A
opinião pública portuguesa é muitas vezes confrontada com a promiscuidade
existente entre política e o mundo dos negócios. São por demais conhecidos os
casos de personalidades que exercem cargos políticos e, ao mesmo tempo,
desempenham funções de relevo em empresas privadas dos mais diversos ramos ou
no mundo financeiro. Na recente campanha eleitoral houve mesmo um candidato que
tomou esta situação como tema de fundo da sua propaganda. Só que, dentro da
nossa pequenez, o conluio tem as dimensões correspondentes. Agora imagine-se uma
situação equivalente em que os actores desempenham funções à escala da Comissão
Europeia, por um lado, e por outro encontramos grandes empresas à escala
mundial…
Leia-se,
então, o seguinte texto (*) que transcrevemos do Diário de Coimbra do passado
dia 28/1 para ficarmos com uma pequena ideia da sujeira que por aí vai.
A
globalização, tal como a temos suportado nas últimas três décadas, sob a égide da
Organização Mundial do Comércio (OMC) e das transnacionais fiscalmente paradisíacas,
atingiu e enfraqueceu a soberania dos Estados, deixando-os na incapacidade de
assumir as suas funções políticas determinantes, que conduziram a uma conceção
moderna da soberania.
Tenho
ainda gravadas as palavras do presidente da comissão Jean-Claude Juncker, há um
ano, quando o partido Syriza surgiu como vencedor das legislativas gregas: “não
pode haver uma escolha eleitoral democrática contra os tratados europeus”. Depois,
como todos sabemos e sentimos na pele, tudo foi dito e melhor executado por
personalidades identificadas com a demagogia económica (PIDE) – permitam-me o
acrónimo – aglutinando o FMI, o BCE e a comissão europeia.
Nesta
perspetiva, há quem já veja na Europa um preâmbulo de um sistema mundial,
dominado por uma “metrópole” que se exibe em Davos, Bilderberg ou em outros
locais menos mediáticos, onde se concentram os atores, um por cento, cujo poder
financeiro e patrimonial equivale aos restantes 99% (OXFAM), numa simbiose do
que se passa no resto do globo.
Uma
outra associação não-governamental, o Corporate Europe Observatory (CEO) – se dúvida,
o melhor analista sobre o poder dos lóbis neste continente, apresenta-nos, num
documento agora indicado, o que estão a fazer os comissários europeus,
integrantes do segundo mandato de Durão Barroso.
Chega
a ser chocante. A investigação está disponível no CEO, sob a designação de “Revolving
Doors” (Portas Giratórias) e nela verificamos a permissividade, o conluio e o
entrosamento sistémico entre cargos políticos (comissários/assessores) e o
mundo dos negócios.
Entre
os 26 comissários europeus, dois simples exemplos. Vivian Reding, logo após
concluir o seu mandato (Barroso II) e sem quaisquer objeções da comissão de
ética, assume os cargos no conselho de administração da sociedade mineira NYRSTAR,
da AGFA-GEVAERT e da Fundação Bertelsmann (gigante mundial dos media),
acumulando tudo isto – certamente de escassa responsabilidade e, ainda, com um
desperdício mínimo de tempo – com o cargo de deputada do Parlamento Europeu.
Já
Charlie McCrevy, depois de ter exercido as funções de comissário europeu do
mercado interior e dos serviços, ingressa nuna das mais importantes sociedades
mundiais de investimentos BNY MELLON, inacreditavelmente no departamento dos
produtos derivados, na administração da conhecida RYANAIRE e na SENTENIAL, nada mais do que uma
fornecedora de soluções de pagamentos aos bancos.
Quanto
ao “nosso” Durão Barroso, o CEO garante-nos que “é o mais ocupado de todos”, já
que tem 22 novas funções, voluntariamente assumidas, diga-se em abono da
verdade, mas teria de utilizar este espaço disponível para as descrever.
O
sociólogo e presidente da Fundação das Ciências do Homem Michel Woiworka, num
recente debate no canal France 24, sobre a situação caótica em que vivemos e
sem quaisquer dúvidas, deixou uma frase subliminar: um tempo sujo.
(*) João
Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação
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