O
conhecimento da situação calamitosa que se passa na Estrada Nacional 125 (EN 125)
já atravessou fronteiras e, nesta altura, dá forma a um negro cartão de visita
para aqueles que pretendem gozar férias na a região mais a sul de Portugal. A
via que atravessa o Algarve no sentido longitudinal pode ser uma armadilha mortal para quem a utilizar
porque apesar de ainda deter a designação de estrada nacional constitui em
muitos troços da sua extensão uma autêntica rua, com todas as condicionantes
que daí resultam. Todos os anos ocorre na 125 um número impressionante de acidentes com o cortejo de vítimas correspondente. Para além dos mortos, são
incontáveis os feridos, muitos deles estropiados para toda a vida. É uma
situação que há anos vem sendo denunciada perante vários governos e que, até
agora, ainda não teve qualquer seguimento.
Todos
os algarvios sabem que o problema que constitui a EN 125 tem uma solução mesmo
ao lado, a Via do Infante. Mas, para que esta antiga SCUT passe a se
alternativa, há que acabar com o pagamento pela sua utilização. A taxação da
Via do Infante é quase criminosa porque está na origem de muitos mortos e
feridos, sem que sucessivos governos revelassem vontade política de acabar com
este desrespeito pelas populações locais e pelos inúmeros visitantes que se
deslocam ao Algarve. Para combater esta situação constituiu-se mesmo a Comissão
de Utentes da Via do Infante (CUVI) que tem levado a cabo inúmeras acções de
luta no sentido de chamar a atenção dos poderes públicos para uma solução que
tarda. Um dos dinamizadores da CUVI é João Vasconcelos, actual deputado do Algarve
pelo Bloco de Esquerda cuja primeira acção que apresentou após a tomada de
posse foi um projecto para abolição das portagens na Via do Infante, logo
chumbado pelo PS e pela direita.
O
texto seguinte, que retirámos da penúltima edição do semanário Barlavento
(29/9/2016) forma um artigo de opinião (com o título acima) de um cidadão
estrangeiro – Jack Sorfer, consultor internacional – onde é denunciado o
anacronismo que constitui a situação actual da EN 125.
Há décadas que já não se
fazem rotundas no norte da Europa, como as que estão a finalizar na EN125. A alternativa encontrada é um sistema de
gestão de trânsito mais inteligente e que já funciona há alguns anos. Os semáforos
funcionam com o apoio de um microradar que lê a velocidade de cada viatura em
aproximação ao cruzamento. Em nanosegundos, o processador calcula qual dos
sentidos deve abrir para verde e por quanto tempo, até que todas as viaturas
passem. Não é um tempo igual para todos os lados, mas variável, consoante os
fluxos de tráfego, sobretudo de pesados como autocarros e camiões. O sistema
chama-se SENSE. Também já não se fazem passeios como na zona suburbana da
EN125. Fazem ciclovias de um dos lados. Há décadas que não se fazem, em
subúrbios ou estradas, apenas duas faixas e bermas de cada lado. São feitas
três faixas, sendo a do meio de sentido variável, para permitir ultrapassagens
em vez de filas enormes como as da EN125. No acostamento há sinais a indicar a
próxima berma e a próxima faixa de ultrapassagem. A atual reconstrução da EN125
é retrógrada, é impingir um projeto há muito esquecido e ultrapassado. É
perigosa e vai trazer ainda mais mortes, pois como são poucos os espaços onde
se pode ultrapassar em segurança, muitos arriscarão manobras sem visibilidade.
Como o tempo de circulação na EN125 piorou bastante, muitos profissionais têm
sido obrigados a pagar balúrdios para usar a A22, para manterem os seus
negócios a funcionar. É o caso das empresas de transfers, por exemplo. Quem
ganha, quem perde? Perdemos nós, quase todos os cidadãos algarvios e não só,
que consideram o sistema de pagamento da A22 inteiramente obsoleto e
socialmente injusto. Ganham os que exploram a A22, grandes cartéis
estrangeiros, que tiveram o seu tráfego reduzido à metade. Ganham os grandes
construtores que sabem que o atual investimento terá de ser refeito dentro de
poucos anos.
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