quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ESQUELETOS A DESCOBERTO

Os portugueses têm o hábito, em parte, salutar de anedotar assuntos sérios que muitas vezes nos atingem enquanto povo. É talvez uma forma de exorcizarmos demónios que nos atormentam e relativamente aos quais nos sentimos impotentes ou não temos coragem para os enfrentar.
Os mais velhos lembram-se bem do tempo da ditadura e dos milhares de anedotas cuja figura central era Salazar. Apesar da censura a transmissão realizava-se boca a boca e, rapidamente, faziam parte do domínio público. O ditador era ridicularizado mas, nem o seu poder nem o aparelho repressivo que nos oprimia sofriam qualquer beliscadura.
Os tempos mudaram, vivemos num regime em que (ainda) não somos presos por delito de opinião mas continuamos atormentados por figuras grotescas, das quais sentimos, por vezes, dificuldades em nos livrarmos delas apesar de facilmente o podermos fazer através do voto. Assim aconteceu há pouco tempo com Sócrates e vamos pelo mesmo caminho em relação a Alberto João Jardim (AJJ). Infelizmente este caso ainda é mais complicado do que o do anterior primeiro-ministro pois a solução está a cargo, apenas, do eleitorado da Madeira e, aqui, as pessoas estão aprisionadas pela “verdade” de quem até agora lhes mentiu.
Por estes dias, a figura extravagante, boçal e malcriada de AJJ contribuiu para a proliferação de anedotas nas redes sociais. Não é caso para menos na medida em que ele se pôs mesmo a jeito…
Num artigo de opinião que hoje pudemos ler no “Diário de Coimbra”, significativamente intitulado “Albertonis Yanis Jardinopoulos”, o seu autor refere, a certa altura, o que afirmava ao “Expresso”, por volta do décimo ano da autonomia da Madeira um destacado dirigente do PSD que tinha estudado em Coimbra “com o presidente vitalício” daquela região autónoma: “sempre achei que era uma loucura entregar a Madeira ao Alberto João”. Mais adiante, acrescenta o articulista, em forma de pergunta: “Como pode Portugal fugir de ser conotado com esse “homem de estado” que, com a mesma energia e inconsciência de estudante de Coimbra, rouba à tripa forra o país de cubanos a que diz não pertencer, como quando de capa e batina roubava as figuras do presépio da cidade dos estudantes para as exibir despudoradamente na varanda lá de casa? (ainda hoje lá está uma vaca em tamanho real)”.
O que é lamentável é que os esqueletos, que imensa gente suspeitava haver nos armários de AJJ, apenas vissem a luz do dia por acção de um entidade estrangeira, por falta de coragem política de várias levas de governantes de diferentes cores políticas, leia-se PS, PSD e CDS.

Luís Moleiro

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