domingo, 24 de agosto de 2014

AS CONTRADIÇÕES DE MARINHO


Para quem esteve atento, a campanha de Marinho e Pinto para as eleições para o Parlamento Europeu constituiu o exemplo acabado da mais pura demagogia e do pior que constitui o populismo mais desenfreado. O antigo bastonário da Ordem dos Advogados lançou mão de todo o argumentário anti-política e anti-políticos que as pessoas mais ingénuas gostam de ouvir e em que se diz tudo e o seu contrário para conquistar a simpatia dos eleitores. O conteúdo destas mensagens é nulo mas essa é mesmo a intenção de quem as emite. Não há que transmitir ideias, há que conquistar votos.
Curiosamente, em menos tempo do que se imaginaria, Marinho e Pinto mostrou a sua verdadeira face – o pior que há na política e nos políticos. Mais uma vez, fica provada a ideia de que se deve desconfiar fortemente de todo o indivíduo que, ingressado na vida política se quer fazer passar por não político. Mais tarde ou mais cedo, toda a podridão das suas intenções vem à tona.
Vários artigos de opinião têm vindo a chamar a atenção para as contradições em que está a cair Marinho desde que tomou posse como novo deputado do PE. É o caso do texto de Fernando Madrinha que transcrevemos do Expresso de ontem e que, em poucas palavras diz muito do que é importante sobre o tema em análise.
Quando se candidatou a deputado, há apenas três meses, Marinho e Pinto não podia ignorar o que é o Parlamento Europeu nem se se considerava apto e motivado para desempenhar a função que se propunha. De igual modo estava ao corrente, ao menos por ler nos jornais, das ideias feitas sobre o PE, umas justas, outras, nem por isso, desde a força dos lóbis ao seu funcionamento até ao diktat do politicamente correto, incluindo, por exemplo, matérias de costumes e questões sexuais, por causa das quais foi rejeitado pelo grupo parlamentar em que pretendia integrar-se. E menos ainda ignorava o valor dos salários e das mordomias que os eurodeputados se outorgam e que tanto o indignam agora, mas dos quais, curiosamente, não tenciona abdicar enquanto volta e não volta.
Marinho não podia ignorar tudo isto e muito mais. Mas se ignorava, como tenta convencer-nos nas entrevistas em que, uma semana depois de ter chegado, anuncia uma renúncia ao mandato europeu para se apresentar a todas as eleições que se seguem – primeiro à Assembleia, depois à presidência da República, caminho inverso ao de Fernando Nobre, outro outsider para todo o serviço –, foi um candidato inconsciente, para dizer o mínimo. Não merece os votos de quem lhos entregou, na boa-fé de estar a eleger alguém capaz para o cargo que ele agora despreza.
Com tão flagrante impreparação, a serem verdadeiros o desconhecimento que alardeia e a surpresa com o que encontrou em Bruxelas, o mais provável era que viesse a ser também um eurodeputado inútil, pelo que não se perderá grande coisa. Mas, infelizmente, nada garante que, com a mesma ingenuidade com que se deixaram enganar uma vez, muitos eleitores não cedam de novo à demagogia barata e inconsequente, como agora se comprova. Não nos bastam partidos albardeiros. Os espontâneos são da mesma qualidade.

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