A evolução da greve dos motoristas veio
mostrar à opinião pública que as tomadas de posição dos principais
protagonistas tinham como pano de fundo as próximas eleições legislativas.
Houve oportunismo político a rodos em que destacaremos o PS, a direita e o Dr.
Pardal Henriques. Por parte do sindicato, assistimos a um processo de luta
muito mal conduzido que, até agora, não trouxe qualquer vitória aos seus
associados e pressentimos que tal não venha a acontecer, pese embora as justas
reivindicações dos motoristas.
A ação musculada do Governo contra os
grevistas e claramente ao lado do patronato tem como óbvio objetivo a captação dos
votos da direita mas pode ser um tiro no pé do PS porque vem demonstrar que uma
maioria absoluta deste partido é de todo indesejável, em particular para a
classe trabalhadora. Para aqueles que criaram algumas ilusões sobre o atual PS,
estes dias vieram demonstrar que os “socialistas” continuam iguais a si
próprios e só não fizeram mais tropelias ao longo deste mandato porque foram
travados pelos restantes parceiros do acordo parlamentar, em especial, o Bloco.
A tendência natural do PS é para acompanhar a direita caso não seja freado pelo
voto dos portugueses.
Pardal Henriques, serviu-se do sindicato
para fazer figura de durão, com vista ao seu projeto político.
O grau mais elevado de oportunismo político
que a greve dos motoristas trouxe á tona tem a ver com a metamorfose que a
direita apresentou através da clara incoerência com as suas posições
tradicionais na matéria em causa. A este propósito aqui ficam dois excertos da
crónica de ontem de Daniel Oliveira, no “Expresso” Diário.
Mas o mais delicioso foi assistir à autêntica
transfiguração da direita mediática portuguesa, que por pouco não reivindicou
para si o vocabulário marxista da luta de classes. Não é habitual ver a direita
aplaudir uma greve, mas ainda menos comum vê-la aplaudir uma greve por tempo
indeterminado por causa de um aumento em 2021. É a mesma direita que costuma
rasgar as vestes por qualquer greve de 24 horas para pressionar a uma
negociação salarial congelada há anos. Não bate a bota com a perdigota. Nem
sequer vou recordar o que disseram e escreveram noutras requisições civis, em
greves que não eram por tempo indeterminado nem tinham a capacidade de
paralisar toda a economia nacional. Não entro nesse jogo do teu foi pior do que
o meu. Fico-me pela incoerência política mais essencial.
(…)
É estranho ver os maiores
opositores da contratação coletiva – de tal forma que quase a fizeram
desaparecer – apoiarem uma greve para que se reforcem as garantias no contrato
coletivo de trabalho num sector que não o renegociava há duas décadas. É
estranho ver os mesmos que diariamente defendem a flexibilização das leis
laborais a bater-se por muito mais garantias legais para estes trabalhadores. É
estranho ver quem quer prémios de produtividade no lugar de rendimento fixo
defender a integração de pagamento por quilómetros no salário base. É estranho
ver quem costuma defender que os aumentos salariais devem acompanhar a situação
económica de um sector e das empresas bater-se por uma greve que quer fechar
aumentos salariais para 2021 e 2022. E até houve quem apontasse as baterias ao
poder cartelizado das petrolíferas quando foram os maiores defensores dos
benefícios para a concorrência da sua privatização.
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