É
do senso comum que, os Estados Unidos da América se encontram crescentemente
por de trás dos grandes conflitos armados que assolam cada vez maiores áreas do
planeta. Quando algum dos seus interesses estratégicos é colocado em causa,
recorre-se à guerra, através de meios próprios apoiados numa monumental operação
de propaganda, ou por procuração, com a ajuda de aliados, neste caso, apoiando
grupos com armamento e colossais meios financeiros.
O
último exemplo, por todos conhecido é o que diz respeito à criação dos grupos
terroristas do chamado Estado Islâmico cuja finalidade era “acabar com Bachar-al-Assad”. O resultado veio a ser, como
bem sabemos, uma repetição do que se passou com a Al Qaeda de Bin Laden, criada
para combater os soviéticos.
O
texto seguinte, que recolhemos do Diário de Coimbra do passado dia 9 de Outubro,
contém uma chamada de atenção para o rol de países destruídos por intervenções
americanas, com os consequentes e brutais atropelos aos direitos humanos que se
lhe seguiram.
Adonis,
poeta e ensaísta de origem síria e uma das maiores figuras literárias
contemporâneas, diz-nos que o Islão atual é uma confissão com ritos e leis, mas
sem cultura, transformado num monoteísmo antidemocrático, numa entrevista
concedida ao suplemento literário Babelia (El País, 27 setembro).
Destruíram-se
países inteiros (Líbia, Iraque, Síria) para ressuscitar velhas expressões
religiosas de há quinze séculos – prossegue o autor – numa regressão vergonhosa
e humilhante. O estado islâmico (EI) é uma criação da Arábia Saudita e dos
Estados-Unidos e agora têm de combater aqueles que eles próprios armaram”.
Estou
certo de que o vice-presidente dos EU não terá lido a extensa entrevista do
poeta mas, na conferência que produziu há uma semana [duas semanas atrás] na
universidade de Harvard, sobre a política dos EU no Médio-Oriente, não se
afastou do cerne do pensamento de Adonis.
Assim,
Joe Biden citou os aliados árabes da América e a Turquia pela sua implicação
direta com os grupos terroristas do EI. “O único interesse dos turcos, sauditas
e restantes monarquias do golfo é acabar com Bachar-al-Assad e, para isso,
moveram uma guerra por procuração entre sunitas e xiitas, fornecendo milhões de
dólares e toneladas de armas a todos os que aceitassem lutar contra o líder
sírio” – sublinhou Biden. Confrontado pelos jornalistas com estas declarações,
o presidente turco Erdogan foi claro: “se ele disse isso acabou para mim”.
Por
voluntário esquecimento, Joe Biden ignorou que o seu país, desde o início deste
século, invadiu ou bombardeou de forma sistemática sete países, da Líbia à
Somália, todos eles, hoje, verdadeiros barris de pólvora e veja-se no que se
transformou o Iraque, o Afeganistão, o país de Kadhafi ou o Iémen.
Já
não basta de assassinatos em massa, as violações de mulheres, que são
decapitadas quando ficam grávidas, numa violência sem limites, para que os
nossos atuais responsáveis (?) políticos “americanamente coligados” não
compreendam ou queiram escamotear das suas fracas consciências que tais
situações se podem exportar para esta Europa voluntariamente declinante.
Todos
nós nos deveríamos lembrar de Victoria Urban, conselheira para os assuntos
europeus do secretário de estado John Kerry, já que mandou todos para o outro
lado (fuck the EU, 07/02/14) e foi a estratégia da loucura europeia em Kiev,
com o nosso compatriota Durão Barroso sempre na linha da frente, o que
conduziu, por exemplo, a Portugal ter seis caças em território lituano a vigiar
os céus dos “renegados” russos.
Como
a Victoria não brinca em serviço, ei-la durante uma conferência no conhecido
CEPA (Center for European Policy Analisis) de Washington, na semana passada [há
duas semanas], a ameaçar diretamente os países participantes no denominado
“South Stream”, gasoduto russo, que deveria contornar a Ucrânia, pela Croácia,
Bulgária, Hungria e Roménia.
Fora deste registo
geoestratégico e já que mencionei Durão Barroso, há uma interrogação para a
qual não tenho uma resposta esclarecedora. Tal como o atual ministro da
educação Nuno Crato, a fazer a sua revolução cultural no ensino, como o demonstrou
a abertura do ano letivo, Barroso pertenceu à linha política mais dura do
maoismo, depois do 25 de Abril até à conclusão do “programa revolucionário em
curso” (PREC). Muitos e excelentes livros de historiadores têm-nos revelado
estudos sobre aquele período, a guerra colonial, e a polícia política, pelo que
seria interessante investigar o que se passou ideologicamente para maoistas
convictos aderirem, com armas e bagagens, ao ordoliberalismo.
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