sábado, 17 de setembro de 2011

FALTAM LIDERANÇAS

Há décadas que não surgem na Europa lideres de qualidade. Em Portugal não se vislumbra que tal venha a acontecer a curto ou médio prazos nos partidos mais representativos do eleitorado. A situação é aflitiva em momentos de grandes decisões quando precisamos de chefes com rasgo e sentimos que o país se encontra entregue uma garotada que só é capaz de navegar á vista de terra, sem um rumo definido. Esta situação não deve ser alheia ao facto de o aparecimento de um líder, em vez de emergir, com naturalidade, das bases, ser fomentado a partir de cima, sem quaisquer qualidades, com uma áurea de competência gerada artificialmente por uma qualquer empresa de criação de imagem.
Depois de cerca de três meses à frente do Governo, Passos Coelho já nos deu a entender que não tem qualidades para o cargo que ocupa. As opiniões que já emitiu sobre os eurobonds são o exemplo mais recente dessa evidência. Marisa Matias agarrou muito bem neste tema como se pode constatar no texto seguinte.

Sr. Primeiro-ministro, pode explicar por favor?
De um primeiro-ministro espera-se programa, capacidade de negociação e clareza. Retenho-me na clareza. Como não existe em abstracto, o concreto, no caso em apreço, chama-se posição sobre a emissão de eurobonds. Em miúdos: equivalente a títulos do tesouro europeus, ou seja, comuns aos países da União Europeia.
O debate sobre os eurobonds não é novo. É, aliás, tão velho que chega requentado. Muitos economistas sustentam que a sua emissão seria crucial para a Europa, mas é também por demais evidente que ela tarda, e muito. Para quem defende que a nossa crise é meramente nacional, o resultado da nossa incompetência, quando não preguiça, os eurobonds seriam não apenas dispensáveis, como um mau substituto para as medidas de austeridade. Mas para quem entenda que a nossa crise é inseparável da crise do euro, então o debate sobre os eurobonds não pode ser ignorado.
O mistério é: Passos Coelho é ou não favorável à emissão de eurobonds?
Comecemos pela putativa entre o Primeiro-ministro e o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o primeiro contra, o segundo a favor. Veio então o Ministro das Finanças garantir que não havia divergência. Disse mesmo que, depois de atenta revisão das declarações de um e de outro, a sua interpretação era a de que as afirmações de ambos eram “compatíveis” e que traduziam a posição do governo…
Ok. Pergunta seguinte: mas qual a posição do governo?
Resposta: depende. Se for em semana de visita à Sra. Merkel, o Primeiro-ministro será totalmente contra. Se for em semana de debate parlamentar, o Primeiro-ministro terá uma posição assim-assim. Se for em dia de reacção às declarações de Durão Barroso, o Primeiro-ministro estará numa posição absolutamente “compreensível”, mas ainda para o lado contra. Compreensível porque a proposta da Comissão não é nova e faz parte das suas “obrigações”. Quanto a Paulo Portas, sabe-se que gostaria mas evita dizê-lo em voz muito alta.
Que o Primeiro-ministro não tenha uma posição clara, é que já não se compreende. Se Passos Coelho recusa esta forma de financiamento como parte da solução para a crise das dívidas soberanas, isso significa que recusa igualmente o envolvimento dos credores. Resta-lhe, portanto, a receita que tem aplicado: menos salários, mais impostos, cortes nos serviços públicos, mais desemprego. A questão é: porquê, se há alternativa?
Ninguém espera que Passos Coelho lidere a política económica europeia. Aí as mãos são outras. Seria, contudo dispensável a atitude submissa. Triste posição a do governo português, quando é um dos mais vitalmente interessados nos eurobonds. Dizer não enquanto a Sra. Merkel disser não e mudar quando esta mudar, é menos do que nada e seguramente bem pouco patriótico. A Sra. Merkel já rejeitou os “resgates” financeiros dos países deficitários e foi obrigada a mudar de ideias. Portugal foi o terceiro e nada garante que a lista se tenha encerrado. É certo: mais tarde ou mais cedo, a Sra. Merkel acabará por aceitar a emissão de dívida pública europeia. Para Portugal é que não é indiferente o quando. Porque é tarde demais.

Luís Moleiro

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