sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A DIREITA EM PALPOS DE ARANHA…


Em Portugal a direita e muitos dos seus representantes na opinião publicada andam desnorteados. De tal modo assim é que se vêem em palpos de aranha para encontrar temas com conteúdo que possam apresentar perante os portugueses. Vai daí, agarram-se ao primeiro osso que aparece, por mais rapado que esteja… Um deles é o que se relaciona com a CGD e o outro, que vai esgotar-se mais depressa, tem a ver com o falecimento de Fidel Castro. No entanto, muitos portugueses não têm a memória curta e, com facilidade desmontam as actuais contradições da direita no que diz respeito a um passado relativamente recente. É o caso de Francisco Louçã no texto desmistificador que assina no Público de hoje. Como muito bem Louçã afirma a certa altura, “o problema da direita com Fidel não é a democracia, é flutuarem no tempo ao sabor dos ventos e da vontade de ajustes de contas caseiros”.
Escreveu altivamente um editorial: “um ditador é um ditador”. Já outros tinham sentenciado, naquele estilo marrão que faz títulos sumarentos: “um ditador é um ditador é um ditador”. Não discutam, a história não conta, caluda. Mas os jornais mandaram correspondentes a Cuba para exuberantes reportagens acerca do funeral de Fidel Castro, no meio de páginas de evocação heróica. Se tudo é igualmente indiferente, tiveram também um correspondente no funeral de Pinochet e enalteceram a sua história?
A SIC, a TVI e a RTP passaram horas de directos com a caravana que levou a urna pelas estradas de Cuba. Fizeram o mesmo quando morreu Pinochet e elogiaram os seus feitos no Chile?
Marcelo Rebelo de Sousa apresentou a Cuba as condolências de Portugal. O Presidente de então fez o mesmo com Pinochet, também ele ex-presidente de um país com o qual Portugal tem relações diplomáticas?
O Presidente português visitou Cuba e insistiu em ter um encontro com Fidel, apimentado com fotografia. Algum enviado português foi a casa de Pinochet, nem que fosse um cônsul, para tirar uma selfie e publicar no Facebook uma foto sorridente dos dois?
O governo faz-se representar no funeral de Fidel por um ministro. O governo de então enviou um ministro ou qualquer representante de Estado ao funeral de Pinochet, ou sequer uma coroazinha de flores?
O Papa enviou mensagem de pesar. Rajoy e Juncker, chefes da direita europeia, elogiaram a “figura de importância histórica” e que foi “herói para muitos”. Esqueceram-se de fazer o mesmo com Pinochet?
Os partidos aprovaram no parlamento dois votos de pesar. Ocorreu-lhes votar tal pesar quando Pinochet morreu?
Ninguém se lembra mas, já ex-presidente, Pinochet visitou Portugal para intermediar um assunto de compra e venda de armas, tendo sido alvo de manifestações populares, não constando que os negociantes tivessem conseguido mexer um dedo para o defender (foi no tempo de um governo PS). Em contrapartida, toda a gente se lembra que quando Fidel veio a Portugal foi uma festa popular. Os dignitários dos partidos de direita acotovelavam-se nas cerimónias para o cumprimentar. Muitos dos que agora o insultam lá andaram ao beija mão.
A comunicação social, o Presidente, o governo e os partidos, o Papa e as autoridades europeias sabem que só um sonso compara Fidel a Pinochet e não caíram nessa esparrela, que ficou reservada para os ideólogos.
Mas os ideólogos rasgaram as vestes, indignados com tudo. Indignados com o PSD, que se absteve. Indignados com o CDS, que fez de conta. Indignados com o Presidente, mas disso não convém falar. Indignados com o governo, mas está em alta. Indignados com a história, porque a derrota dos sul-africanos em Angola é uma mágoa abissal. Indignados com a perda, que os casinos em Havana eram do melhor. Tudo o resto é instrumental: Marques Mendes critica o seu partido tanto por não ter candidatos autárquicos como por não recusar o voto de pesar, afinal é Passos Coelho o seu alvo e vale tudo; o ex-director do Expresso critica quem não demonizou o homem, não abra por favor o jornal que encontrará encómios abundantes sobre o dito cujo. Nenhum deles está a analisar quem foi Fidel, nem muito menos a discutir a história de Cuba, estão somente a escrever sobre as disputas mais comezinhas que os ocupam. O problema da direita com Fidel não é a democracia, é flutuarem no tempo ao sabor dos ventos e da vontade de ajustes de contas caseiros.
No mais, seguem Trump, a nova luz no firmamento da direita. Aprenderam com ele que disparar mais depressa do que a própria sombra é a política desejável. Pensar, nunca, e muito menos compreender (se quiser ler, em alternativa, um artigo informado e inteligente de opositores de Fidel, abra aqui).
Se não quiser analisar os factos, não há história, fica a ideologia, ou um molde universal que explica tudo porque não sabe nada. O mais certo é que na direita se continue assim, parece que ficam felizes com tão pouco.

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