No
seu artigo quinzenal que hoje assina no Público, o prof. Santana Castilho faz
uma espécie de balanço da acção do Governo, que transita para 2017, na área
educativa, percebendo-se que em sua opinião há muitos aspectos negativos a
mencionar.
Santana
Castilho chama a atenção para várias vertentes, desenvolvendo a seguir as
razões da sua crítica. Assim, refere, em particular e de forma mais enfática,
os seguintes aspectos: mega-agrupamentos e direcção das escolas; promoção do
sucesso escolar; manutenção e até reforço da “municipalização da educação”;
redução do número de alunos por turma; políticas de inclusão; desinteresse pela
educação especial; progressão na carreira dos professores e congelamento de
salários.
O que se ensina e o modo como a escola
se organiza para ensinar deveria traduzir um projecto de sociedade, decidido de
modo suficientemente participado para a representar. Infelizmente, traduz
apenas o querer de quem manda em cada momento, fruto da recorrente incapacidade
de os partidos construírem um entendimento político que acomode os tempos da
Educação. Com efeito, nenhuma reforma se compadece com a duração estreita de
uma legislatura.
A escola que o anterior Governo deixou
visava criar “recursos humanos” produtivos, pacíficos face aos grupos
económicos a que se destinavam e agressivos face à competição desumana que
deviam vencer para lá entrar. O que o actual Governo fez para mudar essa escola
e preparar cidadãos capazes de agirem de modo crítico e independente é
manifestamente poucochinho.
A pobreza inicial dos documentos
eleitorais e do programa do Governo permanece sem visão sistémica mínima e
consistente. Os normativos legislativos, alguns deles reveladores de
dessintonia entre o Parlamento e o Governo, têm surgido sem suporte
estratégico. A legislação tem uma tónica avulsa e é, demasiadas vezes,
voluntarista e populista. Há vertentes cruciais que estão simplesmente
esquecidas: mega-agrupamentos e direcção das escolas são exemplos
significativos.
O Programa Nacional de Promoção do
Sucesso Escolar deixa incólume o que havia a mudar: a organização e os recursos
de funcionamento, com a correlata mudança das pedagogias. Não passa de mais uma
iniciativa, que se soma a anteriores do mesmo tipo, repetindo ciclos de acções
que nunca têm em conta as experiências anteriores e, acima de tudo, ignoram que
o insucesso não se resolve nem com modelos universais, nem sem diminuirmos os
indicadores de pobreza da sociedade.
Foi positiva a extinção do ensino dual. Mas nada foi feito para melhorar significativamente o ensino profissionalizante nas faixas etárias adequadas.
Foi positiva a extinção do ensino dual. Mas nada foi feito para melhorar significativamente o ensino profissionalizante nas faixas etárias adequadas.
A promessa de valorização das artes e da
educação para a cidadania não tem, até hoje, concretização significativa. A
chamada “municipalização da educação” não só foi mantida, como segue em trilhos
de reforço. A prometida redução do número de alunos por turma aguarda melhores
dias.
Em matéria de políticas de inclusão,
pura e simplesmente não se conhece nenhuma iniciativa relevante, nem sequer
substanciais incrementos da acção social, excepção feita à gratuidade dos
manuais escolares (que não era prioridade no contexto das carências e foi
ditada por simples motivações populistas, sem o mínimo estudo das consequências
ou sequer relacionamento dos benefícios com os custos). A educação especial
continua desprezada a vários títulos e algumas iniciativas administrativas
ficaram marcadas por um retrocesso que se julgava impossível.
Foi positiva a revogação do regime de
requalificação dos docentes. Mas continua suspensa a progressão na carreira e
mantém-se o congelamento de salários. Assim, as condições de vida privada e
profissional dos professores, dramaticamente agravadas entre 2011 e 2015, quando
já vinham em degradação acelerada dos anos anteriores, estão longe de terem
sido invertidas. Os vários estudos produzidos, independentemente das
metodologias e das entidades promotoras, provam-no: preocupantes níveis
de burnout, crescimento acelerado de situações de depressão,
sujeição a perversos mecanismos de controlo e fiscalização e envelhecimento
galopante são feridas expostas a que este Governo ainda não respondeu, incapaz
de promover as reformas que já ontem seriam tardias.
O clima mais distendido, que algumas
alterações legislativas permitiram, designadamente aquando do arranque do
presente ano lectivo, está longe, muito longe, de satisfazer mínimos exigíveis
para reverter o peso da burocracia sem sentido, que continua a vergar pelo
cansaço.
Que 2017 não reduza a poucochinho, na escola, os contributos das ciências da vida e saiba acolher as dimensões humanas e cívicas que delas emanam. Que 2017 deprecie menos e ajude mais os professores a educar os filhos de todos.
Que 2017 não reduza a poucochinho, na escola, os contributos das ciências da vida e saiba acolher as dimensões humanas e cívicas que delas emanam. Que 2017 deprecie menos e ajude mais os professores a educar os filhos de todos.
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