sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A ESTRATÉGIA AMERICANA


É do senso comum que, os Estados Unidos da América se encontram crescentemente por de trás dos grandes conflitos armados que assolam cada vez maiores áreas do planeta. Quando algum dos seus interesses estratégicos é colocado em causa, recorre-se à guerra, através de meios próprios apoiados numa monumental operação de propaganda, ou por procuração, com a ajuda de aliados, neste caso, apoiando grupos com armamento e colossais meios financeiros.
O último exemplo, por todos conhecido é o que diz respeito à criação dos grupos terroristas do chamado Estado Islâmico cuja finalidade era “acabar com  Bachar-al-Assad”. O resultado veio a ser, como bem sabemos, uma repetição do que se passou com a Al Qaeda de Bin Laden, criada para combater os soviéticos.
O texto seguinte, que recolhemos do Diário de Coimbra do passado dia 9 de Outubro, contém uma chamada de atenção para o rol de países destruídos por intervenções americanas, com os consequentes e brutais atropelos aos direitos humanos que se lhe seguiram.
Adonis, poeta e ensaísta de origem síria e uma das maiores figuras literárias contemporâneas, diz-nos que o Islão atual é uma confissão com ritos e leis, mas sem cultura, transformado num monoteísmo antidemocrático, numa entrevista concedida ao suplemento literário Babelia (El País, 27 setembro).
Destruíram-se países inteiros (Líbia, Iraque, Síria) para ressuscitar velhas expressões religiosas de há quinze séculos – prossegue o autor – numa regressão vergonhosa e humilhante. O estado islâmico (EI) é uma criação da Arábia Saudita e dos Estados-Unidos e agora têm de combater aqueles que eles próprios armaram”.
Estou certo de que o vice-presidente dos EU não terá lido a extensa entrevista do poeta mas, na conferência que produziu há uma semana [duas semanas atrás] na universidade de Harvard, sobre a política dos EU no Médio-Oriente, não se afastou do cerne do pensamento de Adonis.
Assim, Joe Biden citou os aliados árabes da América e a Turquia pela sua implicação direta com os grupos terroristas do EI. “O único interesse dos turcos, sauditas e restantes monarquias do golfo é acabar com Bachar-al-Assad e, para isso, moveram uma guerra por procuração entre sunitas e xiitas, fornecendo milhões de dólares e toneladas de armas a todos os que aceitassem lutar contra o líder sírio” – sublinhou Biden. Confrontado pelos jornalistas com estas declarações, o presidente turco Erdogan foi claro: “se ele disse isso acabou para mim”.
Por voluntário esquecimento, Joe Biden ignorou que o seu país, desde o início deste século, invadiu ou bombardeou de forma sistemática sete países, da Líbia à Somália, todos eles, hoje, verdadeiros barris de pólvora e veja-se no que se transformou o Iraque, o Afeganistão, o país de Kadhafi ou o Iémen.
Já não basta de assassinatos em massa, as violações de mulheres, que são decapitadas quando ficam grávidas, numa violência sem limites, para que os nossos atuais responsáveis (?) políticos “americanamente coligados” não compreendam ou queiram escamotear das suas fracas consciências que tais situações se podem exportar para esta Europa voluntariamente declinante.
Todos nós nos deveríamos lembrar de Victoria Urban, conselheira para os assuntos europeus do secretário de estado John Kerry, já que mandou todos para o outro lado (fuck the EU, 07/02/14) e foi a estratégia da loucura europeia em Kiev, com o nosso compatriota Durão Barroso sempre na linha da frente, o que conduziu, por exemplo, a Portugal ter seis caças em território lituano a vigiar os céus dos “renegados” russos.
Como a Victoria não brinca em serviço, ei-la durante uma conferência no conhecido CEPA (Center for European Policy Analisis) de Washington, na semana passada [há duas semanas], a ameaçar diretamente os países participantes no denominado “South Stream”, gasoduto russo, que deveria contornar a Ucrânia, pela Croácia, Bulgária, Hungria e Roménia.
Fora deste registo geoestratégico e já que mencionei Durão Barroso, há uma interrogação para a qual não tenho uma resposta esclarecedora. Tal como o atual ministro da educação Nuno Crato, a fazer a sua revolução cultural no ensino, como o demonstrou a abertura do ano letivo, Barroso pertenceu à linha política mais dura do maoismo, depois do 25 de Abril até à conclusão do “programa revolucionário em curso” (PREC). Muitos e excelentes livros de historiadores têm-nos revelado estudos sobre aquele período, a guerra colonial, e a polícia política, pelo que seria interessante investigar o que se passou ideologicamente para maoistas convictos aderirem, com armas e bagagens, ao ordoliberalismo. 

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