sexta-feira, 30 de setembro de 2011

MENSAGEM FORTÍSSIMA

"UM DIA NÃO SOBRARÁ NADA AOS POBRES QUE NÃO PASSE POR COMER OS RICOS"


PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE MORRE-SE À FOME HAVENDO COMIDA DE SOBRA


Imagem roubada do blog 5 Dias

CITAÇÃO

“Quando a crise financeira rebentou, nem Barroso nem os seus comissários - com o inefável Olli Rehn à cabeça - se colocaram do lado das soluções sensatas: a tributação dos movimentos de capitais e a mutualização das dívidas expressa na emissão de euro-obrigações. Nada disso, a Comissão apagou-se voluntariamente atrás do directório intergovernamental encabeçado pela chanceler Merkel e fez coro com a receita por ele imposta, feita do mix compressão dos custos do trabalho, privatizações e redução da despesa pública.” (José Manuel Pureza, dirigente do BE, Diário de Notícias)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O EXEMPLO QUE VEM DO BRASIL

CLARIFICAR FINANÇAS NA MADEIRA

Toda a gente sabe que Pacheco Pereira é um elemento desalinhado da orientação oficial do PSD. Pensa pela sua cabeça – honra lhe seja feita – o que significa que, muitas vezes, é um forte crítico das medidas emanadas pelos governos liderados pelo seu partido. Se as suas objecções coincidem com as da oposição é por mera coincidência. Por isso devemos dar-lhe algum crédito ao que afirma e escreve sobre algumas situações. É o que sucede em relação à situação das finanças regionais da Madeira.
O que Pacheco Pereira escreve hoje na revista “Sábado” pode ter o acordo de qualquer pessoa da oposição, nomeadamente, à esquerda.

O que o eleitorado deve saber antes de votar na Madeira
“Fazer eleições na Madeira sem se saber, pelo menos nas suas grandes linhas, qual o balanço das finanças regionais e quais as linhas gerais do “plano de ajustamento”, como gosta de dizer o nosso ministro das Finanças, não é bom para a democracia e para a liberdade de voto dos madeirenses. Seria o mesmo que querer adiar o conhecimento do memorando da troika para depois das últimas eleições legislativas. Assim, quem votou tinha uma ideia geral do que foi o governo Sócrates, das medidas que o pedido de ajuda externa implicava, como é suposto conhecerem o verdadeiro défice da Madeira, as responsabilidades do governo de Jardim e qual vai ser o peso do “ajustamento” para os madeirenses e o realismo de qualquer programa eleitoral.”

DOZE SEGURANÇAS DOZE

“Disse-me Rita Brandão Guerra, deste jornal, que Sua Excelência se fez acompanhar [aos Açores] de 30 pessoas, 12 seguranças, dois fotógrafos oficiais, médico e enfermeira pessoais, dois bagageiros e um mordomo inclusos” é uma informação retirada de um artigo de opinião do prof. Santana Castilho (“Público” 28/9) que não surgiu em nenhum dos principais órgãos de comunicação social tanto quanto temos conhecimento.
Numa altura em que tanto se fala em contenção das despesas públicas não se compreende que o Presidente da República se sinta na necessidade de levar uma dúzia de seguranças para uma curta visita à Região Autónoma dos Açores onde até as vacas se riem para ele, satisfeitas com a forma como o pasto cresce verdejante…
É certo que se trata de uma despesa insignificante para o erário público mas que tem um aspecto simbólico para o cidadão comum que a tem de pagar. Os exemplos devem vir de cima. Sempre! Não só quando servem de propaganda.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (OUTRA VEZ) MAL ENTREGUE

Não tem merecido grandes comentários mas a verdade é que, numa altura em que o Ministério da Educação vem dando sinais de falhas inadmissíveis que são pouco coerentes com antigas declarações de Nuno Crato, apareceu na edição de há dois dias do DN uma notícia que atribui 514 mil dias de baixas médicas aos professores entre Outubro de 2010 e Janeiro de 2011. Uma manobra de diversão, pensamos nós, na medida em que, feitas as contas, cada professor terá faltado, em média, menos de 1 dia por mês.
É claro que os números, tal como foram apresentados, causam um grande impacto na opinião pública, contribuindo para desacreditar a classe docente embora a realidade dos factos seja bem diferente do que se deseja fazer crer. Não há como encontrar alvos fáceis e indefesos para distrair as pessoas dos problemas verdadeiramente importantes.
Trata-se de uma situação que faz lembrar os tempos de Maria de Lurdes Rodrigues em que a campanha anti-professores fez escola mas acabou por não atingir os objectivos pretendidos pelo Governo Sócrates. Apesar da casmurrice do então primeiro-ministro, o feitiço acabou por se virar contra o feiticeiro.
O ministério Crato, se está a enveredar pelo mesmo caminho, virá a arrepender-se mais tarde ou mais cedo. Apesar de ter obtido o apoio de uma parte dos sindicatos para o novo modelo de avaliação dos professores, isso não cauciona a tomada de medidas, de forma atabalhoada nem a falta de estratégia do Governo na área da educação. Ainda hoje, com grande surpresa, tomámos conhecimento do cancelamento do prémio de mérito, no valor de 500 euros, para os melhores alunos do ensino secundário. Trata-se de uma completa contradição relativamente ao discurso do Ministro de Educação em relação ao mérito e à excelência que tanto proclama. É de tal forma óbvio que a decisão foi tomada em cima do joelho que, nem sequer, foi possível inventar uma explicação aceitável. Para além disso, sabendo-se que o prémio seria entregue depois de amanhã, estamos na presença de uma medida lamentável, frustrante e desmotivadora para os alunos que gostam de ver reconhecido o seu mérito.
Não resistimos a apresentar um pequeno excerto do artigo de opinião que o prof. Santana Castilho hoje assina no “Público” onde se demonstra a falta de estratégia dos principais responsáveis pela educação em Portugal:
“Quem também falou foi a secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário. Depois do que ouvi, em entrevista ao Correio da Manhã, fiquei esclarecido, que não surpreendido. Move-se no desconhecido, a senhora. Foram constantes expressões como: "talvez"; "até pode ser"; "estamos a equacionar"; "estamos a trabalhar no estudo"; "ainda está em fase de estudo"; "ainda está a ser trabalhado"; "é nossa intenção fazer"; "é nossa intenção introduzir"; "é nossa intenção universalizar". Quando saiu deste registo assertivo, esbarrou com a realidade. "Alargar o ensino pré-escolar a idades mais precoces"? Se agora estamos nos três anos, propõe passar os partos para o jardim-escola, para aproveitar o tempo? Menorizar a Educação Física? Escolarizar a educação da infância? Lastimável!”
Ficámos esclarecidos…

Luís Moleiro

terça-feira, 27 de setembro de 2011

GANHAR NA SECRETARIA SEM GANHAR NOS VOTOS

A direita e alguns dos seus amigos sentem muita dificuldade em lidar com a democracia. Vai daí a tendência para os arranjos de secretaria que garantam a manutenção do poder. Quando uma dada situação deixa de ser tão vantajosa quanto desejam, logo surgem ideias no sentido de serem alteradas as regras do jogo, mesmo que seja ao arrepio da democracia.
A democracia tem custos mas a falta dela ainda tem mais. No tempo da ditadura, os autarcas eram nomeados de cima. Tanto presidentes de juntas de freguesia como de câmaras municipais não tinham qualquer limitação de mandatos, podendo permanecer nos cargos um número indefinido de anos. O seu poder era quase arbitrário e os atropelos à lei eram a regra.
O Governo PSD/CDS quer cortar mais de um terço do número de vereadores e reduzir significativamente o número de freguesias, incluídos numa acção mais vasta a que chamam reforma da Administração Local. Neste âmbito pretende adoptar o chamado modelo de “executivo homogéneo” em que o presidente do município seria “o cidadão que encabeça a lista à Assembleia Municipal (AM) mais votada” sendo os “restantes membros do órgão executivo escolhidos pelo presidente entre os membros eleitos para a AM”. Isto significaria que podia haver sempre um executivo municipal unicolor com maioria absoluta qualquer que fosse a votação que tivesse obtido a lista vencedora. Ou seja, é o mesmo que ganhar na secretaria o que a democracia nega. O controlo democrático do executivo deixaria de existir e, sabemos bem a que situações têm levado as maiorias absolutas nos municípios.
Não nos iludamos sobre as finalidades da dita Reforma Administrativa Local. A redução dos gastos vai ser insignificante e a governabilidade dos municípios não vai melhorar, antes pelo contrário. O que vai suceder, de certeza, é a diminuição da participação democrática no poder local e a imposição, por via legal, do bipartidarismo PSD/PS. A democracia deixa de atrapalhar esta gente no acesso ao poder. O PS vai dar o seu aval porque vai beneficiar do saque, mesmo com regras democráticas pouco claras. Em contrapartida, não se percebe a posição do parceiro de coligação do PSD que apenas vai ficar com os restos.

Luís Moleiro

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

EM TODA A PARTE POUSAM OS VAMPIROS (2)

Muitas vezes sentimos dificuldades para obtermos uma explicação cabal para muitos problemas que atingem globalmente o mundo, em especial, a extrema injustiça na distribuição da riqueza que se produz. Sabendo-se que nunca houve tanto dinheiro em circulação à escala global, por que razão o fosso entre ricos e pobres não dá mostras de abrandar? Antes pelo contrário, assistimos a um crescente aumento do número de pessoas que não vêem supridas as suas carências básicas, a todos os níveis. A tendência é procurarmos as causas de tal situação com base na informação que nos entra em casa através dos meios de comunicação social dominantes. É, de todo, uma informação incompleta e, sobretudo, filtrada. O que é determinante não chega muitas vezes até nós. Por isso, temos de estar sempre precavidos e desconfiar que há sempre qualquer coisa que nos pode estar a ser escondida. Por exemplo, a informação de que “737 donos do mundo controlam 80% do valor das empresas mundiais” dificilmente terá uma substancial divulgação de forma a influenciar grandes camadas da população mundial. Acaba por ficar tudo num círculo muito restrito que, apesar de todos os esforços não consegue fazer chegar essa informação a quem mais interessa. As redes sociais e a Internet ainda não conseguem superar esta lacuna tanto quanto seria necessário até porque a atenção das pessoas é habilidosamente desviada para acontecimentos fúteis que são empolados de forma artificial.

Luís Moleiro

CONTRA AS PORTAGENS MARCHAR, MARCHAR

domingo, 25 de setembro de 2011

O MEDO SEGUNDO MIA COUTO. FABULOSO!

EM TODA A PARTE POUSAM OS VAMPIROS

Tudo é possível acontecer para beneficiar o capital financeiro mesmo que isso signifique a aplicação de medidas brutais de austeridade como agora está a acontecer na Grécia.
Um membro do instituto de estatísticas grego acaba de denunciar que o Gabinete de Estatística da UE os pressionou no sentido de aumentarem artificialmente o défice de 2009, de 12% para 15,4% para ser possível justificar a imposição do violento agravamento das condições de vida do povo helénico.
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CITAÇÕES

“É inquestionável que os portugueses estão debaixo de um processo de acelerado abaixamento do seu nível de vida, sendo o agravamento das condições de trabalho uma das suas causas, mas onde o enfraquecimento de direitos sociais fundamentais e a perda de instrumentos económicos e políticos por parte do Estado constituem outras peças desse perigoso retrocesso.” (Carvalho da Silva, JN)

“Para se pagar uma dívida é preciso gerar riqueza e todos sabemos que as políticas em curso são de recessão económica e logo de redução da riqueza produzida. Por outro lado, a perda de direitos e a redução da retribuição do trabalho não tem qualquer relação com o pagamento da dívida, a não ser que se admita negar à sociedade portuguesa o direito ao seu desenvolvimento e pôr em causa a democracia.” (Carvalho da Silva, JN)

“Alberto João Jardim é um personagem perigoso a todos os níveis, mas o mais preocupante é o exemplo que dá enquanto homem de Estado. Ensina-nos que, neste país, vale tudo, que o despudor em geral e a incontinência verbal são recompensados e que o que interessa é sermos "espertalhões", esmagando quem se nos atravessa no caminho.” (Francisco Teixeira da Mota, “Público”)

“Quando se diz que é razão para despedimento por justa causa a redução de quantidade e qualidade da produção de um determinado trabalhador está a dizer-se o quê? Querem conceito mais genérico e arbitrário do que a redução da qualidade do que se produz? Se um patrão quiser mesmo despedir alguém, precisa de alguma coisa que não seja a sua opinião?” (Daniel Oliveira, “Arrastão”)

“Em recessão, aumentar o IVA leva as pessoas a consumir menos (não é preciso ser economista para entender isto), por isso a pergunta que lhe coloco é como pensa compensar a redução de receitas para a Segurança Social resultado de uma baixa da TSU?” (António Chora, dirigente do BE e coordenador da Comissão de trabalhadores da AutoEuropa questiona Passos Coelho)

sábado, 24 de setembro de 2011

NEOLIBERALISMO PURO E DURO

Em Portugal não há imprensa de esquerda. Os cidadãos situados nesta área política têm de contentar-se com a leitura de opiniões de gente de esquerda, muito dispersa em várias publicações, o que torna difícil a sua localização. Felizmente existe a blogosfera que impede um total domínio da ideologia que vem dominando o planeta. Mesmo assim, a maior parte da população só tem acesso à informação e opinião que os grandes grupos económicos que dominam a comunicação social permitem. Ter consciência desta situação já é importante para nos prevenirmos em relação à informação que chega até nos. Há sempre que desconfiar das fontes.
O semanário “Expresso” é tendencialmente de direita e no seu suplemento “Economia” não há qualquer opinador que não se reveja mais ou menos naquela área. Por isso, é insuspeita de esquerdismo a opinião de Nicolau Santos, muito crítica em relação ao rumo que muitas medidas do actual Governo estão a tomar. Afirma ele:
“A orientação ideológica deste Governo, a coberto do acordo com a troika, visa retirar direitos aos trabalhadores, fragilizar as relações laborais, flexibilizar os despedimentos e reduzir as indemnizações, em favor dos empregadores e, latu senso, do capital. Em paralelo segue uma redução drástica dos apoios sociais públicos na saúde, na velhice, no desemprego, na educação, no desporto, na cultura e tudo o mais, o que conduzirá no final a uma caricatura do Estado social que hoje existe; e pretende a privatização sem qualquer estratégia de empresas públicas ou participações estatais, o que deixará o país sem qualquer centro de decisão nacional, ou seja, completamente indefeso do ponto de vista económico. É um modelo tatcheriano com 30 anos de atraso, aplicado sem nenhuma consciência da desestruturação que provocará na sociedade portuguesa e assente unicamente na fé irracional (e não provada cientificamente) de que quando tudo for público estiver arrasado, o país ressurgirá das cinzas, conduzido por uma iniciativa privada moderna, dinâmica e inovadora.
A proposta do Governo aos parceiros sociais para acrescentar novas justificações ao despedimento individual (incumprimento de objectivos e quebra de produtividade) é iníqua mas constitui mais uma pedra no caminho pelo qual o Executivo optou no sentido de, como diria Thatcher, “partir a espinha” aos sindicatos e aos trabalhadores.”
Estas críticas são tão claras e contundentes, vindas do próprio interior do sistema, que não deixam margem para dúvidas e devem abalar as consciências dos portugueses no sentido de não acreditarem na inevitabilidade das medidas que estão a ser tomadas, as quais vão comprometer de forma irreversível o nosso futuro colectivo.

Luís Moleiro

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

TRIBUTO A JOSÉ NIZA

Apartadas divergências políticas, no dia em que desapareceu do nosso convívio o médico e compositor José Niza, é de elementar justiça recordá-lo como o autor da letra de uma das canções-senha do 25 de Abril, "E depois do adeus". Menos referida é a sua colaboração com Adriano Correia de Oliveira para quem escreveu letras e criou músicas. "E alegre se fez triste" é uma delas que recordamos na voz inconfundível de Adriano.

MUITO PAU, POUCA CENOURA

A palavra “corte” é a que mais se vem ouvindo na boca dos governantes quando se referem a áreas como saúde, educação, segurança social, subsídio de desemprego, rendimento social de inserção, TSU, direitos dos trabalhadores, rendimento disponível, etc.
Todos os ministérios vão sofrer cortes colossais que atingirão em cheio a classe média mas serão ainda mais contundentes para os mais desprotegidos da nossa sociedade.
Como que a justificar que não há regra sem excepção, apenas o Ministério da Administração Interna (o das polícias), para além de não sofrer qualquer corte, ainda vê a sua dotação reforçada com 400 milhões de euros no OGE de 2012. Nada que não se esperasse de um governo de direita. Dá para desconfiar que há aqui uma mãozinha de Paulo Portas já que muitas vezes revelou a sua propensão para recorrer às polícias para solucionar problemas tipicamente sociais.
Além disso, o reforço do sector repressivo é sinal de que o rol de malfeitorias que o Governo vai continuar a fazer só pode trazer forte contestação nas ruas assim como o aumento da violência sobre pessoas e bens.
Muito melhor do que nós, o escritor Manuel António Pina aborda este tema no texto que hoje assina no JN. Vale a pena lê-lo.

Luís Moleiro

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A TRAMA NEOLIBERAL

A lógica da doutrina neoliberal identifica-se à volta do princípio “menos Estado melhor Estado” mas tem uma enorme dificuldade em explicar como é possível que a promoção da desigualdade social através da incapacitação dos Estados “no desempenho das suas funções de protecção dos cidadãos contra riscos colectivos e de promoção do bem-estar social” venha a ser benéfica para a grande maioria das populações.
Não é por acaso que os meios de comunicação social, praticamente todos, detidos por grandes grupos económicos estejam enxameados de comentadores catequizados pelo neoliberalismo que, a toda a hora, propagandeiam as virtudes do sistema que ora domina o planeta. Acreditam que uma perfídia, à força de ser repetida até à exaustão se converte em realidade inquestionável.
Por outro lado, o que é óbvio pela sua natureza é fácil de entender. Por isso mesmo, os comentadores anti-sistema aparecem numa quantidade suficientemente pequena para que a sua opinião se dissipe na avalanche dos contrários e perca o poder de influência ainda que contenha manifestas evidências.
Um exemplo do óbvio é o excelente artigo de opinião do prof. Boaventura Sousa Santos que a “Visão” traz hoje. Vale a pena lê-lo com muita atenção e até ao fim. Começa assim:
“A democracia política pressupõe a existência do Estado. Os problemas que vivemos hoje na Europa mostram que não há democracia europeia porque não há Estado europeu. E porque muitas prerrogativas soberanas foram transferidas para instituições europeias, as democracias nacionais são hoje menos robustas porque os Estados nacionais são pós-soberanos. Os défices democráticos nacionais e o défice democrático europeu alimentam-se uns aos outros e todos se agravam por, entretanto, as instituições europeias terem decidido transferir para os mercados financeiros parte das prerrogativas transferidas para elas pelos Estados nacionais. Ao cidadão comum será hoje fácil concluir (lamentavelmente só hoje) que foi uma trama bem urdida para incapacitar os Estados europeus no desempenho das suas funções de protecção dos cidadãos contra riscos colectivos e de promoção do bem-estar social. Esta trama neoliberal tem vindo a ser urdida em todo o mundo, e a Europa só teve o privilégio de ser “tramada” à europeia. Vejamos como aconteceu.”
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Luís Moleiro

