Muito
mais do que classificar Trump como um neoliberal, melhor seria afirmar que o
neoliberalismo na sua forma mais radical está corporizado nele. O actual presidente
dos EUA encara a sua função quer a nível interno quer nas relações internacionais
como um homem de negócios cujo único objectivo é obter o lucro seja à custa do
que for. Um exemplo entre muitos que podem ser citados, está na recente venda
de armas à Arábia Saudita, um dos mais retrógrados regimes do planeta, onde o
respeito pelos direitos humanos nem como miragem existe. Pode muito bem
acontecer que, dentro de pouco tempo, venhamos a assistir a algum negócio que
envolva o regime de Kim Jong-un… A previsibilidade das acções
de Trump é a sua imprevisibilidade desde que favoreça os grandes tubarões da
economia norte-americana que o colocaram no poder.
No artigo de opinião que assina hoje no “Público”, faz uma interessante abordagem
da forma como o actual presidente dos EUA olha o mundo.
Trump olha o mundo, em rápida mutação, e recentra-se
na sua América em busca da grandeza perdida.
Como pode Trump alinhar com a Alemanha se é este o
país que invade os EUA com os seus carros e produtos qualificados que batem em
termos competitivos os made in USA?
Trump é o Presidente de um país que não está a saber
adaptar-se às mutações vertiginosas; aliás, em abono da verdade, é o próprio
mundo que se está a espantar com a velocidade imprimida pelas emergências de
novos e poderosos atores na vida mundial.
Trump agarra-se à sua costela dominante de grande
homem de negócios para se posicionar no mundo.
Se já não há URSS e os europeus se estão a dividir nas
suas opções políticas, para que serve a NATO? Não só não há URSS, e o perigo do
comunismo inexiste…
Trump, na sua lógica egocêntrica, acha que tem a força
necessária para o que for adequado às necessidades da America first... A
sua guerra é com a Alemanha, que está dentro da NATO. A sua guerra é com a
China, que tem vindo a bater em competitividade os produtos do país de Trump.
Trump, como foi bom de ver, na cimeira com Kim
Jong-un, interpreta a presidência dos EUA como fazia com a gestão dos seus
negócios imobiliários.
Está-lhe na massa do sangue a convicção de que se
guindou ao mais alto cargo do país por ser um empresário daquele ramo e do show
business e assim manter a linha de atuação de sempre, mesmo na Casa Branca.
Para Trump, Presidente, tal como para Trump, homem de
negócios, o que conta é o momento do negócio, o tal feeling com que
ele acha que deve lidar com os outros chefes de Estado, o que o levou a não
apertar a mão a Merkel e que o levou a tocar Kim Jong-un ou a apertar-lhe
a mão vezes sem conta e sempre a olhar para a câmara.
Com Kim ou com o príncipe herdeiro saudita, na sua
mente o que interessa é o que pode ganhar com o negócio. Se precisava de um
sucesso na política internacional, voilá… O que conta é o momento,
o tal feeling de quem passou a vida a fazer big negócios.
Trump exibiu o cheque de venda de armamento aos
sauditas como o faria o empresário que acabava de vender um conjunto de
toneladas de cacau ou de alumínio ou outro produto e que renderia milhares de
milhões.
Para Trump não conta o que os sauditas vão fazer com
aquelas armas no país, no Iémen ou na região; o que conta é a pipa de massa que
o complexo militar industrial vai fazer entrar nos States.
Ele olha o mundo sempre na perspetiva do empresário
bem-sucedido, como se estivesse na sua Torre na 5.ª Avenida e se considerasse a
si próprio um exemplo.
Trump representa um importante aspeto da desagregação
provocada pelo neoliberalismo destemperado que varre a América, esvaziando as
instituições da democracia made in USA e, mais grave, a consciência de
grande número de cidadãos, fazendo com que ajam como seres primários, incultos,
boçais, prontos para se “safarem”, e daí votarem em Trump, que não é político,
mas exerce o mais alto cargo político dos EUA, o país por ora mais poderoso do
planeta.
O mundo com um homem desta estirpe vai
passar maus momentos pela brutidade, a incerteza, o egoísmo e a falta de
cultura que a personagem carrega. O mal maior é se esta vitória eleitoral faz escola
e Trump ter vindo para ficar. Não só por lá como também por cá, como se vê com
o avanço da extrema-direita na União Europeia.
Sem comentários:
Enviar um comentário