terça-feira, 10 de janeiro de 2017

OBVIAMENTE, NACIONALIZE-SE O NOVO BANCO



A “esquerda radical” é muitas vezes designada desta forma e em sentido pejorativo, por se opor de modo muito firme a interesses ilegítimos instalados, em defesa da maioria da população. Por muito óbvias que sejam as suas propostas, os defensores do sistema dominante não querem dar o braço a torcer receosos de que as pessoas comecem a notar quem, de facto, defende os interesses da maioria.
Relativamente ao que agora se passa com a situação do Novo Banco, o Bloco de Esquerda vem defendendo há muito tempo que a solução mais viável, com menos custos para os portugueses e de “acordo com os interesses do país a longo prazo”, é a sua nacionalização.
No princípio foi considerada uma solução apenas proposta pelos radicais de esquerda mas, paulatinamente, vem fazendo o seu caminho e já há muita gente do PS, e não só, a defende-la abertamente ainda que acrescentando que para criar condições para uma futura venda. Já é um progresso ainda que haja muito caminho a desbravar.
É a posição que hoje toma no Público o deputado do PS, João Galamba, em artigo de opinião, do qual aqui deixamos três excertos.
Dois anos passados desde a resolução do BES, a nacionalização do Novo Banco parece ser mesmo a opção que menos penaliza os contribuintes e, sobretudo, é a única que permite criar o espaço necessário para resolver os problemas de rentabilidade e sustentabilidade do sistema financeiro português.
(…)
Em 2015, pouco antes das eleições legislativas, a discussão era se o Novo Banco valia 3 ou 4 mil milhões de euros, havendo até quem, como Marques Mendes, assegurasse que valia bem mais do que isso e que a venda seria um estrondoso sucesso. Mais do que limpa, seria uma saída imaculada. Poucos meses depois, mais concretamente a 30 de dezembro de 2015, o Novo Banco, em vez de ser vendido, foi recapitalizado em cerca de 2 mil milhões de euros, via bail-in de credores seniores. A resolução imaculada revelava-se, afinal, um logro e representou uma pesada fatura para a dívida pública portuguesa e para a capacidade de financiamento do país. Os juros da dívida pública dispararam após essa operação, o spread face à restante periferia agravou-se fortemente e, até ver, de forma permanente.
(…)
Passados cerca de dois anos e meio, e 6.9 mil milhões de euros de capital depois, a venda imediata do Novo Banco parece a pior de todas as opções, porque não foram criadas as condições para que haja uma venda sem ser fortemente subsidiada pelo Estado. A melhor oferta implica que o Estado pague cerca de 1750 milhões de euros para que um fundo de private equity fique com o terceiro maior banco do país. Esta operação, para além de implicar custos imediatos para os contribuintes, que iriam integralmente ao défice, teria graves custos económicos, porque um fundo de private equity não tem como uma das suas prioridades a gestão de um banco e a valorização das suas relações com as empresas portuguesas; antes compra barato e tenta recuperar o capital investido rapidamente, provavelmente desmantelando o banco e tentando maximizar a utilização da garantia pública, cuja probabilidade de execução, no caso da venda se concretizar, rondaria os 100%.

Sem comentários:

Enviar um comentário