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ESQUELETOS A DESCOBERTO

Os portugueses têm o hábito, em parte, salutar de anedotar assuntos sérios que muitas vezes nos atingem enquanto povo. É talvez uma forma de exorcizarmos demónios que nos atormentam e relativamente aos quais nos sentimos impotentes ou não temos coragem para os enfrentar.
Os mais velhos lembram-se bem do tempo da ditadura e dos milhares de anedotas cuja figura central era Salazar. Apesar da censura a transmissão realizava-se boca a boca e, rapidamente, faziam parte do domínio público. O ditador era ridicularizado mas, nem o seu poder nem o aparelho repressivo que nos oprimia sofriam qualquer beliscadura.
Os tempos mudaram, vivemos num regime em que (ainda) não somos presos por delito de opinião mas continuamos atormentados por figuras grotescas, das quais sentimos, por vezes, dificuldades em nos livrarmos delas apesar de facilmente o podermos fazer através do voto. Assim aconteceu há pouco tempo com Sócrates e vamos pelo mesmo caminho em relação a Alberto João Jardim (AJJ). Infelizmente este caso ainda é mais complicado do que o do anterior primeiro-ministro pois a solução está a cargo, apenas, do eleitorado da Madeira e, aqui, as pessoas estão aprisionadas pela “verdade” de quem até agora lhes mentiu.
Por estes dias, a figura extravagante, boçal e malcriada de AJJ contribuiu para a proliferação de anedotas nas redes sociais. Não é caso para menos na medida em que ele se pôs mesmo a jeito…
Num artigo de opinião que hoje pudemos ler no “Diário de Coimbra”, significativamente intitulado “Albertonis Yanis Jardinopoulos”, o seu autor refere, a certa altura, o que afirmava ao “Expresso”, por volta do décimo ano da autonomia da Madeira um destacado dirigente do PSD que tinha estudado em Coimbra “com o presidente vitalício” daquela região autónoma: “sempre achei que era uma loucura entregar a Madeira ao Alberto João”. Mais adiante, acrescenta o articulista, em forma de pergunta: “Como pode Portugal fugir de ser conotado com esse “homem de estado” que, com a mesma energia e inconsciência de estudante de Coimbra, rouba à tripa forra o país de cubanos a que diz não pertencer, como quando de capa e batina roubava as figuras do presépio da cidade dos estudantes para as exibir despudoradamente na varanda lá de casa? (ainda hoje lá está uma vaca em tamanho real)”.
O que é lamentável é que os esqueletos, que imensa gente suspeitava haver nos armários de AJJ, apenas vissem a luz do dia por acção de um entidade estrangeira, por falta de coragem política de várias levas de governantes de diferentes cores políticas, leia-se PS, PSD e CDS.

Luís Moleiro

terça-feira, 20 de setembro de 2011

IRMÃO LÚCIA: DOS EURO-BONDS À EUROBONDAGE

ACAMPADA EM WALL STREET EXIGE VERDADEIRA DEMOCRACIA

DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO

Em Portugal as mulheres auferem, em média, remunerações base inferiores aos homens em 18%, segundo um estudo da CGTP.
O sector da saúde e dos apoios sociais é o que representa uma maior diferenciação. Aí, os homens recebem em média 1.202,05€ e as mulheres 798,91, uma diferença de 403,14€. Enquanto 12,3% das mulheres aufere o salário mínimo apenas 5% dos homens está nesta situação. Desde 2005 até hoje a diferença salarial entre homens e mulheres na UE subiu de 15% para 17%.
A discriminação das mulheres está presente na sociedade, em várias dimensões, sendo o trabalho e a diferença salarial apenas uma das suas vertentes. As mulheres representam também a maior fatia de trabalhadores a recibos verdes, contratados a prazo ou com vínculo informal. A maior parte das funções sazonais ou regulares mas de curta duração são desempenhadas, predominantemente, por mulheres. No fundo, a precariedade toca de uma forma mais brutal às mulheres que aos homens.
Por outro lado, aquando da divisão do trabalho, são normalmente os homens que ocupam os cargos mais importantes ou de maior status social enquanto as mulheres assumem maior importância no desempenho de funções menos qualificadas.
Em pleno século XXI é inadmissível uma discriminação tão acentuada na zona do mundo em que vivemos.
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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

PORTAGENS NAS EX-SCUT – PODEMOS ESTAR A SER ENGANADOS

Uma notícia, quase escondida na secção de economia do JN online, dá-nos conta que só em 2025 as ex-SCUT darão lucro e, até lá, custarão 4,4 mil milhões de euros ao erário público.
Esta situação constitui mais um daqueles casos em que a propaganda é o factor principal. Toma-se uma decisão que é francamente prejudicial para as populações, porque configura mais um imposto, e, depois, acaba por suceder que as pessoas são duplamente penalizadas. Pretende-se fazer crer que as antigas SCUT vão deixar de ser um encargo para o Estado quando não é isso que realmente vai acontecer, pelo menos, para já. O dinheiro dos contribuintes continua a entrar para as despesas, ao mesmo tempo que os automobilistas pagam as portagens. É lindo, não é?
E, quem nos garante que, daqui a 14 anos, o Estado deixará de ter encargos com aquelas vias? É mais uma razão a juntar a tantas outras para continuar a luta contra o pagamento de portagens nas ex-SCUT. A páginas tantas, estamos sujeitos a pagar a dobrar: através dos impostos e das portagens.

NÃO À REDUÇÃO DA TSU

A redução da Taxa Social Única (TSU) está a fazer correr muita tinta em diferentes sectores de opinião. Da esquerda à direita, muita gente entende que baixar a contribuição das empresas para a segurança social trará efeitos nefastos para Portugal. No mínimo, poderá dizer-se que os prejuízos serão muito superiores aos benefícios pelo que todos ficaremos a perder. É significativo que tantas pessoas com orientações ideológicas diferentes estejam a chamar a atenção para o clamoroso erro que o Governo poderá estar a preparar-se para tomar. A juntar ao exemplo que aqui deixámos há três dias, mais duas tomadas de posição vieram ao nosso encontro na imprensa do fim-de-semana. Uma delas é a opinião do conhecido jornalista Daniel Oliveira no “Expresso” e outra, a de Pedro Jordão, Presidente do Centro de Estudos Internacionais no “Diário de Coimbra”, personalidades diversas sob o ponto de vista ideológico.

“Os génios da troika partem do princípio de que os empregadores, em tempo de crise, vão reflectir a redução de sustos no preço final. Em sectores protegidos, mais beneficiados pela medida, é apenas uma fezada. Nos outros é insignificante. Os custos do trabalho são, na indústria exportadora, apenas um terço dos custos totais. Uma descida da TSU irá traduzir-se, segundo um estudo de João Ferreira do Amaral, numa redução de 2,5% dos custos. Só o preço do crédito e da energia, que sofreram fortes aumentos, comem quase tudo. E o aumento brutal do IVA, única forma de manter esta medida neutra para o défice e coerente nos seus objectivos, terá um efeito devastador no mercado interno e, já agora, no turismo. Não ganhamos num lado, perdemos no outro. Ficaremos apenas mais pobres.
Por fim, redistribui ao contrário: retira a todos para financiar algumas empresas. E põe em perigo a segurança social. Para aplicarmos uma medida estúpida de que em breve nos arrependeremos pomos em causa as reformas para que andámos a descontar. Resumindo: a descida da TSU, associada ao aumento do IVA, faz as apostas erradas, terá um efeito marginal na competitividade, devasta a economia, pune os pobres e põe em causa a sustentabilidade da segurança social.”
(Daniel Oliveira)


“A ideia de reduzir a contribuição das empresas para a segurança social (TSU) em absolutamente nada melhorará a produtividade das empresas, incrementando apenas insignificantemente a competitividade dos seus preços (não a das empresas em sentido estrito). Contudo, apesar desse marginal efeito, a redução da TSU conduzirá a riscos perigosos para a economia nacional e, subsequentemente, poderá acabar por induzir um impacto negativo nas contas públicas no futuro próximo. Como na generalidade das empresas persiste uma insuficiente produtividade, a redução da TSU reduzirá (artificialmente) os seus custos. Essa redução da TSU colocará em risco as reformas futuras dos portugueses. Mas se for decidido compensar essa perda de receitas do Estado com aumentos do IVA, os cidadãos portugueses verão o seu custo de vida aumentar, perderão ainda mais do seu reduzido rendimento disponível e do seu magro poder de compra e comprarão menos bens e serviços, assim encolhendo o consumo do mercado interno do qual depende a sobrevivência da maioria esmagadora das empresas portuguesas. Com essa acentuada quebra do consumo interno imensas empresas perderão volume de vendas, despedirão trabalhadores ou mesmo encerrarão, assim se aumentando o desemprego nacional, diminuindo a economia e aumentando os custos sociais e financeiros do desemprego para o Estado, enquanto a perda de rentabilidade das empresas reduzirá as receitas fiscais do IRC e enquanto o desemprego e a quebra dos salários reais encolherão as receitas de IRS do Estado. O resultado destes ganhos e perdas poderá traduzir-se por uma perda líquida de receitas fiscais para o Estado, em nome das quais se pretende efectuar a referida redução da TSU. Não parece ter muito sentido. É um contra-senso e uma insensatez. Por outro lado, na realidade a redução da TSU será um subsídio às empresas, financiado pelos cidadãos. Isto é, retirar-se-á dinheiro do bolso dos empobrecidos cidadãos para subsidiar as empresas, sem que isto melhore a sua produtividade. Será racional?” (Pedro Jordão)

sábado, 17 de setembro de 2011

FALTAM LIDERANÇAS

Há décadas que não surgem na Europa lideres de qualidade. Em Portugal não se vislumbra que tal venha a acontecer a curto ou médio prazos nos partidos mais representativos do eleitorado. A situação é aflitiva em momentos de grandes decisões quando precisamos de chefes com rasgo e sentimos que o país se encontra entregue uma garotada que só é capaz de navegar á vista de terra, sem um rumo definido. Esta situação não deve ser alheia ao facto de o aparecimento de um líder, em vez de emergir, com naturalidade, das bases, ser fomentado a partir de cima, sem quaisquer qualidades, com uma áurea de competência gerada artificialmente por uma qualquer empresa de criação de imagem.
Depois de cerca de três meses à frente do Governo, Passos Coelho já nos deu a entender que não tem qualidades para o cargo que ocupa. As opiniões que já emitiu sobre os eurobonds são o exemplo mais recente dessa evidência. Marisa Matias agarrou muito bem neste tema como se pode constatar no texto seguinte.

