O
capital financeiro forma o mais poderoso estado a nível global e o mundo todo
constitui o seu território. Atravessa regimes mas aquele com que claramente se
dá menos bem é a democracia. De qualquer maneira, colocando os seus peões nos
sítios certos, acaba por atingir os objectivos pretendidos, sem parecer
atropelar significativamente a lei. Sublinhe-se “parecer”. Vão conseguindo
enganar muita gente ainda que a ganância desmedida comece a ser um sinal de
alarme para alguns, até agora, distraídos. De qualquer maneira, o poder do
dinheiro e os desmandos que, em número crescente, provoca por todo o planeta, ainda
parece encontrar-se num patamar impossível de ser travado.
Neste
momento, a acção dos mais conscientes do nocivo poder do capital financeiro
deve ir no sentido de o denunciar perante a opinião pública como acontece no
seguinte artigo (*) que transcrevemos do Diário de Coimbra da passada
quinta-feira (06/04/2017).
Hilariante,
espantoso, orgia financeira ou o poder do dinheiro numa sociedade do
espectáculo com os cidadãos contaminados por uma tecnologia que tende a
submergir o real pelo virtual, num convite expresso à ilusão, à aparência e ao
abandono da profundidade dos factos.
Esta
afirmação ocorreu-me ao proceder a uma atualização de informação na área
financeira, onde fui, de imediato, confrontado com dados fornecidos pelo Banco
Central Europeu (BCE).
Assim,
fiquei a saber que, desde Setembro de 2014 e em doze operações distintas, o BCE
forneceu aos bancos €834 mil milhões (mM), a última das quais ainda no mês passado
de 234 mm, com taxas nulas ou negativas (-0,4%) aos 473 estabelecimentos
bancários que lhe bateram à porta, mais para “tapar buracos” do que financiar a
economia e os seus agentes.
Aqui
ao lado, o Banco de Espanha veio agora reconhecer que deu instruções, entre
2007/13, para que as entidades de crédito pudessem dissimular o “efeito
destruidor da sua situação interna, diferindo as correções necessárias para
depois”, provocando uma certa indignação social – não no aparelho do Estado – e
que um editorial do diário “El País” deu eco ao exigir uma “explicação imediata
da supervisão e da inspeção para evitar os motivos crónicos de debates e do
descrédito”.
Em
Alicante, técnicos do ministério das finanças espanhol, reunidos no seu XV
congresso nacional (GESTHA), revelaram que funcionários, ocupando os mais altos
cargos da função pública com salários entre os €75/110 mil euros/ano, se
transformaram em docentes, entre seminários, colóquios, e, até, cursos de
mestrado para assessores de fundos internacionais e membros dos grandes
gabinetes de advocacia, para “ensinarem” os melhores caminhos para iludirem os
impostos e/ou evitarem medidas fiscais penalizadoras para os clientes.
O
encontro decorreu há precisamente uma semana, num quase obscurantismo
mediático, mas soube pelo “economiadehoy.es”, que a questão irá ser apresentada
no parlamento, ainda este mês e em formato de petição, para punir aqueles que
continuam a utilizar o poder discricionariamente, caminho perigoso para uma
vivência em democracia, como quotidianamente constatamos.
Regressando
ao nosso admirável mundo retangular, eis-nos perante a revelação do Banco de
Portugal ter gasto €13mM, só entre 2007/15, para “ajudar a banca”, quando o
país é informado que o Grupo Espírito Santo existe por uma permanente emissão de
obrigações e outras versões do capitalismo financeiro durante treze anos, sem
que o Banco de Portugal tenha farejado qualquer sintomatologia de uma doença
letal.
É
mister sublinhar e a procissão ainda vai no adro, que esta intervenção representa
uma percentagem de quase 7% do PIB – Espanha 4,2% - só inferior à Grécia, Itália
e Irlanda, indicador que não pode ser um esconderijo para a quebra das condições
de vida da grande maioria dos portugueses e da degradação do que ainda se
designa por serviços públicos.
Assisti
até a paciência se esgotar, pelo nosso canal parlamentar televisivo, à interpelação
do governador do nosso banco central, pelos deputados da comissão de Orçamento
e Finanças, Carlos Costa, entre outras revelações (!), garantiu que pretendeu
afastar Ricardo Salgado, desde Janeiro de 2014, mas que lhe faltava a fundamentação
legal para avançar com a retirada de idoneidade ao ex-lider do BES. Uma coisa é
a convicção – precisou – e, outra, é eu ter fundamentação e segurança jurídica
para a decisão.
“Não
existem motivos que comprometam a segurança dos fundos confiados ao BES, pelo
que os seus depositantes podem estar tranquilos”, eis o último parágrafo do
comunicado da responsabilidade do senhor governador, emitido em 11 de Julho de
2014 e que eu volto a sublinhar. Ele(s) lá continua(m) e nós também. Afinal,
tudo bem.
(*) João
Marques, diplomado em Ciências da Comunicação
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