sexta-feira, 13 de julho de 2018

PARA PROTEGER O CAPITAL FINANCEIRO, HÁ SEMPRE DINHEIRO


Qualquer cidadão português tem vindo a constatar que o Estado precisa ter sempre um mealheiro bem recheado para acudir e tapar os desmandos do capital financeiro, não vá suceder que a banca e seus accionistas se vejam privados de lucros, de um momento para o outro. Vai daí, como o dinheiro dos contribuintes não dá para tudo, há que cortar nas despesas sociais, na saúde, na educação e na cultura, para falarmos apenas nos casos que envolvem montantes mais volumosos e que chegam mais depressa à opinião pública.
O texto que apresentamos a seguir é um artigo de opinião, que transcrevemos do Diário de Coimbra de ontem, onde o seu autor, João Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação, coloca o dedo em todas estas feridas.
De facto, a situação demográfica em que nos encontramos tem de merecer um amplo consenso das forças políticas e dos meios empresariais e financeiros, com um estado que indique trajetórias, dando condições reais aos casais que pretendam ter filhos, garantindo o emprego, melhorando-o anualmente e satisfazendo todas as regalias sociais para um dos cônjuges, num período entre três e cinco anos, aproximando-nos da solução dinamarquesa.
Com três milhões de pensionistas, dos quais 2,5 milhões por velhice, 842 mil recebem uma reforma entre €250/300, sendo o valor médio de €1275. Com 133,5 idosos por cada 100 jovens até aos 14 anos, um estudo recente (Inovar a Reforma) estima que, em 2050, os primeiros subam para duzentos.
Passemos, agora, a não menos importante situação das finanças públicas. O FMI (World Economic Outlook, 2017) estima que Portugal, com a quinta dívida mais alta, equivalente a quase 127,5% do Produto Interno Bruto (PIB), tem de pagar, em média por ano, €7,2 mil milhões, apenas em juros da dívida.
Acontece que, em 1991, a dívida pública representava pouco mais do que metade do PIB (54,9%). Apesar das subidas anuais, a situação manteve-se e mesmo quando da demissão de António Guterres (IV Governo Constitucional, Abril 2002) com a frase que ficou célebre “isto é um pântano”, a dívida pública estava nos 56,2% do PIB (Pordata, FFMS). As alterações brutais no endividamento público acontecem nos governos Sócrates (2005/11, mais €89 mil milhões de dívida) pois quando se demite, em Junho, a dívida já estava nos 111,4%, se bem que durante o governo de Durão Barroso/ Santana Lopes é notório o aumento significativo da dívida.
Onde reside esta acumulação desenfreada de dívida pública? Pergunta obrigatória e de resposta simples: o sistema financeiro e a “grande clientela dos negócios”, onde o compadrio e a corrupção generalizada atingiram patamares incontroláveis, mais invisíveis para o Banco de Portugal ou para a Autoridade Reguladora. BPN/Sociedade Lusa de Negócios/Parvaloren/ Banif/BES e o próprio banco público CGD receberam e continuarão a encher-se de dezenas de milhares de milhões para cobrir as “imparidades”, palavra erudita para significar que a hipoteca a que está ligado o empréstimo bancário, nem dá para comprar um rolo de papel higiénico.
Depois do investimento colossal na rutura do BES (Mau/Novo), em 2017, o Estado mete mais 1,2 mil milhões, prevendo-se para este ano, mais um “contributo” ainda superior. Quanto ao BPN/Parvaloren, só em 2017, limparam do Estado mais de €768,2 milhões, pelo que fiquei estupefacto e revoltado quando leio nos jornais económicos que a sua administração decidiu atribuir um bónus de €500 milhões aos trabalhadores com mais de quinze anos de serviço, cabendo a cada um dos colaboradores mais próximos do ex-presidente Oliveira e Costa, €50 mil, personagem condenada por falsificação de documentos, fraude fiscal, burla qualificada e branqueamento de capitais mas, como tantos outros, continuam a ir jantar ao “Gambrinus” ou ao “Grémio Literário” e gozando de todas as comodidades. Daqui se conclui, entre outras deduções, que o Estado tem um certo reconhecimento e respeito pelo grande banditismo de colarinho branco, já que tem sido ele a pagar a(s) conta(s).
Neste contexto compreende-se que o Estado não tenha verbas para sustentar o Serviço Nacional de Saúde, a educação – as tipologias de contratações/salários verificadas no ensino superior – a justificação de não satisfazer as pretensões dos professores, pois teve de se investir  €13 milhões num segmento do IP3, o desinvestimento inqualificável na ferrovia, a privatização de sectores estratégicos, a precariedade laboral, a rarefação de serviços públicos no interior e o compadrio, não só político, nas nomeações diretas para milhares de cargos, além do abandono do património construído. Mas, atenção. Do habitual conformismo lusitano, começam a surgir sinais de desilusão e até de repúdio.

Sem comentários:

Enviar um comentário