Sr. Primeiro-ministro, pode explicar por favor?
De um primeiro-ministro espera-se programa, capacidade de negociação e clareza. Retenho-me na clareza. Como não existe em abstracto, o concreto, no caso em apreço, chama-se posição sobre a emissão de eurobonds. Em miúdos: equivalente a títulos do tesouro europeus, ou seja, comuns aos países da União Europeia.
O debate sobre os eurobonds não é novo. É, aliás, tão velho que chega requentado. Muitos economistas sustentam que a sua emissão seria crucial para a Europa, mas é também por demais evidente que ela tarda, e muito. Para quem defende que a nossa crise é meramente nacional, o resultado da nossa incompetência, quando não preguiça, os eurobonds seriam não apenas dispensáveis, como um mau substituto para as medidas de austeridade. Mas para quem entenda que a nossa crise é inseparável da crise do euro, então o debate sobre os eurobonds não pode ser ignorado.
O mistério é: Passos Coelho é ou não favorável à emissão de eurobonds?
Comecemos pela putativa entre o Primeiro-ministro e o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o primeiro contra, o segundo a favor. Veio então o Ministro das Finanças garantir que não havia divergência. Disse mesmo que, depois de atenta revisão das declarações de um e de outro, a sua interpretação era a de que as afirmações de ambos eram “compatíveis” e que traduziam a posição do governo…
Ok. Pergunta seguinte: mas qual a posição do governo?
Resposta: depende. Se for em semana de visita à Sra. Merkel, o Primeiro-ministro será totalmente contra. Se for em semana de debate parlamentar, o Primeiro-ministro terá uma posição assim-assim. Se for em dia de reacção às declarações de Durão Barroso, o Primeiro-ministro estará numa posição absolutamente “compreensível”, mas ainda para o lado contra. Compreensível porque a proposta da Comissão não é nova e faz parte das suas “obrigações”. Quanto a Paulo Portas, sabe-se que gostaria mas evita dizê-lo em voz muito alta.
Que o Primeiro-ministro não tenha uma posição clara, é que já não se compreende. Se Passos Coelho recusa esta forma de financiamento como parte da solução para a crise das dívidas soberanas, isso significa que recusa igualmente o envolvimento dos credores. Resta-lhe, portanto, a receita que tem aplicado: menos salários, mais impostos, cortes nos serviços públicos, mais desemprego. A questão é: porquê, se há alternativa?
Ninguém espera que Passos Coelho lidere a política económica europeia. Aí as mãos são outras. Seria, contudo dispensável a atitude submissa. Triste posição a do governo português, quando é um dos mais vitalmente interessados nos eurobonds. Dizer não enquanto a Sra. Merkel disser não e mudar quando esta mudar, é menos do que nada e seguramente bem pouco patriótico. A Sra. Merkel já rejeitou os “resgates” financeiros dos países deficitários e foi obrigada a mudar de ideias. Portugal foi o terceiro e nada garante que a lista se tenha encerrado. É certo: mais tarde ou mais cedo, a Sra. Merkel acabará por aceitar a emissão de dívida pública europeia. Para Portugal é que não é indiferente o quando. Porque é tarde demais.

Luís Moleiro

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A GRÉCIA NA VERDADEIRA PENÚRIA

As medidas impostas à Grécia pela troika já atingiram um ponto tal que, nas escolas, as crianças são obrigadas a contentar-se com fotocópias em vez de livros. Sobre este tema, ler um importante texto AQUI.

TSU, COMPETITIVIDADE E BAIXOS SALÁRIOS

Pedro Vaz Serra é um economista de Coimbra, dirigente de uma associação empresarial do centro do país e, em princípio, insuspeito de ligação a qualquer estrutura sindical ou organização “esquerdista”. Posto isto, vejamos a sua posição sobre a relação existente entre a TSU, os salários baixos e a competitividade em Portugal. O texto que escreveu com o título “A TSU e a competitividade” é extenso, e, por isso deixamos aqui a parte mais suculenta, tentando não desvirtuar o seu sentido.

“A Taxa Social Única (TSU) foi um dos assuntos recorrentes da última campanha eleitoral e, já depois da posse do Governo, tem sido um tema permanente da agenda nacional.
A Competitividade (sim, em letra maiúscula, entendida como um desígnio nacional) é um conceito transversal à economia global e, de forma particular, uma prioridade para Portugal, muito discutida na última semana, com a apresentação do Ranking Mundial da Competitividade (RMC), elaborado pelo Fórum Económico Mundial.
Vou tentar estabelecer uma relação entre a TSU e a Competitividade e vou tentar desmistificar alguns mitos e conceitos que, ao longo dos últimos anos, têm vindo a prevalecer, em Portugal. Vejamos, então.
O Governo começou por anunciar uma “descida expressiva” da TSU, ainda em campanha eleitoral, já na sequência do acordo estabelecido com as instâncias internacionais. Essa “descida expressiva” passou, rapidamente, para um reajustamento eventual e progressivo e, mais recentemente, para uma medida a tomar só e depois de ponderados os respectivos efeitos.
Pois, meus estimados leitores, sou completamente contra a descida da TSU. E passo a explicar os motivos.
Primeiro, pelo facto de 99,78% do tecido empresarial português ser composto por micro, pequenas e médias empresas que, no seu conjunto, são responsáveis por 75% do emprego existente. E são estas mesmas empresas que, hoje, enfrentam um período especialmente adverso, com enormes restrições no acesso ao crédito. Ora, como bem sabemos, qualquer descida da TSU que, em teoria, iria diminuir os encargos salariais e aumentar a competitividade dos produtos e serviços destas empresas, será imediatamente transferido para outras prioridade do dia-a-dia destas empresas, com um impacto residual, ou mesmo nulo, no valor final do que produzem.
Segundo, pelo facto de, nesta altura, não ser possível reduzir a TSU sem, previamente, garantir os mecanismos de compensação à perda da receita que lhe está associada. Ora, como bem sabemos, estes mecanismos de compensação, hoje, só podem revestir a forma de um novo aumento de impostos, nomeadamente, sobre o consumo, aumentando, outra vez, o IVA. Mas temos uma grande limitação: é que os portugueses já não aguentam mais aumento de impostos, já não suportam um ónus fiscal superior ao que hoje existe, sendo que, infelizmente, uma grande maioria da população já está muito além do limite. Em síntese, qualquer novo aumento de impostos, para além de não garantir, por si só, mais receita, vai provocar, necessariamente, uma instabilidade social inevitável.
Dito isto, meus estimados leitores, seria bom para o país e ainda melhor para os portugueses que esta questão da TSU ficasse, por agora, resolvida. E a melhor forma de resolvê-la, nestas circunstâncias, é deixar tudo como está.
Agora, vamos ver qual a relação dos encargos salariais com a competitividade de um país.
Portugal ocupa, este ano, a 45ª posição no RMC, a 18ª posição na Europa a 27 e, embora tenha evoluído uma posição desde há um ano, convém não esquecer que, em 2005, neste mesmo ranking, estávamos na 22ª posição.
O Fórum Económico Mundial apresenta a Suíça, Singapura e a Suécia como os países mais competitivos do mundo. Logo após estes países e nos dez primeiros lugares, surgem a Finlândia, Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Dinamarca, Japão e Reino Unido. Estranho! Não há um único país, tido entre os 10 mais competitivos do mundo, que tenha atingido este estatuto à custa dos seus baixos salários. Antes pelo contrário, estamos perante países, todos eles, caracterizados por um excelente nível de vida e com uma prática salarial muito acima à média mundial. Então, o que torna competitivos estes países?
Pois é. É que a competitividade, a boa e sustentada competitividade, assenta, não nos baixos salários, mas no justo valor pago pelo que produzimos. Ou seja, pela produtividade. Ou seja, pelo facto de conseguirmos produzir mais, em menos tempo, com melhor qualidade, com melhor preço e, mais importante, produzir com “acréscimo de valor”, o tal conceito que torna os nossos produtos e serviços únicos positivamente comparáveis com o que de melhor se faz por esse mundo fora. Não temos, só, de produzir. Temos, também, de produzir algo diferente, de forma diferente, com transferência de valor para o mercado, para as empresas, para os colaboradores, para os fornecedores e clientes, para a sociedade envolvente.
Em Portugal pagamos salários excessivos a alguns, justos a outros e muito baixos a outros tantos. Mas enquanto tal acontecer, sem critérios racionais e com ausência de percepção dos ganhos de produtividade inerentes, vamos continuar a não ser competitivos – pois os salários não são e não devem ser, para nós, factor de competitividade. E, pior ainda, estamos a cada ano que passa, a criar um país ainda mais desigual, aliás, neste momento, o país mais desigual da Europa.”
(…)

DIA INTERNACIONAL PARA A PRESERVAÇÃO DA CAMADA DE OZONO (16 de Setembro)

A 16 de Setembro de 1987, 46 países assinaram um documento que ficou conhecido por “Protocolo de Montreal”, no qual se comprometeram a parar de fabricar o gás Clorofluorcarbono (CFC), apontado pela comunidade científica como o maior responsável pela destruição da camada de ozono na estratosfera. Para comemorar esse esforço multinacional, a ONU declarou a data como Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozono.
Mais do que assinalar a data, é importante levarmos a cabo acções que impeçam a destruição da camada de ozono, um gás existente nas altas camadas da atmosfera e que tem um papel fundamental para a preservação da vida na Terra. A sua a acção principal é absorver a luz Ultravioleta solar o que o torna um ‘escudo’ natural da Terra (camada de ozono) para os seres humanos e a outras formas de vida, para o qual esses raios são nocivos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

POR FALAR EM GORDURAS...

