segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O OUTRO "11 DE SETEMBRO"

Pelas manifestações de pesar que somos dados a observar quando o povo norte-americano sofre alguma tragédia (grande ou pequena), ficamos com a sensação de que a vida de cada cidadão estadounidense tem um valor muito superior ao de qualquer outro no mundo inteiro.
Desde há semanas que as televisões vêm a falar nas comemorações do 10º aniversário dos atentados de 11 de Setembro de 2001, da qual resultaram cerca de três mil mortes. Ainda ontem foram feitas emissões em directo do graund zero, com reportagens, entrevistas e pormenores sem conta relativos aos factos ocorridos e às comemorações. O memorial construído em memória das vítimas tem dimensões gigantescas e lá estão inscritos todos os seus nomes.
Em 11 de Setembro de 2001 foram milhares de pessoas inocentes que pereceram, de forma trágica, por acção de gente sem escrúpulos para quem não existe no dicionário uma palavra apropriada para a classificarmos.
Depois de tudo o que já foi dito e escrito sobre o “11 de Setembro”, a verdade é que ainda restam muitas dúvidas sobre os seus principais mentores e, inclusive, sobre muitos factos ocorridos. A quem serviu tamanha carnificina? Quem sabe se alguma vez seremos esclarecidos!
De qualquer maneira, esta data também nos remete para 1973, quando ocorreu no Chile um golpe de estado sangrento que derrubou um governo democraticamente eleito eliminando um grande chefe de Estado – Salvador Allende. Provocou milhares de vítimas inocentes que tiveram a veleidade de acreditar que poderiam construir um país mais justo e mais solidário, contra a vontade do poderoso vizinho do norte.
Este é um dos casos em que não restam quaisquer dúvidas sobre a interferência directa dos Estados Unidos nos assuntos internos de outro país e que culminou com um banho de sangue e uma ditadura que durou 17 anos. “Fazer uivar de dor a economia” chilena foi a ordem peremptória dada pelo presidente Nixon ao director da CIA. E foi cumprida em pleno, como provam os resultados historicamente conhecidos.
Mas ontem, poucas ou nenhumas referências foram feitas na comunicação social portuguesa ao dia 11 de Setembro de 1973, tão trágico para os chilenos. Tampouco se conhece a existência de um memorial às suas vítimas. Aliás, feitas as contas sobre o número de vítimas civis inocentes provocadas por intervenções directas ou indirectas dos EUA por esse mundo fora, em todos os continentes, muitos países já teriam construído o seu memorial. São tantos que, se fossemos enumerá-los, faltaria sempre algum.

Luís Moleiro

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