Durante o debate quinzenal desta semana, o
primeiro-ministro abespinhou-se muito, com Catarina Martins, a líder bloquista,
por ela afirmar com desassombro que a palavra do chefe do Governo não vale
nada. Ela não fez mais do que dar voz àqueles que, há muito, deixaram de
acreditar nas promessas de Passos Coelho. Aliás, o homem da rua simplifica a
expressão de Catarina Martins numa palavra apenas: mentiroso. Quem falta à
verdade de forma reiterada e consciente não pode ser classificado senão como
mentiroso. A intenção da maioria de direita é muito clara no sentido do
empobrecimento generalizado dos portugueses, cujas camadas mais pobres estão a
ser severamente atingidas. Mas não é isso que nos tem sido transmitido, numa
tentativa de mascarar a verdade, de um modo particular com a aproximação de
actos eleitorais. Depois de os votos caírem nas urnas, lá vem a crua realidade
com mais uma colossal dose de austeridade a juntar à desgraça que já nos
atingiu.
Tendo em atenção que as eleições para o
Parlamento Europeu estão à porta, os portugueses precisam estar cada vez mais
atentos aos cânticos de sereia vindos da parte do Governo que usará todos os
estratagemas e papagaios às suas ordens, para nos convencer de uma realidade
diferente daquela que está à vista de todos. Por isso, é muito importante
conhecermos a opinião de pessoas insuspeitas de qualquer radicalismo nas suas
fortes críticas à maioria de direita e ao seu chefe. É o caso deste pequeno
texto de Nicolau Santos que recolhemos do Expresso Economia de ontem.
Desde 2011 que
o primeiro-ministro afirma que os cortes salariais e pensões e os aumentos de
impostos são provisórios, temporários, excecionais. Desde 2011 que o primeiro-ministro
vende esta versão aos portugueses e ao Tribunal Constitucional, para este não declarar
inconstitucionais estes cortes. Desde 2011 que o primeiro-ministro dá a
entender que estes cortes provisórios, temporários, excecionais têm um horizonte:
o final do programa de ajustamento. Pois, esta semana, o primeiro-ministro foi
claro: os salários e pensões não voltam aos níveis de 2011 – embora os cortes
salariais na função pública sejam temporários. Deixo para os leitores o
qualificativo a atribuir a uma pessoa que durante três anos diz uma coisa e
depois faz outra. Deixo para os crentes a ideia de que os cortes salariais na
função pública são temporários. Olho apenas para os números: mais de meio
milhão de salários penhorados por dívidas fiscais em 2013 num universo de cerca
de 5 milhões de trabalhadores por conta de outrem. Se isto não é um enorme
drama social não sei o que é.
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