Depois de um arranque algo atabalhoado, a máquina de propaganda do Governo está a dar mostras de que começou a funcionar. Por exemplo, ainda ontem o país esteve entretido com a divulgação pelos telejornais de que o Governo tinha procedido ao corte de 1712 lugares dirigentes na administração central e à extinção de 162 entidades públicas. No ambiente em que vivemos, a notícia cai muito bem perante a opinião pública embora isso signifique uma poupança irrisória na despesa. Também o Governo anterior fez ainda mais cortes em cargos dirigentes e extingui mais organismos públicos para parecer que mexia nas “gorduras” do Estado e no entanto…
Vivemos num tempo em que é melhor parece-lo do que sê-lo. Isto vai custar-nos muito caro mas, a verdade é que os portugueses parecem impávidos perante todas as sarrafadas que estão a levar.
A propósito da propaganda que tem girado à volta do corte nas “gorduras do Estado”, achámos muito interessante este texto que hoje vinha inserido no “Diário as Beiras”.

Gordura óssea
Nunca tanto se combateu a gordura. Preocupações crescentes com o bem-estar e a saúde, mas também ditames da estética. Há que eliminar as gorduras do Estado – dizem.
E vai daí, pomo-nos todos a pensar que se vai acabar com o desperdício, as frotas de automóveis de alta gama ao serviço de institutos e serviços públicos, as despesas supérfluas de vário tipo, assessorias, comissões ou missões desnecessárias, com os “jobs for the boys”, as mordomias, as ineficiências, a redundância de serviços, serviços sem sentido ou coisa que o valha.
Afinal, seria o que está a mais, custa caro e não serve para nada. E há, sem dúvida, no Estado ou em empresas. No Estado, para satisfação de clientelas. A rapaziada que apoia precisa de ser apoiada – é o lema caro a muitos baronetes que vão governando o país. Nem mais.
Mas afinal o que são as gorduras? Leiam-se os dicionários: “As gorduras, produzidas por processos orgânicos tanto por vegetais como por animais, consistem num grande grupo de compostos geralmente solúveis em solventes orgânicos e insolúveis em água.” Pois parece que há gorduras solúveis e gorduras insolúveis. Que gorduras estão a ser eliminadas? Os salários dos trabalhadores. As prestações sociais que têm afastado da pobreza extrema muitos e muitos milhares de portugueses.
O abono de família era muito gordo, tal como os subsídios de desemprego, o rendimento social de inserção e outros. Gorduras são as verbas necessárias para as escolas que graças aos cortes colossais no orçamento da educação vão ter de trabalhar ao frio e às escuras. As gorduras são as verbas da acção social escolar, com muitos alunos a deixarem de estudar, à medida que o Estado emagrece.
As gorduras são os montantes necessários para o funcionamento de hospitais e de todo o serviço nacional de saúde. Gordos são os enfermeiros que o Estado não pode contratar e que fazem falta aos hospitais. E que de tão gordos e escassos contribuem por ausência para o agravamento atroz das condições de prestação de cuidados de saúde.
As gorduras são as verbas que as Universidades viram desaparecer e agora ainda há quem queira transformá-las em fundações. Talvez, contra a gordura, se entregue a Torre da Universidade ao homem da cortiça e a Via Latina ao senhor dos hipermercados ou a outro senhor da banca! Gordo é o Estado enquanto Estado Social! O Estado é gordo quando serve os mais carenciados, quando paga salários. Só assim. A gordura afinal está no osso!
Que estranho conceito de gordura! Em nome da lipoaspiração, quebram-se os ossos, fractura-se a coluna. Em nome do combate ao desperdício, deita-se fora o menino e guarda-se a água suja do banho. O menino dá-se de presente a “gordos” negociantes, a água suja fica para as lavagens dos mais pobres.
(Francisco Queirós)

Luís Moleiro

DIA DO SNS, 15 DE SETEMBRO

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

DIREITOS DESUMANOS

Mais uma notícia da pátria dos “direitos humanos” que deixaria boquiaberto quem já não conhecesse o que por lá se passa. A história conta-se em poucas palavras: uma mulher de 41 anos foi despedida de uma fábrica onde trabalhava porque faltou ao trabalho para doar um rim a um filho. Na sequência da intervenção cirúrgica a que foi submetida, Cláudia Rendon deu conhecimento ao patrão de que precisaria de mais alguns dias de recuperação para além do que a licença determinava porque sentia ainda muitas dores nas costas. Quando regressou ao trabalho foi informada de que se encontrava despedida tendo o seu lugar sido já preenchido.
Que comentário merece esta lamentável história? Nenhum, para além de constituir mais um exemplo da aplicação da doutrina neoliberal a um caso concreto. Também não mercê grande comentário o facto de esta situação ter passado ao lado de quase toda a comunicação social. Uma tendência que se vem acentuando cada vez mais, à medida que os grandes grupos económicos controlam de forma mais apertada rádios, televisões e imprensa escrita. Para o cidadão comum há que diversificar, ao máximo, as suas fontes de informação se quiser ter algumas hipóteses de não se deixar apanhar por notícias prontas a consumir, à medida de interesses que não são os seus.

Luís Moleiro

ELEVADA TAXA DE POBREZA NOS EUA

É preciso recuar a 1983 para se encontrar nos EUA uma taxa de pobreza mais elevada do que a actual. Segundo dados estatísticos ontem divulgados, o valor da taxa de pobreza naquele país era de 15,1% em 2010, o que corresponde a 46,2 milhões de americanos que vivem em situação de carência. O crescimento da pobreza não deve ser alheio à quebra do rendimento médio das famílias que atingiu 2,3% no mesmo período. Em cada seis americanos um é pobre. É obra num país que com tanta facilidade pretende dar lições ao mundo em termos de direitos humanos!
Mas esta notícia tem duas cerejas em cima do bolo: 1) Entre 1980 e 2010, os 5% mais ricos da população americana viu os seus rendimentos crescerem 42%; 2) Quase 50 milhões de pessoas (16,3%) “não está coberta por seguros de saúde”.
De notar que estamos na pátria em que o neoliberalismo atinge o seu expoente máximo. E é isto que nos querem impor?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

LIGA DOS AMIGOS DO SNS? SIM, OBRIGADO!

O Serviço Nacional de Saúde está a ser alvo de um monumental ataque que visa o seu desmantelamento, de modo a transformar em negócio a maior parte das necessidades de saúde dos portugueses ou seja, a parte susceptível de proporcionar grandes negócios já que a restante, a que não dá lucros continuará a cargo do Estado. É sempre assim e não é preciso ser-se economista ou conhecer muito bem os meandros da política para se perceber onde um governo com a marca ideológica do PSD/CDS quer chegar.
O texto seguinte – transcrevemo-lo do “Diário de Coimbra” de hoje e é da autoria do Presidente da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra – vem na altura certa se quisermos chegar a tempo de impedir a destruição do que de melhor obtivemos com o 25 de Abril. A sua proposta, alem de exequível, faz todo o sentido. Mãos à obra!

Liga dos Amigos do Serviço Nacional de Saúde
O Serviço Nacional de Saúde vai fazer, no dia 15 de Setembro, 31 anos. Apesar de ser jovem adulto a sua saúde é motivo de preocupação. Com efeito, os tempos não estão de feição e teme-se que mais do que uma simples virose venha a ser atingido por grave maleita, pelo que todos aqueles que o desejam forte e saudável não podem deixar de estar preocupados com as ameaças à sua integridade e à sua saúde.
Filho dilecto de Abril tem sido protagonista na melhoria da nossa qualidade de vida e instrumento determinante de coesão social. Os seus méritos são conhecidos e se, como todas as organizações humanas, tem defeitos, a verdade é que, tudo o que lhe devemos, supera em muito aquilo que lhe possamos recriminar.
Universal, geral e tendencialmente gratuito é o grande pilar de um sistema de saúde que emergiu com a liberdade e a democracia. Reflectindo um sentido de generosidade interclassista, ajudou a evitar mais mágoas e mais dores, perante as injustiças e as distâncias económicas e culturais herdadas do passado mas também forjadas no presente.
Mais do que qualquer auto-estrada levou a encontros de informação e prestação de cuidados de saúde, com a consequente partilha de expectativas mais igualitárias de esperança de vida. Assumiu-se, desde o primeiro sopro de vida, como um apóstolo da disseminação da ciência e das técnicas mais sofisticadas, no campo da saúde, pelos difíceis caminhos das periferias, onde ainda não há muitos anos prevaleciam tisanas e abandonos.
Já em tempo se viu alvo de um ataque que felizmente acabou por ser debelado, mas hoje vive uma situação de risco muito elevado, em que, sob a capa de reais dificuldades financeiras e de necessidade de adaptações e melhorias organizacionais, se vislumbram transformações radicais, determinadas por visões contrárias à sua natureza e estatuto.
O verdadeiro problema é de uma inversão de papéis em que o SNS deixe de ser o elemento fundamental do Sistema de Saúde e consequentemente o garante da universalidade e generalidade de prestação de serviços de saúde para o tornar num serviço reduzido, disperso, tecnicamente desqualificado, destinado a “pobres e indigentes”.
Simbolicamente, anuncia-se Coimbra como um dos primeiros campos de batalha no processo de transformação anunciado e também escondido e tudo o que aqui se passar vai ter óbvias repercussões nacionais. Confiante na nossa habitual incapacidade de entendimento e concertação o poder central aposta em fazer-nos exemplo silencioso dessas mudanças contranatura.
Os nossos Hospitais Centrais vão ser o grande exemplo dado á Nação das transformações pretendidas e o nosso eventual silêncio a chancela pretendida para justificar o futuro requiem pelo SNS.
No próximo dia 15 de Setembro celebra-se o dia do SNS. Um dia para relembrar e reflectir, mas também um desejável dia de afirmação na defesa de uma conquista civilizacional dos portugueses.
Talvez pudéssemos, para esse dia equacionar a criação de uma “LIGA DOS AMIGOS DO SNS”, que se assumisse como um fórum permanente de debate sobre políticas de saúde, num contexto de defesa e modernização dum serviço público precioso.
Teríamos assim, um instrumento de mobilização cívica, a intervir organizadamente no espaço público, numa tarefa de reflexão tendente a combater a intoxicação e deturpação da realidade, de que alguns se vão servir para justificar opções políticas de subordinação a compromissos entre interesses particulares ou de grupo, em detrimento de uma perspectiva de defesa do bem comum consagrada no SNS. Fica a proposta e o desafio.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O OUTRO "11 DE SETEMBRO"

