terça-feira, 24 de julho de 2018

AINDA HAVEMOS DE PAGAR BANHOS DE MAR?


O objectivo do capitalismo é, como todos sabemos, a obtenção do lucro. Assim, temos verificado ao longo do tempo e à medida que o sistema mais se consolida, cresce a sua inaudita capacidade para transformar tudo o que mexe em negócios lucrativos. Provavelmente virá o tempo em que teremos de pagar o ar que se respira a alguma empresa privada… Se se compreende com facilidade que a fundação de uma fábrica de refrigerantes, de sapatos, de confecção de roupa, de um restaurante, de um cabeleireiro, de uma loja de pronto a vestir, etc, etc, visem a obtenção do lucro por parte do fundador, o mesmo já não é compreensível se tivermos em conta objectivas necessidades públicas como a distribuição de água potável e da energia eléctrica assim como a rede viária, para não nos alongarmos muito em exemplos, alguns deles muito mais chocantes do que aqueles que existem em Portugal.
Os mais velhos recordam como era fácil acedermos nesta altura do ano a uma qualquer das belas centenas de praias plantadas em Portugal, de norte a sul. Esses extensos areais eram um bem público e, por isso mesmo, de todos e de ninguém. Pois bem, as coisas que já começaram a mudar há algum tempo nesta área, vão tornar-se insuportáveis para muita gente. De uma forma subtil mas forte, directa ou indirectamente, vai passar a custar dinheiro ao cidadão comum tomar um simples banho de mar. Como relata Mafalda G. Moutinho, autora do texto seguinte, que transcrevemos do “Público” de hoje, já há praias da Europa para onde nem sequer é permitido levar guarda-sol ou mesmo fruta para que tudo seja adquirido no local. Será que nos teremos de habituar a esta exploração louca?...  
São muitas as vezes em que os cidadãos se perguntam para onde é canalizado o dinheiro dos seus impostos que, tal como o nome indica, nos são impostos em tempos que dizem ser democráticos.
É difícil perceber a forma como é feita — e sobretudo gerida — esta canalização, que até tem um mapa anual chamado Orçamento do Estado, que por sua vez se ramifica no orçamento dos nossos municípios e das nossas juntas de freguesia.
São estes impostos que cuidam as nossas praias e que, à primeira vista, nos deveriam pertencer a todos. Mas, na realidade, pertencem às mil e uma concessões que ditam as regras e prestam os seus serviços nos nossos areais.
Caminhei por entre a espuma das ondas das praias do concelho de Loulé, tendo sido muito simples aperceber-me que os metros quadrados que pertencem a todos nós — a quem nos são impostos os ditos "impostos" — são cada vez mais diminutos.
Curiosamente, a zona que o município se esqueceu de tornar acessível reserva um areal não concessionado, onde não falta espaço para as nossas sombrinhas de sol. Isto se não nos importarmos com o nudismo que se pratica naqueles metros quadrados.
A verdade é que infelizmente não temos a capacidade dos répteis para sobreviver a uma ida à praia sem uma sombrinha — ou, se preferires, sem um guarda-sol —, nem as patologias de que somos todos vítimas nos permitem sobreviver dessa forma a um dia de praia.
Portanto, esta cobrança caminha de certa forma contra a saúde pública, se pensarmos a fundo. Quantas pessoas aguentam o sol em frente às concessões sem guarda-sol porque os espaços restantes estão todos ocupados, em pleno Agosto?
Porque nestas coisas do Estado Social, parece chato mas é necessário pensar na base da pirâmide — logo, nos que são mais desfavorecidos. Facilmente me dirás que, em muitas praias, que em nada são mais bonitas do que as nossas, do Sul de França e de Itália, nem sequer é permitido levar o próprio guarda-sol porque não existe um único metro quadrado não concessionado. Por sua vez, em algumas praias de Ibiza nem sequer podes levar fruta para a praia, para que a compres no local.
Essas praias — se as dissecarmos a fundo colocando de parte o atractivo por serem “estrangeiras” e mais ou menos paradisíacas ou pitorescas — não têm a vida que transporta o cheiro a Verão através do arco-íris de pantones que preenche e sempre preencheu as praias da nossa costa. Gravam na memória das suas cores ou em nuvens pinceladas a preto e a branco, famílias, gerações e histórias.
São roupas de banho que viram reduzir década após década os seus centímetros de tecido que cobriam os corpos desnudos para, nas modas vintage do tempo presente, os voltarem a vestir. Pergunto-me até onde irá a exploração dos nossos areais e do nosso mar se até já a nossa Costa Vicentina verá o solo ser aberto para extrair petróleo...

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