A
“esquerda radical” é muitas vezes designada desta forma e em sentido pejorativo,
por se opor de modo muito firme a interesses ilegítimos instalados, em defesa
da maioria da população. Por muito óbvias que sejam as suas propostas, os
defensores do sistema dominante não querem dar o braço a torcer receosos de que
as pessoas comecem a notar quem, de facto, defende os interesses da maioria.
Relativamente
ao que agora se passa com a situação do Novo Banco, o Bloco de Esquerda vem
defendendo há muito tempo que a solução mais viável, com menos custos para os
portugueses e de “acordo com os interesses do país a longo prazo”, é a sua
nacionalização.
No
princípio foi considerada uma solução apenas proposta pelos radicais de
esquerda mas, paulatinamente, vem fazendo o seu caminho e já há muita gente do
PS, e não só, a defende-la abertamente ainda que acrescentando que para criar
condições para uma futura venda. Já é um progresso ainda que haja muito caminho
a desbravar.
É
a posição que hoje toma no Público o deputado do PS, João Galamba, em artigo de
opinião, do qual aqui deixamos três excertos.
Dois anos passados desde a
resolução do BES, a nacionalização do Novo Banco parece ser mesmo a opção que
menos penaliza os contribuintes e, sobretudo, é a única que permite criar o
espaço necessário para resolver os problemas de rentabilidade e sustentabilidade
do sistema financeiro português.
(…)
Em 2015, pouco antes das
eleições legislativas, a discussão era se o Novo Banco valia 3 ou 4 mil milhões
de euros, havendo até quem, como Marques Mendes, assegurasse que valia bem mais
do que isso e que a venda seria um estrondoso sucesso. Mais do que limpa, seria
uma saída imaculada. Poucos meses depois, mais concretamente a 30 de dezembro
de 2015, o Novo Banco, em vez de ser vendido, foi recapitalizado em cerca de 2
mil milhões de euros, via bail-in de credores seniores. A resolução imaculada
revelava-se, afinal, um logro e representou uma pesada fatura para a dívida
pública portuguesa e para a capacidade de financiamento do país. Os juros da
dívida pública dispararam após essa operação, o spread face à restante periferia
agravou-se fortemente e, até ver, de forma permanente.
(…)
Passados cerca de dois anos e meio, e 6.9 mil milhões de euros
de capital depois, a venda imediata do Novo Banco parece a pior de todas as
opções, porque não foram criadas as condições para que haja uma venda sem ser
fortemente subsidiada pelo Estado. A melhor oferta implica que o Estado pague
cerca de 1750 milhões de euros para que um fundo de private equity fique com o
terceiro maior banco do país. Esta operação, para além de implicar custos imediatos
para os contribuintes, que iriam integralmente ao défice, teria graves custos
económicos, porque um fundo de private equity não tem como uma das suas
prioridades a gestão de um banco e a valorização das suas relações com as
empresas portuguesas; antes compra barato e tenta recuperar o capital investido
rapidamente, provavelmente desmantelando o banco e tentando maximizar a
utilização da garantia pública, cuja probabilidade de execução, no caso da
venda se concretizar, rondaria os 100%.
Sem comentários:
Enviar um comentário