Pela
primeira vez em quase quatro décadas, o Conselho de Segurança da ONU aprovou
uma resolução em que afirma que os colonatos israelitas “não têm
validade jurídica e constituem uma flagrante violação do Direito Internacional”.
A aprovação desta resolução só foi possível com a abstenção dos Estados Unidos,
em vez do veto tradicional que tem protegido Israel, transmitindo a este país a
convicção de que se pode comportar como um estado acima do Direito
Internacional. De qualquer maneira, esta decisão americana tem um aspecto
meramente simbólico – não haja a mais pequena ilusão – porque, com a chegada de
Trump ao poder, tudo se reverterá de novo, talvez agravando ainda mais a
situação dos palestinianos.
Hikmat Ajjuri, embaixador da Palestina,
comenta no texto seguinte, transcrito do Público de ontem, exactamente o
resultado da resolução 2334 do Conselho de Segurança da ONU. Ainda que não
transpareça nas suas palavras, o embaixador não deverá alimentar grandes ilusões
em relação à atitude de Trump.
Durante as últimas décadas, os
palestinianos fizeram inúmeros apelos à ONU e ao seu Conselho de Segurança para
respeitarem os deveres da sua Carta, pela proteção dos civis durante a guerra e
pela inadmissibilidade aquisição de terra pelo uso da força, como consta na
Resolução 242 de 1967 e outras, mas todos caíram em ouvidos moucos.
Israel, o poder ocupante, nunca foi
confrontado ou indiciado por uma única das suas atrocidades contra os
palestinianos sob a sua ocupação. Pelo contrário, Israel continuou a receber o
apoio incondicional das democracias ocidentais e foi protegido pelo poder de
veto norte-americano, exercido mais de 40 vezes a favor de Israel. Por sua vez,
os palestinianos, sob ocupação, foram constantemente incitados, pelas mesmas
democracias, a renunciar ao seu direito, internacionalmente reconhecido, de
resistir ao ocupante para garantir a sua segurança.
Esta atitude contribuiu tremendamente
para encorajar Israel a comportar-se como um Estado acima do Direito
Internacional.
Após 36 anos de paralisia, o Conselho de
Segurança decidiu, a 23 de Dezembro de 2016, tomar uma posição de acordo com os
seus princípios adotando a resolução 2334, que afirma que os colonatos
"não têm validade jurídica e constituem uma flagrante violação do Direito
Internacional", e convida a Comunidade Internacional a "distinguir,
nas suas relações relevantes, entre o território do Estado de Israel e os
territórios ocupados desde 1967".
De facto, esta resolução não tem efeito
tangível no terreno, excepto fazer Israel “pôr os pés na Terra” para que se
comporte como um país normal e ofereça mais espaço respirável aos
palestinianos, após cinco décadas de sufocação sob a mais imoral ocupação
militar. Apesar de tardia, esta é uma tentativa responsável da administração de
Obama de reavivar o caminho para a paz e preservar a solução de Dois Estados,
solução que tinha sido anulada pelas autoridades israelitas, que afirmaram que
"a solução de dois Estados está morta" e "não haverá Estado
palestiniano", acrescentando a isto o roubo de terra para construir
colonatos.
Em muitas ocasiões adverti para a
animosidade de Netanyahu para com a paz, claramente expressa no seu livro A
Place Among the Nations (1993).
Essa animosidade foi também expressa na
mais recente reação histérica de Netanyahu, quando, no dia de Natal, convocou
enviados dos membros do Conselho de Segurança para os repreender, juntamente
com um ataque a Obama, Presidente do aliado estratégico do seu país, e
anunciando travar uma guerra contra a ONU e os seus órgãos, esquecendo-se que
Israel nasceu do ventre desta organização com a resolução 181 (1947).
Apesar de Netanyahu não conseguir
enganar os líderes mundiais com as suas alegações e truques anti paz, no seio
da sociedade israelita, infelizmente, conseguiu incutir um crescente medo e
racismo, garantindo assim a sua eleição por quatro vezes. Ou seja, Netanyahu
conseguiu, após quatro mandatos, fazer com que o único inimigo de Israel fosse
o próprio Israel.
Esta resolução foi uma vitória para
todos os povos amantes da paz, incluindo os israelitas que nunca aceitaram
render-se às mentiras e alegações de Netanyahu.
Em nome desses israelitas e de todos os
palestinianos, sinto-me na obrigação de agradecer aos 15 membros do Conselho de
Segurança, Estados Unidos inclusive, pois agiram em linha com o resto das
nações do mundo, com constantes apelos para a materialização da solução de Dois
Estados.
O Conselho de Segurança, ao adoptar a
resolução 2334, tem boas intenções perante todos os moradores da Terra Santa
(judeus, cristãos e muçulmanos), redirecionando a bússola do mundo para acabar
com a ocupação militar israelita do Estado da Palestina e estabelecer uma paz e
estabilidade, a longo prazo, na região do Médio Oriente e mais além.
Agora para a plena realização desta
resolução será necessário que o Presidente norte-americano eleito, Trump, tome
o partido da Carta da ONU, que é, segundo Dean Acheson (ex-secretário de
Estado), uma "versão condensada da constituição norte-americana".
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