Um grupo de personalidades ligadas à
cultura e à educação decidiu publicar um Manifesto
pela Democracia nas Escolas o qual “pretende
lançar o debate sobre o modelo de direcção e gestão dos estabelecimentos de
ensino, do pré-escolar ao secundário”.
É com todo o gosto que aqui deixamos o
teor do manifesto retirado do Público de hoje, dando assim a nossa modesta
contribuição para a sua divulgação.
Este ano
comemoramos quarenta anos da aprovação da Constituição da República Portuguesa
e trinta anos da Lei de Bases do Sistema Educativo, documentos estruturantes da
nossa Democracia.
Com o 25
de Abril, em todo o território nacional, as escolas foram, com dinâmicas e
especificidades várias, um dos espaços onde de forma mais expressiva e alargada
se aprendeu e viveu a experiência da participação democrática. Esse caminho de
aprendizagem envolveu todos os seus actores – docentes, alunos, pais e
encarregados de educação, funcionários, cidadãs e cidadãos empenhados – e
teve os seus momentos altos, oscilações e também desencantos.
Depois
de uma inovadora e inédita experiência de autogestão, o modelo de gestão
democrática das escolas foi adquirindo maturidade, designadamente através da
eleição dos Conselhos Directivos e do envolvimento dos diferentes actores
educativos.
Apesar
dos princípios consagrados na Lei de Bases dos Sistema Educativo, assistimos a
uma crescente desvalorização da cultura democrática nas escolas e à anulação da
participação colectiva dos professores, dos alunos e da comunidade educativa.
Verifica-se, pelo contrário, uma tendência para a sobrevalorização da figura
do(a) director(a) de escola ou de agrupamento de escolas, sendo, ao mesmo
tempo, subalternizado o papel de todos os outros órgãos pedagógicos, e
desencorajada a participação de outros elementos da comunidade escolar. Esta
situação é igualmente reveladora da erosão da identidade de cada escola quando
esmagada pelo peso da estrutura de direcção unipessoal de governo dos
agrupamentos.
Quatro
décadas passadas, vale a pena continuar a lutar pela Escola Pública, enquanto
lugar de aprendizagem para todas e todos e paradigma de construção de uma
cidadania democrática. A Democracia é o pulmão do nosso Estado de Direito, não
deve ser apenas ensinada pelos manuais, mas exercida e vivida em cada espaço
colectivo, a começar pelo trabalho quotidiano das turmas de cada escola.
Quanto
mais democrática, participativa e inclusiva for a Escola, melhor será o futuro da Democracia.
Neste sentido, lançamos um apelo para um amplo debate por um
modelo de direcção e gestão alternativo, condição de uma Escola Pública com
qualidade democrática, científica e pedagógica, capaz de compatibilizar os
desafios da aprendizagem para todos e todas com práticas inovadoras de
cidadania crítica e emancipatória.
Os/As subscritores/as:
Alexandra Lucas Coelho -
Escritora
Almerindo Janela Afonso –
Professor Associado na Universidade do Minho. Presidente da Sociedade Portuguesa
de Ciências da Educação. Membro do Conselho Nacional de Educação
Ana Benavente –
Socióloga. Professora Catedrática. Ex-Secretária de Estado da Educação
António Teodoro –
Professor Catedrático na Universidade Lusófona. Ex-Secretário-geral da FENPROF
Bárbara Bulhosa –
Diretora da editora Tinta da China
David Rodrigues –
Presidente da Pró-Inclusão-Associação Nacional de Docentes de Educação
Especial. Conselheiro Nacional de Educação
Fátima Antunes –
Professora Associada do Instituto de Educação da Universidade do Minho
Dulce Maria Cardoso –
Escritora
Inês Pedrosa – Escritora
Jacinto Lucas Pires –
Escritor
João Cortes –
Director do Agrupamento de Escolas Gil Vicente, Lisboa
João Jaime Pires –
Director da Escola Secundária Luís de Camões, Lisboa
Joana Mortágua –
Deputada
Licínio Lima –
Professor Catedrático do Instituto de Educação da Universidade do Minho
Lurdes Figueiral –
Presidente da Associação de Professores de Matemática (A.P.M.)
Manuel Sarmento –
Professor Associado com Agregação no Instituto de Educação da Universidade do
Minho
Maria do Rosário Gama –
Professora do ensino secundário aposentada, ex-directora da Escola Secundária
da Infanta D. Maria, Coimbra
Maria Emília Brederode dos
Santos – Pedagoga. Ex-Presidente do Instituto de Inovação Educacional. Membro do
CNE
Maria Emília Vilarinho –
Professora Auxiliar no Instituto de Educação da Universidade do Minho
Paulo Peixoto –
Sociólogo. Investigador. Coordenador do Observatório das Políticas de Educação
e Formação do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra
Sérgio Niza –
Pedagogo, fundador Movimento Escola Moderna, membro do CNE
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