No
artigo de opinião de Domingos Lopes que apresentamos a seguir, transcrito do
Público de hoje, o seu autor começa por afirmar que “o CDS
foi historicamente um partido de simulações”. Temos de concordar totalmente com
esta ideia se observarmos com atenção os resultados dessa estratégia obtidos ao
longo do tempo.
De há várias eleições a esta parte, o
partido parlamentar mais à direita no Parlamento português vem conseguindo um
número de deputados muito superior à sua presumível implantação na sociedade
portuguesa. Na realidade vem simulando uma força eleitoral que, de facto, não
tem, sobretudo mercê de alianças com o PSD que tem sido o contribuinte líquido
da estratégia do CDS, como muito bem se ficou a compreender através dos
resultados das eleições parlamentares de 2015.
O CDS foi historicamente um partido de
simulações. Dos poucos momentos que não simulou foi na votação da Constituição
aprovada na Assembleia Constituinte em que o CDS votou contra. Foi o único.
Simulou um acordo com o PS logo após a
queda do primeiro governo constitucional do PS. Obrigado a largar o acordo,
pôs-se ao fresco. Andou anos a simular entre Lucas Pires, Adriano Moreira,
Manuel Monteiro até ficar nas mãos de Paulo Portas, o simulador em quem Manuel
Monteiro levianamente acreditou.
O CDS simula entre a chamada
democracia-cristã e a vocação para o poder, sendo esta a dominante. O ponto de
simulação máximo encontra-se algures nas feiras onde Paulo Portas, de boné na
tola, foi capaz de quase tudo e de mais um copito para que os velhos caíssem na
esparrela dos prometidos aumentos das reformas.
Sem esquecer os anos inenarráveis de
luta pelos combatentes do ultramar que rapidamente foram esquecidos quando teve
cargos ministeriais e fazendo de Angola um relacionamento “sério e
respeitável”, esquecendo todo o passado de combate melodramático ao regime do
MPLA.
Portas simulou que se ia embora e que
iria deixar Passos Coelho a falar sozinho, mas rapidamente revogou a decisão
para receber o cargo de vice-primeiro-ministro, o que sempre é mais qualquer
coisinha para o seu curriculum de simulador.
Paulo Portas foi líder da oposição a
Cavaco primeiro-ministro e apoiante do professor de York como Presidente da
República. Simulou um acordo com Marcelo (quando este dirigia o PSD) e
“deslargou-o”.
Portas, farto de simular, foi-se e veio
Assunção Cristas, que sem o traquejo do simulador-mor ora simula a eventual
cooperação com o PS, ora se entesa a atacar o Governo. Também ela andou a
simular que defendia a agricultura, as pescas e o mar e não tem nada de
positivo que possa mostrar da sua herança: pior agricultura, quotas cortadas e
mar ao longe, sem investimento. Apenas as cagarras com o Sr. Professor Cavaco
nas Desertas.
Cristas está em luta com o PSD e para
tal necessita de marcar terreno na luta contra o Governo. De que havia de se
lembrar em Maio, o mês do Dia do Trabalhador? De atacar a possibilidade de os
sindicatos da função pública alertarem os dirigentes dos serviços para a
existência de precários. E porquê? Porque, segundo a sua brilhante mente, os
sindicatos não se lembram dos que não são sindicalizados.
A senhora doutora disse isto sem que na
sua face houvesse um pingo de vergonha por falar daquilo que sabe que não é
verdade ou desconhece e imagina os outros como os dirigentes do CDS —
simuladores de primeira água. A força dos sindicatos está nos sindicalizados e
na sua capacidade de unir todos (sindicalizados e não sindicalizados) nas suas
reivindicações.
Percebe-se o mal-estar de Assunção
Cristas. Ela foi uma importante figura do Governo de Passos que tinha como
programa empobrecer e aí não simulou, empobreceu.
Um dos modos mais terríveis para
empobrecer o mundo dos trabalhadores por conta de outrem é colocá-los em
situação de precariedade para que não se mexam. Assim, sem se poderem mexer,
ela e Passos Coelho conseguiram outro propósito do seu governo —
tentarem ser campeões da competitividade. O que significaria um país de
mão-de-obra barata e submissa. É, por isso, que lhe dói.
E na sua dor por ver o país respirar um
pouco melhor raciocina à maneira dos simuladores, dos Núncios, dos Portas, dos
que dizem uma coisa e pensam e fazem outra. Levanta a suspeita de os
sindicalistas, através deste processo, meterem cunhas aos dirigentes da função
pública.
Mas a sinalização dos precários não se
destina a comprar submarinos, nem a esquecer os dez mil milhões de euros de
rendimentos dos “pobrezinhos” “coitadinhos” depositados em offshores,
como fez Núncio.
Simula o seu combate em Lisboa contra
Medina e continua essa tarefa para ficar à frente de Teresa Leal. Porém, é preciso
ter tento. Que sabe Assunção dos trabalhadores sindicalizados e da sua luta
contra a precariedade que tanto elogiou no reinado de Passos Coelho? Haja
decoro.
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