sábado, 24 de setembro de 2011

NEOLIBERALISMO PURO E DURO

Em Portugal não há imprensa de esquerda. Os cidadãos situados nesta área política têm de contentar-se com a leitura de opiniões de gente de esquerda, muito dispersa em várias publicações, o que torna difícil a sua localização. Felizmente existe a blogosfera que impede um total domínio da ideologia que vem dominando o planeta. Mesmo assim, a maior parte da população só tem acesso à informação e opinião que os grandes grupos económicos que dominam a comunicação social permitem. Ter consciência desta situação já é importante para nos prevenirmos em relação à informação que chega até nos. Há sempre que desconfiar das fontes.
O semanário “Expresso” é tendencialmente de direita e no seu suplemento “Economia” não há qualquer opinador que não se reveja mais ou menos naquela área. Por isso, é insuspeita de esquerdismo a opinião de Nicolau Santos, muito crítica em relação ao rumo que muitas medidas do actual Governo estão a tomar. Afirma ele:
“A orientação ideológica deste Governo, a coberto do acordo com a troika, visa retirar direitos aos trabalhadores, fragilizar as relações laborais, flexibilizar os despedimentos e reduzir as indemnizações, em favor dos empregadores e, latu senso, do capital. Em paralelo segue uma redução drástica dos apoios sociais públicos na saúde, na velhice, no desemprego, na educação, no desporto, na cultura e tudo o mais, o que conduzirá no final a uma caricatura do Estado social que hoje existe; e pretende a privatização sem qualquer estratégia de empresas públicas ou participações estatais, o que deixará o país sem qualquer centro de decisão nacional, ou seja, completamente indefeso do ponto de vista económico. É um modelo tatcheriano com 30 anos de atraso, aplicado sem nenhuma consciência da desestruturação que provocará na sociedade portuguesa e assente unicamente na fé irracional (e não provada cientificamente) de que quando tudo for público estiver arrasado, o país ressurgirá das cinzas, conduzido por uma iniciativa privada moderna, dinâmica e inovadora.
A proposta do Governo aos parceiros sociais para acrescentar novas justificações ao despedimento individual (incumprimento de objectivos e quebra de produtividade) é iníqua mas constitui mais uma pedra no caminho pelo qual o Executivo optou no sentido de, como diria Thatcher, “partir a espinha” aos sindicatos e aos trabalhadores.”
Estas críticas são tão claras e contundentes, vindas do próprio interior do sistema, que não deixam margem para dúvidas e devem abalar as consciências dos portugueses no sentido de não acreditarem na inevitabilidade das medidas que estão a ser tomadas, as quais vão comprometer de forma irreversível o nosso futuro colectivo.

Luís Moleiro

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