Para
quem esteve atento, a campanha de Marinho e Pinto para as eleições para o
Parlamento Europeu constituiu o exemplo acabado da mais pura demagogia e do
pior que constitui o populismo mais desenfreado. O antigo bastonário da Ordem
dos Advogados lançou mão de todo o argumentário anti-política e anti-políticos
que as pessoas mais ingénuas gostam de ouvir e em que se diz tudo e o seu
contrário para conquistar a simpatia dos eleitores. O conteúdo destas mensagens
é nulo mas essa é mesmo a intenção de quem as emite. Não há que transmitir
ideias, há que conquistar votos.
Curiosamente,
em menos tempo do que se imaginaria, Marinho e Pinto mostrou a sua verdadeira
face – o pior que há na política e nos políticos. Mais uma vez, fica provada a
ideia de que se deve desconfiar fortemente de todo o indivíduo que, ingressado na
vida política se quer fazer passar por não político. Mais tarde ou mais cedo,
toda a podridão das suas intenções vem à tona.
Vários
artigos de opinião têm vindo a chamar a atenção para as contradições em que
está a cair Marinho desde que tomou posse como novo deputado do PE. É o caso do
texto de Fernando Madrinha que transcrevemos do Expresso de ontem e que, em
poucas palavras diz muito do que é importante sobre o tema em análise.
Quando
se candidatou a deputado, há apenas três meses, Marinho e Pinto não podia
ignorar o que é o Parlamento Europeu nem se se considerava apto e motivado para
desempenhar a função que se propunha. De igual modo estava ao corrente, ao
menos por ler nos jornais, das ideias feitas sobre o PE, umas justas, outras,
nem por isso, desde a força dos lóbis ao seu funcionamento até ao diktat do politicamente correto,
incluindo, por exemplo, matérias de costumes e questões sexuais, por causa das
quais foi rejeitado pelo grupo parlamentar em que pretendia integrar-se. E menos
ainda ignorava o valor dos salários e das mordomias que os eurodeputados se
outorgam e que tanto o indignam agora, mas dos quais, curiosamente, não tenciona
abdicar enquanto volta e não volta.
Marinho
não podia ignorar tudo isto e muito mais. Mas se ignorava, como tenta
convencer-nos nas entrevistas em que, uma semana depois de ter chegado, anuncia
uma renúncia ao mandato europeu para se apresentar a todas as eleições que se
seguem – primeiro à Assembleia, depois à presidência da República, caminho
inverso ao de Fernando Nobre, outro outsider
para todo o serviço –, foi um candidato inconsciente, para dizer o mínimo. Não merece
os votos de quem lhos entregou, na boa-fé de estar a eleger alguém capaz para o
cargo que ele agora despreza.
Com tão flagrante impreparação,
a serem verdadeiros o desconhecimento que alardeia e a surpresa com o que
encontrou em Bruxelas, o mais provável era que viesse a ser também um
eurodeputado inútil, pelo que não se perderá grande coisa. Mas, infelizmente,
nada garante que, com a mesma ingenuidade com que se deixaram enganar uma vez,
muitos eleitores não cedam de novo à demagogia barata e inconsequente, como
agora se comprova. Não nos bastam partidos albardeiros. Os espontâneos são da
mesma qualidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário