De uma longa entrevista a Marisa Matias publicada
na edição de fim-de-semana do jornal i desta sexta-feira retirámos as seguintes
afirmações da eurodeputada do Bloco de Esquerda:
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Gosto de pensar que continuo amiga e a conhecer as pessoas da minha aldeia.
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Embora ache que não é preciso ser pobre para perceber a pobreza, não é preciso
ser mulher para perceber a desigualdade entre homens e mulheres.
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O discurso do Papa no Parlamento Europeu foi provavelmente dos discursos mais à
esquerda que aquele parlamento alguma vez teve oportunidade de ouvir.
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Revejo-me muito naquilo que o Papa disse.
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Os democratas cristãos, já praticam pouca democracia e ainda menos o
cristianismo.
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Quando muita gente confunde islamismo com fundamentalismo, e este com
terrorismo, está a proceder a uma simplificação que depois é usada para outros
fins.
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[Na Síria] não vejo nenhum outro caminho sem ser uma solução política.
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Dito isto, não creio que haja nenhuma solução política sem sentar toda a gente
à volta da mesa e negociar, incluindo Bashar al-Assad.
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Os grupos terroristas têm armas porque são armados; se são armados é porque alguém
lhes deu essas armas. E toda a gente sabe qual é o papel da Arábia Saudita
nestes conflitos e o seu apoio a grupos armados, muitos deles ligados à Al-Qaeda.
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Eu apresentei duas vezes no Parlamento Europeu a proposta de que houvesse
embargo de venda de armas a terroristas. Essas propostas nunca passaram.
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A Turquia está num crescendo de autoritarismo: repressão aos jornalistas, fecho
de órgãos de comunicação social, prisão de professores, magistrados e deputados
curdos.
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O Líbano, que é um país do tamanho do Algarve, com quatro milhões de habitantes,
recebeu muito mais refugiados do que aqueles que tentaram chegar à UE.
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[A UE tinha capacidade para acolher esses refugiados] não só por uma questão humanitária,
mas até porque nos temos responsabilidade no que aconteceu naquela região.
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A extrema-direita tem um peso enorme nos países de leste e da Europa central,
de forma absolutamente incompreensível, fazendo parecer que não se aprendeu
nada com a História.
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Se queremos uma política de cooperação com os países em desenvolvimento, tem de
ser uma real política de cooperação.
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Vejamos um exemplo: 80% dos refugiados que chegam à UE são mulheres e crianças,
mais de 50% têm menos de 18 anos, há milhares de crianças abandonadas e
sozinhas.
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Quando vemos os memorandos de entendimento de ajuda financeira com a UE, o Pacto
de Estabilidade, tudo o que são “reformas” impostas pela UE e BCE, elas passam por
tocar nas áreas onde a UE não tem legitimidade: impõem que se corte na saúde,
na educação, e querem que se reduza o Estado ao mínimo.
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Infelizmente, não houve nada que fosse feito nos anos da troika que não tivesse
tido a conivência dos governos que estavam no poder.
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É muito fácil dizer que as sanções foram sacrifícios a mais, mas o parlamento
onde eu estou teve permanentemente uma maioria, que incluía deputados
portugueses, que votavam a favor das sanções, da austeridade e de um conjunto
de medidas que prejudicaram os países do sul da Europa.
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Não creio que o Bloco tenha muitas ilusões em relação a esta integração europeia.
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A coerência que temos de ter [no Bloco] é nos valores e princípios, não é dizer
20 anos seguidos as mesmas palavras.
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Não se deve ter nenhum tabu em relação a discussão nenhuma, inclusive o euro.
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O euro foi um factor de divergência e não de convergência das economias
europeias.
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[Os défices e os excedentes] são tão perigosos para a coesão europeia, uns e
outros.
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Há uma condução cada vez menos democrática da UE.
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Apesar de não ser uma solução perfeita, na Caixa evitou-se aquilo que era a
solução única, apresentada por Bruxelas, de privatizar.
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A questão do sistema bancário, a questão da dívida e o tratado orçamental são
as grandes questões que são nucleares resolver no nosso futuro.
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O PS a governar sozinho, até agora, significou a obediência total à UE e com
politicas liberais.
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Não podemos estar na política numa lógica calculista ou eleitoralista.
- [Na Europa] é preciso uma
esquerda coerente e próxima das pessoas, e responder aos problemas das pessoas.
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