Pelas manifestações de pesar que somos dados a observar quando o povo norte-americano sofre alguma tragédia (grande ou pequena), ficamos com a sensação de que a vida de cada cidadão estadounidense tem um valor muito superior ao de qualquer outro no mundo inteiro.
Desde há semanas que as televisões vêm a falar nas comemorações do 10º aniversário dos atentados de 11 de Setembro de 2001, da qual resultaram cerca de três mil mortes. Ainda ontem foram feitas emissões em directo do graund zero, com reportagens, entrevistas e pormenores sem conta relativos aos factos ocorridos e às comemorações. O memorial construído em memória das vítimas tem dimensões gigantescas e lá estão inscritos todos os seus nomes.
Em 11 de Setembro de 2001 foram milhares de pessoas inocentes que pereceram, de forma trágica, por acção de gente sem escrúpulos para quem não existe no dicionário uma palavra apropriada para a classificarmos.
Depois de tudo o que já foi dito e escrito sobre o “11 de Setembro”, a verdade é que ainda restam muitas dúvidas sobre os seus principais mentores e, inclusive, sobre muitos factos ocorridos. A quem serviu tamanha carnificina? Quem sabe se alguma vez seremos esclarecidos!
De qualquer maneira, esta data também nos remete para 1973, quando ocorreu no Chile um golpe de estado sangrento que derrubou um governo democraticamente eleito eliminando um grande chefe de Estado – Salvador Allende. Provocou milhares de vítimas inocentes que tiveram a veleidade de acreditar que poderiam construir um país mais justo e mais solidário, contra a vontade do poderoso vizinho do norte.
Este é um dos casos em que não restam quaisquer dúvidas sobre a interferência directa dos Estados Unidos nos assuntos internos de outro país e que culminou com um banho de sangue e uma ditadura que durou 17 anos. “Fazer uivar de dor a economia” chilena foi a ordem peremptória dada pelo presidente Nixon ao director da CIA. E foi cumprida em pleno, como provam os resultados historicamente conhecidos.
Mas ontem, poucas ou nenhumas referências foram feitas na comunicação social portuguesa ao dia 11 de Setembro de 1973, tão trágico para os chilenos. Tampouco se conhece a existência de um memorial às suas vítimas. Aliás, feitas as contas sobre o número de vítimas civis inocentes provocadas por intervenções directas ou indirectas dos EUA por esse mundo fora, em todos os continentes, muitos países já teriam construído o seu memorial. São tantos que, se fossemos enumerá-los, faltaria sempre algum.

Luís Moleiro

CITAÇÃO

“Onde há troika não há Estado, onde há troika não há esquerda, onde há troika não há oposição.” (Francisco Louçã, coordenador do BE)

A ÁGUA É UM BEM PÚBLICO, NÃO É UM NEGÓCIO

Na intervenção de encerramento do Fórum Novas Ideias para a Esquerda, que decorreu com grande participação em Coimbra no passado fim-de-semana, Francisco Louçã revelou que o BE defende a realização de um referendo sobre a privatização das Águas de Portugal, “mesmo que a 49 por cento”. Esta iniciativa já foi lançada na Assembleia da República, revelou o coordenador do Bloco de Esquerda.

sábado, 10 de setembro de 2011

CAMINHOS PARA A RECESSÃO

Não é preciso ser de esquerda para se ter consciência de que a quebra brutal dos rendimentos do trabalho e a consequente concentração da riqueza nas mãos de uns poucos, não conduzem ao fim da recessão, antes a agravam. Basta olhar para a história do último século para se perceber o que nos espera. Cortes nos salários, redução das prestações sociais, aumento das despesas em transportes, energia, saúde e educação, aumento dos impostos sobre o trabalho, aumento do IVA para reduzir a TSU são alguns dos exemplos que, invariavelmente, se vão traduzir em recessão. Muitos especialistas das mais variadas tendências ideológicas têm-se pronunciando contra as medidas que estão a ser tomadas sem que os poderes constituídos lhes dêem ouvidos.
O texto seguinte é a primeira parte do artigo de opinião – “GORDA AUSTERIDADE” – que Daniel Oliveira assina este sábado no “Expresso”, onde se expõem de forma cronológica os períodos de maior concentração da riqueza, tanto nos EUA como na Europa e as consequências que daí advieram. Não são meras coincidências.

"Robert Reich, Secretário do trabalho de Clinton, num artigo recentemente publicado no “The New York Times”, fez este exercício saudável: olhar para a floresta em vez de se concentrar na árvore. Recordando que há uma coisa em comum entre esta crise e a grande depressão: ambas aconteceram quando a desigualdade na distribuição dos rendimentos atingiu o seu ponto máximo. Em 1928, 1% dos americanos detinha 24% dos rendimentos. Mudaram-se as políticas e em 1976 detinha apenas 9%. Em 2007, chegava aos 23,5%.
Os números são americanos mas servem para a Europa. Entre 1949 e 1979, a produtividade subiu 119% e os salários 79%. Entre 1980 e 2009 a produtividade aumentou 80% e os salários apenas 8%. No primeiro período, os 20% mais pobres aumentaram os seus rendimentos em 122% e os mais ricos em 99%. No segundo período, que começou com a chegada de Reagan e Thatcher ao poder, os mais pobres perderam 4% e os mais ricos ganharam 55%. Para ajudar à festa, as grandes fortunas conseguiram, através da deslocalização de capitais e da pressão sobre o poder político, fugir aos impostos. Foram os trabalhadores que já tinham sido roubados nos salários, a carregar o fardo fiscal. Desde o princípio do século, os ciclos foram estes: concentração de riqueza, crise, políticas redistributivas, prosperidade, concentração de riqueza, crise de novo."


Luís Moleiro

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

TRANSPLANTES EM RISCO

Não nos iludamos – os cortes nos incentivos para a realização de transplantes são uma realidade com efeitos retroactivos desde o início do ano. Além disso, ao contrário do que o ministro da Saúde assegurou na Assembleia da República, a actividade dos transplantes em Portugal está posta em causa, também pelos cortes sistemáticos nas verbas que lhe estavam destinadas.
A Associação de Crianças e Jovens Transplantados ou com Doenças Hepáticas, Hepaturix, alerta que o corte nos incentivos aos transplantes pode “sabotar” a actividade, o que classifica como “um crime”. Em carta enviada a Paulo Macedo, a Hepaturix refere que “dar menos incentivos aos hospitais” para a realização de transplantes e “não permitir a formação de equipas e a sua preparação é pura sabotagem”.
Este é mais um exemplo do ataque que está a ser feito ao Serviço Nacional de Saúde num sector que já atingiu patamares elevadíssimos a nível mundial e que tem salvado imensas vidas. E uma vida não tem preço.

Luís Moleiro

DIREITOS SÓ PARA OS BEM-EDUCADOS

Desconhecemos em quantos países com reconhecidas democracias estáveis existe um cargo no governo que se designe por “Secretário de Estado dos Direitos Humanos”. Pois esse cargo existe em Angola, onde o regime se designa por “democracia” (obviamente entre aspas) e onde os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos constituem uma farsa. Há um governante que se ocupa exclusivamente dos “direitos humanos”. Esse sujeito que dá pelo nome de Bento Bembe, perante a actual onda de repressão que se abateu sobre umas dezenas de manifestantes que ousaram denunciar a corrupção e a falta de liberdade existentes no país fez a seguinte afirmação: “Os cidadãos angolanos têm direitos plasmados na Constituição mas é preciso que sejam educados”.
Ficámos agora a perceber que os “cidadãos angolanos” que não “sejam educados” não gozam dos mesmos direitos que os restantes. Trata-se de uma especificidade do regime de José Eduardo dos Santos para quem não se aplicam os direitos humanos aos cidadãos mal-educados. Desta ainda não se lembrou o governo Passos Coelho/Portas… Convenhamos que nos tempos que correm até dava jeito!

