A
primeira visita de Trump ao estrangeiro não poderia ser mais significativa sobre
a mensagem que o presidente do país mais poderoso do mundo pretende transmitir
relativamente às suas intenções futuras. Na realidade, visitar a Arábia Saudita,
Israel e participar na nas Cimeira da NATO em Bruxelas, e na do G7 em Itália,
tem tudo a ver com uma tentativa de afirmação de poderio económico mas
sobretudo militar a nada com a busca de “esperança” de paz no médio Oriente
que, em vão, o farsante pretende transmitir à comunidade internacional. A
visita ao Vaticano serve apenas de disfarce.
A
primeira prova das reais intenções de Trump ficou marcada com a maior venda de armas de sempre na história dos Estados Unidos, no valor de 100 mil milhões dedólares, sendo o comprador, nem mais nem menos que a Arábia Saudita, o
principal financiador do terrorismo islâmico à escala global. Não nos poderemos
admirar, pois, que um dia destes, cidadãos europeus venham a ser assassinados
por terroristas portadores de armas americanas…
Em
matéria de direitos humanos, é do conhecimento geral que a Arábia Saudita é uma
monarquia absoluta, com tudo o que de pior isto significa mas este é (a par da
visita de Trump a Israel) o tema que Domingos Lopes aborda no artigo de opinião
seguinte que transcrevemos do Público do passado sábado.
Ninguém duvidará que a primeira viagem
ao estrangeiro de Donald Trump, o Presidente do país mais poderoso do mundo,
foi objeto de consideração ponderada dos mais diversos pontos de vista. É de
presumir, não obstante a confusão que vai reinando na Casa Branca, que a viagem
tenha sido analisada ao pormenor mais ínfimo. Segundo as mais recentes
notícias, chamou Kissinger e uns tantos experimentados na diplomacia, tal é o
medo de um espalhanço à Trump.
E, na verdade, olhando para a saída de
Trump, não foi por acaso que ele escolheu a Arábia Saudita e Israel. Está-lhe
no talhe. Vai participar na Cimeira da NATO na Bélgica e do G7 na Itália,
seguindo depois para o Vaticano (um Estado muito especial). A participação nas
Cimeira da NATO em Bruxelas e na do G7 em Itália era quase obrigatória e não se
destina a visitar os países onde decorrem, mas a assistir às reuniões magnas
daquelas organizações.
Na verdade, a Arábia Saudita, o reino
absolutista e impiedoso, tinha de ser o primeiro a ser visitado pelo
multibilionário Trump, que pertence à estirpe (em matéria de riqueza, pois no
resto a origem social é bastante plebeia) da igualmente bilionária família real
Saud.
Ao país onde as mulheres não têm o
direito a decidir os cuidados médicos de que necessitam, sendo os homens
(marido, irmão, tio, familiares) que decidem o que o médico deve fazer,
escondendo muitas vezes que a decisão de não intervir cirurgicamente significa
a morte.
Ao país de homens que pretendem
enclausurar as mulheres nos serralhos que constroem para que elas não conduzam,
para que não caminhem sem companhia masculina, para que se não misturem nos
estabelecimentos de ensino e nos transportes.
Ao país em que as mulheres são
controladas desde o nascimento à morte pelos homens, não sendo seres portadores
de todos os direitos que os humanos detêm.
Ao país que sofre por falta de carrascos
que decapitem os condenados à morte na alvorada das sextas-feiras, dia santo
para os muçulmanos.
Ao país em que os cristãos e outros
crentes não têm o direito de construir qualquer espécie de templo.
Ao país em que as salas de cinema estão
proibidas.
Ao país que só no último ato eleitoral
permitiu que, em certos círculos, as mulheres se pudessem candidatar, mas como
não podem andar sozinhas não puderam fazer campanha e as que usam burka
não se sabia quem eram... por estarem tapadas, obrigatoriamente enclausuradas
no próprio vestuário. Sem personalidade.
Ao país que aplica a versão mais dura e
brutal do islão que a aproxima dos jihadistas do Daesh, que conta com apoios
diversos, pelo menos, de gente importante daquele país.
Ao país que, para além de possuir
dinheiro como cisco, nas mãos de uns tantos multibilionários, tem a gula de
controlar o Golfo e os países vizinhos.
Ao país que há mais de dois anos
bombardeia o Iémen para que os seus protegidos fiquem com o poder e o velho
berço da civilização árabe fique totalmente à sua mercê, ocupando-o se
necessário for ou engolindo uma parte rica em petróleo, apesar dos poços que
possui.
Trump, depois da Arábia Saudita, vai
para Israel, um país que ocupa territórios da Palestina, e que quer tornar essa
ocupação perpétua, assim como ocupa os territórios sírios — os Montes Golan.
Ao país que foi diversas vezes condenado
no Conselho de Segurança da ONU e relativamente ao qual há resoluções que
desrespeita há décadas.
Ao país que prossegue a construção de
colonatos, condenada pelo Conselho de Segurança da ONU, que se insere exatamente
na estratégia de impedir que a Palestina se torne independente, como é
reclamado por toda a comunidade internacional.
Ao país que também é governado por uma
extrema-direita que engloba partidos políticos e correntes religiosas
ultra-ortodoxas que querem impedir os elevadores de funcionar ao sábado porque
o sábado se fez para descansar, de acordo com o Génesis.
Trump é um entusiasta de Netanyahu e,
por isso, a sua eleição gerou um enorme entusiasmo em Telavive. É, entre o
monarca absoluto saudita a quem vai vender armas e tratar de outros negócios e
o Netanyahu da extrema-direita de Israel a quem prometeu todo o apoio, que
Trump se sente bem. Um esmaga, no seu reino de sabres decapitadores, mulheres e
a população; o outro esmaga os palestinianos, prendendo-os aos milhares e
matando-os.
A visita ao Papa não passa de um manto
para esconder a verdadeira natureza da viagem a estes países. Ou, face à
formação de Trump, admite-se que nunca tenha lido uma palavra do que Francisco
anda a pregar sobre as injustiças, a paz, os emigrantes, os muros e as
alterações climáticas, ou a ida ao Vaticano não passa de um biombo para
esconder o significado das idas à Arábia Saudita e a Israel.
As viagens à Arábia Saudita e a Israel
confirmam a sua atração pela extrema-direita em detrimento da paz e do primado
do direito internacional. Olhando para estas primeiras viagens de Donald Trump,
poder-se-á dizer “diz-me para onde viajas, dir-te-ei quem és”... E, por isso,
começa pelo país dos sabres. Com dificuldades em manter o lote de carrascos.
Tal é a força do reino contra o tempo.
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