A
ousadia de a esquerda portuguesa se unir para demonstrar que é possível reduzir
o défice e a dívida sem o grau de austeridade que nos atingiu nos últimos
quatro anos provocou um ódio de morte na direita nacional que não vai olhar a
meios para atingir os fins a que julga ter direito, quase por reconhecimento
divino. PSD e CDS nunca imaginaram que uma esquerda, sempre de costas voltadas desde
1974, conseguisse pôr de lado as suas conhecidas divergências para se
concentrar em pontos essenciais do interesse comum da população portuguesa.
Toda
a retórica dos comentadores, maioritariamente em consonância com a direita mais
radical, vai no sentido de tornar exponenciais os pontos negativos do Orçamento
do Estado para 2016, quase fazendo por esquecer os benefícios que traz, em
especial para os mais desfavorecidos.
Também
é claro que a ortodoxia europeia simbolizada por Merkel & C.ª também não
gosta do que se está a passar em Portugal, receosa que Espanha venha a seguir o
mesmo caminho. Para esta gente, a vontade dos povos expressa em eleições
democráticas conta pouco se não for ao encontro dos interesses dos mais
poderosos, englobando-se nesta designação tanto estados quanto o grande capital
representado nas suas mais diversas formas.
Neste
curto texto de Nicolau Santos que recolhemos do Expresso Economia de ontem, é
realçado o incómodo que está a provocar em muitas froças a possibilidade de
existir uma alternativa de combate à crise.
O Orçamento do Estado para
2016 é um animal estranho. Estranho para a ortodoxia que mora na Comissão
Europeia, no Eurogrupo, no FMI e em Berlim. Estranho para PSD, CDS e todos os
que leram pela mesma cartilha. Ao fim de quatro anos de austeridade, o OE-2016
tenta chegar aos mesmos objetivos (redução do défice e da dívida) por outros
meios e não os do costume: cortes salariais e pensões, aumento da carga fiscal
sobre os rendimentos do trabalho, drástico emagrecimento do Estado social. E isso
baralha e incomoda muita gente, porque se resultar é a prova de que a crise
poderia ter sido combatida por outras vias que não a irritante TINA (There Is
No Alternative). Tem riscos? Claro que tem. Se o crescimento e a inflação não se
verificarem, o défice será muito superior. Mas o que é que aconteceu com os
quatro orçamentos dos governos PSD/CDS? Obrigaram todos não a um mas a dois (!)
orçamentos retificativos. Por isso, este OE alternativo merece uma
oportunidade. E se tiver de haver um retificativo, não será seguramente um
drama.
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