Quando se ouve qualquer personalidade
mais ligada aos ditames governamentais sobre a austeridade, percebemos logo que
a vida dos portugueses tem de se orientar exclusivamente para o pagamento da
dívida e para a satisfação da vontade dos mercados. As pessoas passaram,
segundo estas orientações, a ser uma espécie de empecilhos, ainda por cima com
necessidades como as de comer, vestir e calçar como soe dizer-se.
Os recentes dados fornecidos pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE) vieram confirmar aquilo que é uma evidência
para toda a gente que está mais atenta ao que se passa em Portugal – o país
está a empobrecer a olhos vistos e a desigualdade na distribuição dos rendimentos
também se acentua dia a dia. Muita gente tem consciência disto, mas a
propaganda governamental e dos seus acólitos impede que esta informação chegue
com a necessária continuidade a todos os portugueses. É por isso que todas as
oportunidades não são demais no sentido de se esclarecer as pessoas sobre o
logro perpetrado pelo Governo.
O texto seguinte (*) é muito esclarecedor
nesta matéria e de leitura muito simples. Foi transcrito do Público de hoje.
O INE publicou os dados
referentes às condições de rendimentos dos portugueses, a partir de dados de
2012 e das condições vividas em 2013. O INE mostrou, porém, um painel social
evolutivo extremamente negativo. O País está mais pobre. O País está mais desigual.
As condições de vida, então, nos patamares sociais mais baixos, degradou-se
significativamente.
Os números demonstram ainda
uma outra realidade, o papel significativo do Estado Social na redução da
pobreza. Sem transferências sociais e pensões, em Portugal, em 2013, haveria
quase metade da População em estado de pobreza (46,9%). Desde 2010, o valor agravar-se-ia
4,5 pp (500 mil pessoas). As transferências sociais e as pensões reduzem assim
os pobres para um terço.
Em 2013, o País tem, após as
pensões e as transferências sociais, 18,7% de pobres, cerca de 1,9 milhões de
pessoas. Este valor, há um ano, estava em 17,9%. Só num ano mais 80 mil pessoas
foram colocada adicionalmente em situação de pobreza.
Pela primeira vez, nos
últimos anos, inverteu-se a tendência de diminuição deste problema. As medidas
tomadas e o sentido do ajustamento têm agravado então significativamente a
pobreza.
Pode-se argumentar que seria
inevitável, pela redução do crescimento económico, inerente à austeridade.
Mesmo não discutindo a intensidade, o montante e o tempo da austeridade,
lembra-se aqui que a pobreza, nesta abordagem do INE, é definida relativamente.
São pobres o que tem menos de 60% do rendimento mediano, logo a redução do PIB,
se mantivesse tudo constante, não aumentaria a pobreza.
Caso se corrija, porém, o
efeito da diminuição da riqueza nacional, inerente à austeridade, então o
impacte é dramático. Se se ancorar o limiar de pobreza com o valor de 2009, por
exemplo, o limite para se considerar uma pessoa pobre teria de estar, em 2012,
em 5.624€, por ano, quando foi colocado agora em 4.904€ (em 87% daquele valor).
Se se ancorasse o limiar de pobreza ao valor de 2009 teríamos agora mais 6 pp
de pobres (mais 600 mil pessoas).
Mas não foi só a pobreza que
se agravou. Foi a desigualdade social, isto é, a assimetria na distribuição de
rendimentos. Entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres há agora uma
diferença de 10,7 vezes, quando em 2011 estava em 10. Por outro lado, intra
pobres, o rendimento médio baixou face ao limiar, com um agravamento em mais 3
pp (afetando mais 300 mil pessoas). A população com privação material severa,
isto é, com exclusão de consumo em mais de quatro items de bens fundamentais,
aumentou para 10, 9%, mais 2,3 pp (mais 230 mil pessoas).
Por fim, dado interessante na
discussão sobre o salário mínimo, em Portugal, trabalhar não significa,
necessariamente, deixar a pobreza. Cada vez mais, muita gente que trabalha é
pobre. Subiu esta proporção de 9,9 para 10,5% as pessoas empregadas e pobres.
Em síntese, o caminho vivido
na nossa sociedade dificilmente pode ser lido como positivo.
(*) Francisco
Madelino, Economista no ISCTE
Sem comentários:
Enviar um comentário