Se
fosse vivo, Nelson Mandela comemoraria hoje o seu centésimo aniversário. O seu riquíssimo
legado vai, sem sombra de dúvida perdurara para a História porque personalidades
deste calibre só aparecem com uma infinita raridade. A humanidade tem de
registar para sempre o seu exemplo, como pessoa e como líder de um povo que
dedicou toda a sua vida à defesa da liberdade e da democracia na África do Sul,
contra a opressão e exploração da maioria da população.
Como
forma de homenagearmos Mandela, deixamos aqui um texto que evoca a sua
personalidade, da autoria de Afonso Borga, transcrito do “Público” de hoje.
O nome Mandela é sinónimo da luta pela paz e da
conciliação, face à opressão e à segregação. No centenário do seu nascimento
(se fosse vivo, completaria 100 anos hoje, 18 de Julho) e no dia que foi
instituído, em 2009, como o Dia Internacional de Mandela, muitas lições e
aprendizagens estão por tirar dos gestos que nos deixou e da narrativa de vida
e resistência que foi construindo. Lições e gestos que nos devem inspirar para
a resolução de opressões e discriminações que vivemos hoje e que, em muitos
casos, se têm vindo a acentuar.
Numa sociedade na qual proliferam discursos e
palavras, são os gestos que emergem como exemplo e como ponto de mudança de
atitudes e mentalidades. Foram vários os gestos que Mandela nos deixou e que
trazem, subjacentes, profundas mensagens. A começar pelo momento da sua libertação,
ao ter aceitado sair da prisão, onde esteve 27 anos, apenas quando recebeu
garantias de que todos os outros prisioneiros políticos seriam libertados com
ele.
A forma como encarou o seu cargo enquanto presidente
sul-africano (o primeiro presidente negro eleito na África do Sul) é outra
lição, ao ter cumprido um só mandato, deixando depois o poder de livre e
espontânea vontade, transmitindo uma clara mensagem de como os políticos devem
estar ao serviço da política e não dos seus interesses, fortalecendo a
democracia e contrariando assim um dos erros mais comuns na África
pós-colonialista: a perpetuação no poder político.
A
estratégia de como usou o desporto, um agente mobilizador de massas, em
particular o râguebi, para passar uma mensagem de reconciliação e unir um país
que viveu quase 50 anos em apartheid,
um regime de segregação racial.
Mas
a maior lição, e aquela que hoje nos deve ligar e fortalecer, é o diálogo. A
noção de que habitamos um espaço comum e devemos dialogar e chegar a consensos
que permitam que todos vivamos em paz. Foi esta a “arma” que Mandela usou
durante e após os 27 anos em que esteve preso, numa autêntica capacidade de
resiliência e perdão. Foi através do diálogo e da negociação que lutou pelo fim
do apartheid, lançando assim as bases de uma nova África do
Sul e tendo recebido o Prémio Nobel da Paz. Foi através do diálogo que levou a
cabo o seu mandato na era pós-apartheid num clima ainda marcado pelas divisões raciais
entre negros e sul-africanos e pela violência entre ambos. Foi através do
diálogo que, já após o seu mandato, serviu de mediador para a paz no Burundi,
depois de uma longa guerra civil entre etnias diferentes, “tutsis” e “hútus”,
que causou mais de 200.000 vítimas.
É esta capacidade de diálogo e de nos
colocarmos “no lugar do outro” (a chamada empatia) que urge nos dias de hoje,
onde nacionalismos crescem um pouco por toda a parte, milhares de pessoas se
vêem obrigadas a fugir das suas casas todos os dias e fronteiras são fechadas
entre países. São estes exemplos que nos deverão ficar como legado de um dos
maiores defensores da liberdade e dos direitos humanos e um símbolo da paz
mundial.
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