Luís Moleiro

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O EXEMPLO DE LONDRES

O texto seguinte é o excerto de um artigo de opinião de um dos docentes mais prestigiados da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, o prof. Júlio Mota. Deu-lhe o título de “Bilhete postal” e assume a forma de carta aberta ao actual ministro da Economia.
A propósito dos tumultos de Londres ficámos a saber que, desde Março, o actual primeiro-ministro inglês suspeitava que poderiam acontecer como consequência das medidas de austeridade que a Inglaterra iria sofrer. De forma oportunista, tanto o governo britânico como a oposição vieram gritar que as ditas medidas nada tiveram a ver com o desencadear dos distúrbios, atribuindo os mesmos ao puro vandalismo. Por cá, os arautos do sistema afinaram pelo mesmo diapasão e, nenhum, que se desse conta, se fez eco das notícias veiculadas pelo jornal "Guardian", referidas no artigo. Sintomático!
Mas vamos ao texto:

“Estou de férias, algures neste país ultra condicionado pela carestia de vida e pela redução de direitos e rendimentos que os governos, o anterior e este a que o senhor ministro pertence e ainda com mais força este de que agora faz parte, realizaram ou estão a realizar, soberanamente (face ao povo mas não aos mercados e instâncias europeias), e indiferentes aos efeitos que as medidas já provocaram, estão a provocar e necessariamente irão ainda mais intensamente continuar a provocar, e penso que de consequências incalculáveis no futuro.
Londres, aí está a mostrar um dos caminhos possíveis, por aqueles que destas medidas ou equivalentes estão a ser vítimas, Londres também aí está a mostrar o caminho do poder: mais austeridade e mais repressão para as vítimas das suas medidas, mais censura e eventualmente a privação das liberdades de contestar o governo, a liberdade de barrar a Internet, simplesmente a liberdade de aprisionar a própria democracia.
É certo, que Londres, de repente, parecia uma cidade à deriva onde tudo era permitido. Por um lado e primeiro que todos os outros, estiveram e estão os saqueadores (looters) de luva branca, os senhores dos dinheiros e das leis, traders, especialistas financeiros, analistas e contabilistas de alto contorno, especuladores, directores de hedge funds, banqueiros e outros afins, os que a tudo têm direito e, por isso, tudo lhes é permitido no maior paraíso fiscal do mundo. Depois dos com direito a tudo terem tudo saqueado do que lhes era consentido, aparecem de repente, os outros looters, os outros saqueadores, os que irromperam como saindo do nada e a tudo querer ou a tudo não querer mas a tudo destruir.
(…) E que fez o actual primeiro-ministro inglês em Março? Reuniu-se com as altas patentes militares, a fazer fé no jornal Guardian, para se prepararem para os motins que haviam de vir, tendo em conta as fortes medidas de austeridade a que a Inglaterra iria ser submetida. E as medidas vieram! E os motins, esses, vieram também. E hão-de continuar a vir. Face aos violentos distúrbios de Londres, estes mesmos senhores vieram gritar bem alto, todos eles, governo e oposição que as políticas de austeridade recentemente impostas pela pressão dos mercados não têm nada a ver com isto. No contexto da situação inglesa, compreende-se assim que a tónica tenha sido a acusação de falta de civismo, de afundamento moral, mas francamente que dizer das deslocalizações ou da evasão fiscal feita pelas grandes fortunas como acaba de o anunciar Richard Branson, que vai domiciliar o grupo Virgin na Suíça, e por razões fiscais! E creio que em Portugal teremos o mesmo destino que na Inglaterra se não travarmos a tempo a política socialmente suicida que o actual executivo está a assumir, na sequência aliás das assumidas pelo executivo anterior. (…)”

Luís Moleiro

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

MARISA MATIAS EM EVIDÊNCIA

O trabalho que Marisa Matias desenvolve no Parlamento Europeu tem tido pouco realce informativo em Portugal. Em termos de opinião pública é quase como se não existisse. Por isso, é de salientar quando um órgão de comunicação social – mesmo regional – presta alguma justiça ao trabalho da eurodeputada do BE. Deixamos aqui a transcrição de uma notícia inserida na edição em papel do “Diário As beiras”.

Especialistas reunidos no Parlamento Europeu em simpósio
“Um simpósio sobre ensaios clínicos em cancro vai reunir entre hoje e quinta-feira, centenas de especialistas no Parlamento Europeu. Trata-se da sessão “Quality of life, sympton research and patient reported outcomes in cancer trials”, que é já o segundo simpósio da European Organization for Research and Treatment of Cancer. Nos próximos dias serão abordados temas relativos à qualidade de vida relacionada com a saúde, num encontro que junta trezentos especialistas. Estarão presentes docentes internacionais com vários pontos de vista sobre a qualidade de vida relacionada com a saúde e também legisladores da União Europeia que vão interagir com os grupos de pacientes europeus, para promover a colaboração na investigação. A eurodeputada Marisa Matias, responsável pelo acolhimento da iniciativa no Parlamento Europeu, fará uma intervenção de abertura num dos primeiros painéis de quinta-feira pelas 09h00.”
Ver mais pormenores aqui.

APENAS TRICAS DE PODER

No texto que hoje assina no DN, Batista Bastos afirma em voz alta e na sua linguagem escorreita aquilo que muitos cidadãos já pensaram em relação à tomada de posição “do vistoso grupo de militantes graduados do PSD” sobre os repetidos aumentos de impostos a que temos vindo a assistir. O ataque que este grupo desfere a Passos Coelho tem tudo a ver com guerras internas do partido e nenhuma preocupação com as “angústias e pesares” do povo. É bom recordarmos que Manuela Ferreira Leite vetou nome de Passos Coelho para candidato a deputado afirmou, por altura das eleições internas no PSD, que ele pouco diferia de Sócrates… Com as farpas que agora lhe atira, apenas mantém a sua coerência.
Quando aqueles barões ocuparam cargos de poder, fizeram o mesmo ou pior que os actuais – não nos esqueçamos disso. Porém, servem-se de nós para as suas tricas de poder. Uns e outros valem zero porque perfilham a mesma ideologia. A ambição é apenas pelo poder. E é neste ponto que devemos centrar a nossa atenção. A análise de Batista Bastos dá-nos uma ajuda nessa direcção. Por isso, o nosso mais veemente aplauso ao seu artigo de opinião que começa assim:
“Um vistoso grupo de militantes graduados do PSD tem desancado, sincronizadamente, os aumentos de impostos. De repente, Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa e quejandos, movidos por irresistível estremecimento de bondade, fizeram-se paladinos dos desfavorecidos. E as frases utilizadas, para se demarcarem das decisões de Passos Coelho, poderiam, acaso, ser subscritas pelos mais tenazes antagonistas de Esquerda.”

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Luís Moleiro

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

COISAS SÉRIAS DITAS A BRINCAR

PARA MEMÓRIA FUTURA

Mais uma triste história do ex-primeiro-ministro.
Dois meses antes das eleições legislativas de 2009, em mais um espectáculo mediático tão ao seu estilo, José Sócrates anunciou a criação de cinco mil estágios profissionais na Administração Pública, alegadamente para combater o desemprego jovem. A apresentação da iniciativa foi feita numa sessão do Fórum Novas Fronteiras e, como foi dito na altura, visava possibilitar aos jovens com qualificação superior um acesso mais fácil e rápido ao mercado de trabalho. Previa-se que os que obtivessem melhor classificação final pudessem ser recrutados de imediato.
Assim, entre Julho e Setembro de 2010, ao abrigo do Programa de Estágio Profissional na Administração Central, 2804 jovens licenciados começaram a exercer funções em mais de uma centena de organismos públicos. Passado um ano, o resultado foi a obtenção de zero contratos de trabalho. Com a agravante de que, para além de não terem direito a férias, como não descontaram para a Segurança Social, não vão receber qualquer subsídio de desemprego.
Esta notícia vinha inserida na última edição da revista “Sábado”. Constitui mais um exemplo da forma de actuação de Sócrates e contribui para evitar o branqueamento da imagem do belo exemplar que tivemos como primeiro-ministro. Dele já nos livrámos mas Passos Coelho também não será recordado por bons motivos. Ainda não estão decorridos três meses de governação e já percebemos o que nos espera…

Luís Moleiro

domingo, 4 de setembro de 2011

TÃO AMIGOS QUE ELES ERAM!

Uma das bandeiras que as democracias ocidentais constantemente exibem é a da defesa dos direitos humanos, diga-se, em abono da verdade, com muita hipocrisia à mistura. Mal um bom negócio surge no horizonte, nomeadamente no que se refere ao petróleo, eis que qualquer tirano é imediatamente transformado em pessoa de bem e recebido de braços abertos. Os exemplos são mais que muitos, sobretudo nas ditaduras que pululam no médio oriente. O mal de alguns tiranos chega quando caem em desgraça perante os seus apoiantes ocidentais. Assim aconteceu com Saddam Hussein num passado recente e, agora, com Kadhafi. Os senhores do petróleo da Líbia já são outros e o facínora já tem as mãos tão manchadas de sangue que se tornou impossível ignorá-lo perante a opinião pública.
Portanto, não admira que vários jornais britânicos e norte-americanos venham agora revelar documentos secretos que atestam uma forte ligação de Kadhafi ao Reino Unido, ao Governo de George W. Bush e à CIA.
Os documentos revelam que, na sequência dos voos secretos da CIA, foram enviados prisioneiros para a Líbia a fim de lá serem interrogados, sugerindo mesmo as perguntas que deveriam ser feitas. A agência de espionagem americana até teve em Tripoli uma presença permanente em 2004. Por outro lado, também se ficou agora a saber que os serviços de espionagem britânicos M16 entregaram ao ditador líbio informações sobre pessoas que se opunham ao seu regime. Chegou-se ao ponto de funcionários britânicos ajudarem a redigir o esboço de um discurso para Kadhafi, quando este decidiu há alguns anos abandonar o apoio a grupos terroristas e passar a colaborar com o ocidente. Outros documentos dão a conhecer ainda que a União Europeia e o Reino Unido actuaram em nome da Líbia nas negociações deste país com a Agência Internacional de Energia Atómica.
Uma ligação tão estreita a um regime como o da Líbia, muito para além de simples trocas comerciais, deixa uma péssima imagem das democracias ocidentais. Nas relações entre os povos não pode valer tudo.

Luís Moleiro

INSENSIBILIDADE SOCIAL É MARCA DA DIREITA

A insensibilidade social do Governo Passos/Portas é parte integrante da sua acção. Os cortes e mais cortes em áreas essenciais na vida dos cidadãos deixaram de ser novidade no nosso dia-a-dia. As promessas eleitorais são coisa do passado, que só serviu para ganhar votos. Uma vez estes contados e, vencidas as eleições, há que decidir de acordo com as ordens de quem, de facto, manda na UE e o povo que se amanhe. Outros interesses como os do capital financeiro disporão das nossas vidas como melhor lhes aprouver.
A denúncia de todas as malfeitorias que estão a ser levadas a cabo e as que se preparam contra a esmagadora maioria da população portuguesa deve ser feita através de todos os meios legais ao nosso alcance, de forma a impedir, ao máximo, a sua concretização. O texto seguinte da eurodeputada Marisa Matias é um exemplo a seguir.

