Passa
hoje exactamente o 31º aniversário do gravíssimo acidente nuclear de Chernobil
e talvez seja avisado recordar para as gerações mais novas esta terrível data na
qual fica inscrito um dos acontecimentos igualmente mais terríveis para a
história da humanidade. Por isso, o título 26
de Abril de 1986. Nunca o esqueceremos! que António Eloy, coordenador do
Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) escolheu para o artigo de opinião que
escreveu para a última edição do Expresso não podia ser melhor.
É
esse mesmo artigo que aqui vamos deixar na íntegra, não só para assinalar uma
data que precisa ser mantida bem viva mas também para alertar consciências para
o que se passa aqui bem perto de nós no que diz respeito à central nuclear de
Almaraz.
Vivia-se na então URSS ainda no mito da sociedade
perfeita, na alta capacidade da dita revolução técnica e científica e do homem
novo.
Sabemos que assentava em pés de barro. No secretismo,
na falta de informação ou na sua sonegação. Na falta de liberdades públicas e
num regime que se baseava em clientelismos e compadrios, sem cultura de
inovação nem de competição.
Sabemos que o dito homem novo não era senão um
determinismo social e motivado por estímulos e não qualquer ilusão no
horizonte.
Já na era de Gorbatchov a sociedade soviética
preparava-se para a desagregação e a emergência de máfias, já em gestação, e o
regresso do populismo czarista que tinha sido a dominância depois da revolução
capitalista que derrubou o czar e instalou “os sovietes mais a eletricidade”
que nunca foram senão a ditadura do grupo, ou mesmo do individuo, que se alapou
com a máquina czarista, travestida com outro nome e com a expropriação
primitiva das terras para acumulação, para a nomenclatura, das mais-valias.
Mas chegamos ao 26 de abril de 1986. Gorbatchov
tentava salvar um sistema moribundo mas não esperava o que lhe caiu em cima.
Um grave, muito grave acidente nuclear, que como era
habitual se tentou escamotear durante algum tempo. Só quando na Suécia se
verificaram altos níveis de radiação e fecharam todas as suas centrais se soube
o que se tinha passado. Um acidente considerado impossível, a explosão de um
reator nuclear.
Ainda hoje continua o segredo imposto sobre os
impactos da radiação na Ucrânia, Bielorrússia e Rússia, ainda hoje a catástrofe
continua, ainda hoje milhões continuam a poder sofrer as consequências, muitos
milhares já não estão para contar, o que hoje também sabemos pelos magníficos
livros da Nobel Svetlana Alexievich.
E ainda hoje parece que nada ocorreu para as empresas
que continuam, apesar dos acidentes anteriores em Semipalatinsk, Harriburg ou
posteriores em Fukushima, e de tantos, tantos outros que quase diariamente
ocorrem em alguma das cerca de 400 centrais em todo o mundo.
A nuclear, além das centrais tem um longo historial de
contaminação radioativa, desde as bombas de Hiroxima e Nagasáqui, a
Semipalatinsk, aos locais de mineração ou de cemitérios nucleares, muitos nos
mares, ou ao urânio enriquecido usado como perfurante e que já, tal como as
bombas, já mataram cidadãos nacionais.
Mas hoje voltemos a Chernobil, no seu aniversário.
Milhares de mortos depois, segundo registos de ONG que não têm as restrições da
OMS que só conta os diretamente falecidos, uma zona imensa em continuação de
restrição total (apesar de exploração do horror por “turismo” de aventura) e
continuam a vender-nos que não há riscos, que fiquemos sossegados.
Nas sete centrais nucleares ibéricas em funcionamento,
quase todas a chegar aos quarenta anos, mais de 10 da sua estimativa de vida
inicial, o risco é geometricamente crescente. Os problemas, as falhas, as
paragens “técnicas” as omissões, os segredos e as mentiras fazem parte do dia a
dia.
As empresas titulares compram ou influenciam de forma
insidiosa as autoridades, o Conselho de Segurança Nuclear, a sua administração
política, não tem a mínima competência para (contrariando os pareceres dos
técnicos!) dar luz verde a uma continuação de uma atividade industrial que além
de desnecessária coloca em risco a nossa vida.
Hoje lembramos Chernobil. Porque temos Chernobil aqui,
aqui ao pé de nós.
Vamos fechar Almaraz e todas as demais (centrais).
Vamos levar o tema à Cimeira Ibérica, vamos manifestar-nos em Madrid no dia 10
de junho. Não, não nos vamos calar!
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