogo do teu foi pior do que o meu. Fico-me pela incoerência política mais essencial.
(…)
É estranho ver os maiores opositores da contratação coletiva – de tal forma que quase a fizeram desaparecer – apoiarem uma greve para que se reforcem as garantias no contrato coletivo de trabalho num sector que não o renegociava há duas décadas. É estranho ver os mesmos que diariamente defendem a flexibilização das leis laborais a bater-se por muito mais garantias legais para estes trabalhadores. É estranho ver quem quer prémios de produtividade no lugar de rendimento fixo defender a integração de pagamento por quilómetros no salário base. É estranho ver quem costuma defender que os aumentos salariais devem acompanhar a situação económica de um sector e das empresas bater-se por uma greve que quer fechar aumentos salariais para 2021 e 2022. E até houve quem apontasse as baterias ao poder cartelizado das petrolíferas quando foram os maiores defensores dos benefícios para a concorrência da sua privatização.

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