Cortes sociais+
«Esta semana lá vieram os tão anunciados cortes sociais na despesa pública. Infelizmente, a notícia foi o que se esperava. Mais afectadas foram, em primeiro lugar, a saúde, em segundo, a educação, ciência e ensino superior e, em terceiro, a segurança social. Com esta operação, o governo consegue “poupar” 1,5 mil milhões de Euros. Grande parte desses “custos perdidos” acabou por ser transferido para o lado do já mais do que sobrecarregado orçamento das famílias.
Os cortes vão directamente ao coração de domínios essenciais na vida das pessoas. Quando se abatem 800 milhões de euros na saúde (menos 10% do orçamento do ano anterior) é óbvio que serviços fundamentais como os das urgências ou as cirurgias serão afectados. Quando se reduzem 510 milhões de euros na educação e ciência, afirmando que um quinto desse montante se fará suprimindo “ofertas não essenciais no ensino básico”, torna-se também evidente que até o leite escolar pode estar em causa. Quando “desaparecem” 205 milhões na segurança social, o pobre tem razões para desconfiar. Com efeito, mais de um terço do montante obtém-se pela “melhoria dos procedimentos inerentes à aplicação das condições de recurso no acesso às prestações sociais”. Ou seja, os beneficiários das prestações sociais passam à condição de ‘suspeitos’ e a garantia de recorrer de uma decisão administrativa torna-se uma função de ‘limpeza’ do sistema. A sensibilidade social não faz parte da acção governativa. Não há ‘passe social+’ que disfarce.
O governo bem pode tentar refugiar-se na troika para justificar estas e outras medidas, como a tenebrosa antecipação para Outubro da subida do IVA sobre a electricidade e o gás, de 6% para 23%. Ao contrário do que anunciaram, os cortes não abatem as “gorduras” e não são, sequer, uma dieta. Atingem antes o núcleo duro da função social do Estado. Foi, aliás, o enfraquecimento do Estado social durante anos que tornou possível que os “cortes fáceis” sejam os que afectam domínios que determinam a própria razão de existência do Estado. Houve um tempo em que este ainda era visto como garantia de igualdade social, de acesso à saúde ou à educação. É caso para dar razão ao ditado: “eira que não tem beira, o vento leva os grãos”. Nos últimos anos foram-se as “beiras”, o governo recolhe agora os grãos.»

sábado, 3 de setembro de 2011

O EXEMPLO DO BRASIL

É recorrente que gente do PS, desde simples militantes até pessoas com responsabilidade dentro do partido, perante políticas concretas, tomem posições diferentes conforme estão ou não no Governo. É o que está a acontecer agora em relação às medidas contraccionistas da economia que Passos Coelho está a tomar que não são mais que a continuação das políticas de Sócrates, embora mais violentas. É um acelerar do passo para o abismo cujo primeiro sinal foi dado pelo PS. Fomentar e facilitar os despedimentos, reduzir os salários e prestações sociais, retirar direitos aos trabalhadores, aumentar desmedidamente os impostos para os que já são os mais penalizados e, de um modo geral, atacar as condições de vida da maioria da população só pode levar a uma contracção ainda maior da economia, com terríveis consequências para a maior parte dos portugueses.
O texto seguinte, que transcrevemos do “Diário as beiras”, é da autoria de um “socialista” de Coimbra e vem demonstrar os bons resultados das políticas económicas expansionistas levadas a cabo no Brasil. Ainda há seis meses, talvez esta opinião tivesse ficado na gaveta…

Melhor defesa é o ataque
“Em 2008, quando a crise mundial começou a atingir contornos de enorme gravidade, sobretudo nos Estados Unidos, rapidamente alastrando à Europa, o então Presidente do Brasil, Lula da Silva, deixou escapar uma expressão que ainda hoje se ouve repetir amiúde: a crise nos EUA era um tsunami, no Brasil seria apenas uma marola (onda pequena).
Passados alguns anos, e sem que a crise abandone os EUA e a Europa, o Brasil continua a viver um dos melhores momentos da sua história. É, como aqui se diz, “a bola de vez”. O crescimento previsto é superior a 4% para este ano, a inflação controlada e o dito “pleno emprego” uma realidade. Todos os indicadores demonstram que o Brasil progride para se tornar em breve numa das maiores potências do Mundo. Durante muito tempo os chamados países emergentes observaram os países desenvolvidos como modelos políticos, económicos e sociais. Hoje é tempo de se fazer o exercício contrário. Sem presunção e com humildade académica (pelo menos) tentar perceber por que se vive hoje melhor no Brasil?...
Em Portugal – e o exemplo serve para muitos países europeus – o governo insiste em aumentar os impostos (seja sobre os rendimentos, seja sobre o consumo), estrangulando ainda mais as famílias e decapitando qualquer possibilidade de estimular a economia por via do investimento e consumo.
Em Portugal, faz-se de conta que se corta na despesa pública, porquanto a proliferação de organismos, agentes e entidades supérfluas abunda. Não se protegem as empresas portuguesas nem se estimulam as que mais exportam – única via para a saída da crise! No Brasil, Lula fez o oposto: baixou os impostos nos automóveis, nos electrodomésticos, lançou programas para construção de casas para classes mais desfavorecidas. Com isto – que parece pouco – por exemplo estimulou o consumo de milhões de brasileiros emergentes, alavancou a indústria do automóvel nacional e a construção civil. Hoje, sentem-se os efeitos positivos de tais medidas expansionistas. Em suma, quando uns travam “às quatro rodas” outros preocuparam-se em acelerar, comprovando que a melhor defesa é o ataque.”

Luís Moleiro

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

PORTAGENS: PODEMOS CONFIAR NO BLOCO

A DANÇA DOS TACHOS

Segundo a edição online do “Jornal do Algarve”, Alberto Almeida tomou hoje posse como novo Director Regional de Educação do Algarve.
Como currículo apresenta a “experiência enquanto professor do ensino secundário” e as funções de vereador da Câmara Municipal de Olhão onde é responsável pelos pelouros do trânsito, gestão de parques e relações internacionais que como bem sabemos são áreas que têm tudo a ver com a educação…
Não fazemos ideia de quantos professores algarvios conhecem este colega mas, com o currículo que apresenta, em especial como vereador, não há dúvida que o corpo docente do Algarve está bem aviado! A informação do jornal não indica a cor do cartão partidário, importantíssimo para atestar competências. Mas, presume-se…

DIVERGÊNCIAS À DIREITA

O primeiro indício de que a direita do Governo não está a gostar dos sucessivos aumentos de impostos, determinados pelo Ministro das Finanças, apareceu nos blogs de orientação conservadora. Hoje, o desconforto centrista com aquelas medidas notou-se melhor com a tomada de posição de deputados do CDS. “Somos e seremos contra o aumento de impostos” proclamou João Almeida. Também o deputado Adolfo Mesquita lamentou que “no documento de estratégia orçamental, as medidas de correcção do desvio” estejam “todas do lado da receita”.
É natural esta reacção, exactamente no momento em que, para calar algumas bocas vindas da esquerda, o primeiro-ministro tenha decidido taxar, ainda que simbolicamente, uma pequena parte dos rendimentos mais elevados. É claro que não houve divergências enquanto, das mais diversas formas, foram espremidos os mais pobres. Quando os melhor remunerados levaram um pequeno beliscão, eis que o verniz estala. Afinal, é para isto que lá está o CDS!

Luís Moleiro

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

MAIS CORTES NA SAÚDE

Faz todo o sentido o primeiro-ministro Passos Coelho recusar uma taxa sobre as grandes fortunas e, ao mesmo tempo, ser anunciado um aumento para o dobro dos cortes nos custos operacionais dos hospitais, centros hospitalares e unidades locais de saúde integrados no sector empresarial do Estado. Afinal, é um governo de direita que agora está à frente dos destinos de Portugal. A sua orientação ideológica, com base na doutrina neoliberal obriga a que se defendam, em primeiro lugar, os interesses dos ricos e poderosos e se vá calando os pobres com esmolas. Só os mais distraídos poderão ficar espantados.
Não é ao acaso que o dr. Paulo Macedo, Ministro da Saúde, vai à missa todos os dias…

CITAÇÕES

“Que temos, dois meses depois? Pensões e salários violentamente tributados, dividendos e transferências para os offshores isentadas. Dez por cento do PIB nas mãos dos 25 mais ricos, cujo património aumentou 17,8 por cento. Impostos e mais impostos, que juraram não subir e de que se serviram para correr com o outro. Aumentos brutais do que é básico, da saúde aos transportes, passando pela electricidade e gás. Venda em saldo do BPN, sem direito sequer a saber os critérios da escolha da proposta mais barata, depois de todos nós termos subsidiado com 2.400 milhões de euros, pelo menos, vigaristas, donos e falsos depositantes. Afã para vender a água que beberemos no futuro. Quinhentas nomeações para a máquina do Estado, cuja obesidade reprovavam. Abolição da gravata. Espionagem barata com muito, mesmo muito, por esclarecer. Descoberta de um caixote de facturas não contabilizadas no esconso de um instituto em vias de fusão. Início da recuperação do TGV, antes esconjurado.” (Santana Castilho, Professor do Ensino Superior)

“Quando Passos Coelho declara que não vai enviar ao Parlamento o resultado do inquérito às fugas de informação e às escutas, sob o pretexto do "segredo de Estado", a figura do poder e o desprezo pela democracia revelam-se sem dissimulação.” (Batista Bastos, Jornalista)

[Américo Amorim] “sendo o homem mais rico de Portugal, talvez não entre no reino de Deus. No entanto, na qualidade de pobre de espírito tem entrada garantida.” (Ricardo Araújo Pereira, humorista)