domingo, 4 de setembro de 2011

TÃO AMIGOS QUE ELES ERAM!

Uma das bandeiras que as democracias ocidentais constantemente exibem é a da defesa dos direitos humanos, diga-se, em abono da verdade, com muita hipocrisia à mistura. Mal um bom negócio surge no horizonte, nomeadamente no que se refere ao petróleo, eis que qualquer tirano é imediatamente transformado em pessoa de bem e recebido de braços abertos. Os exemplos são mais que muitos, sobretudo nas ditaduras que pululam no médio oriente. O mal de alguns tiranos chega quando caem em desgraça perante os seus apoiantes ocidentais. Assim aconteceu com Saddam Hussein num passado recente e, agora, com Kadhafi. Os senhores do petróleo da Líbia já são outros e o facínora já tem as mãos tão manchadas de sangue que se tornou impossível ignorá-lo perante a opinião pública.
Portanto, não admira que vários jornais britânicos e norte-americanos venham agora revelar documentos secretos que atestam uma forte ligação de Kadhafi ao Reino Unido, ao Governo de George W. Bush e à CIA.
Os documentos revelam que, na sequência dos voos secretos da CIA, foram enviados prisioneiros para a Líbia a fim de lá serem interrogados, sugerindo mesmo as perguntas que deveriam ser feitas. A agência de espionagem americana até teve em Tripoli uma presença permanente em 2004. Por outro lado, também se ficou agora a saber que os serviços de espionagem britânicos M16 entregaram ao ditador líbio informações sobre pessoas que se opunham ao seu regime. Chegou-se ao ponto de funcionários britânicos ajudarem a redigir o esboço de um discurso para Kadhafi, quando este decidiu há alguns anos abandonar o apoio a grupos terroristas e passar a colaborar com o ocidente. Outros documentos dão a conhecer ainda que a União Europeia e o Reino Unido actuaram em nome da Líbia nas negociações deste país com a Agência Internacional de Energia Atómica.
Uma ligação tão estreita a um regime como o da Líbia, muito para além de simples trocas comerciais, deixa uma péssima imagem das democracias ocidentais. Nas relações entre os povos não pode valer tudo.

Luís Moleiro

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