Há
gente séria que pensa no país e nas pessoas mas não dispõe de rios de dinheiro,
algum de duvidosa origem, para espectaculares campanhas eleitorais. É a esta
gente, sem gravata nem colarinho branco que deveria ser dada uma oportunidade
de colocar em prática as suas propostas, sem demagogias nem subterfúgios
populistas.
Por
que será que, a mentira tem saído largamente vencedora quer nas campanhas
eleitorais quer na prática governativa? Os dois últimos governos são o exemplo
mais recente da aplicação desta prática.
Num
artigo de opinião de Marisa Matias que podemos ler na edição de há dois dias do
Diário as beiras, e que reproduzimos a seguir, a eurodeputada do Bloco de
Esquerda afirma, com toda a propriedade que “a banalização da mentira está
inscrita no ADN deste governo”.
As
redes sociais estão cheias das mais descaradas promessas e aldrabices, em
especial de Passos Coelho, ao longo dos últimos quatro ou cinco anos.
“Os
depositantes do BES têm razões para confiar no Banco e os portugueses têm
razões para ter toda a confiança em relação às suas poupanças’. ‘Uma coisa são
os negócios da família Espírito Santo e outra coisa é o Banco’. ‘O BES pode
garantir as economias dos seus clientes e não há nenhuma razão para a
intervenção do Estado”.
Pedro Passos Coelho, 11 de Julho de 2014
Pedro Passos Coelho, 11 de Julho de 2014
“A
solução encontrada para o BES é a que melhor defende os contribuintes’. ‘Nós o
que no passado tivemos e que não deveria voltar a repetir-se, e que não vai
repetir-se, é serem os contribuintes a ser chamados à responsabilidade por
problemas que não foram criados pelos contribuintes”.
Pedro
Passos Coelho, 4 de Agosto de 2014
Confusos
com o Pedro Passos Coelho de Outubro de 2014? O mesmo que diz que, afinal, vai
haver dinheiro dos contribuintes a pagar o BES? Não vale a pena ficar confuso.
A banalização da mentira está, infelizmente, inscrita no ADN deste governo.
Ao
longo deste processo o governo fez uma escolha: induzir os contribuintes em
erro e salvar os grandes credores. Quando um banco vai à falência alguém tem de
perder dinheiro, não há volta a dar, e este governo escolheu salvar os grandes
credores.
Como?
Colocando-os no ‘Banco Bom’. Foi exactamente nesse momento que o governo
decidiu penalizar os contribuintes do mesmo passo que continuava o primeiro ministro
a mentir descaradamente.
O
direito comunitário diz que todos os credores devem ser chamados à
responsabilidade e o governo de Pedro Passos Coelho decidiu proteger alguns: os
grandes. Com o dinheiro de todos nós decidiu que se lhes ia pagar, mas apenas
aos tubarões.
O
que um governo decente deveria fazer – sobretudo depois de um BPN – era
garantir de uma vez por todas que nem mais um cêntimo dos contribuintes seria
gasto na resolução de um banco.
Nem
contribuintes, nem Estado, nem Caixa Geral de Depósitos meterá um cêntimo que
seja num banco falido. Esta deveria ser a regra. O que um governo decente
deveria fazer ainda era evitar um erro a dobrar. Depois de uma má resolução,
preparam-se agora para uma má venda.
Se o ‘Banco Bom’ é viável, o
governo não deveria vendê-lo por ‘dá cá aquela palha’, mas sim mantê-lo na
esfera pública e usá-lo para fazer chegar dinheiro à economia real, sobretudo
como um instrumento para uma política de crédito dirigida às PMEs. Mas este não
é um governo decente. Este é um governo mentiroso.
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