Num
artigo de opinião assinado por Pedro Soares no Público de hoje, o dirigente do
Bloco e líder parlamentar bloquista explicita a posição do Bloco de Esquerda
face a um texto do comunista João Frazão publicado na edição deste jornal do
passado dia 22 deste mês que tem como pano de fundo a criação de um banco de
terras.
O texto de opinião sobre a floresta de
João Frazão com o título “Atávicos?”, dirigido
pessoal e exclusivamente a mim e ao Bloco de Esquerda, publicado no passado dia
22 neste jornal, possibilita-nos explicitar melhor a nossa posição sobre este
debate nacional acerca da floresta que o dirigente do PCP parece reduzir à
falsa ideia de o banco de terras servir para o “esbulho da pequena
propriedade”.
O abandono e as terras sem titular
identificado, resultante das mudanças económicas no mundo rural e da emigração,
desprotegem a pequena propriedade, contribuem para o despovoamento e o
empobrecimento, aumentam o risco de incêndio nos territórios.
A proposta do Bloco para o banco de
terras assegura a titularidade dos prédios aos seus donos e procura dar-lhes um
uso adequado, através de um contrato de arrendamento garantido pelo Estado. Não
há esbulho, há uso produtivo, garantias e rendimento para os titulares, mesmo
que estejam na Amadora ou na Austrália.
Outra questão é a das chamadas terras
sem dono conhecido e abandonadas. Avançando-se com o tão reclamado cadastro dos
prédios rústicos e mistos, prevê-se que surjam parcelas cujos titulares não são
localizados nem identificados. O Bloco acordou com o Governo que essas terras
são acolhidas no banco de terras, registadas provisoriamente a favor do Estado,
ficam 15 anos protegidas a aguardar que os seus donos apareçam e as reclamem
sem custos. Estas terras nunca poderão ser vendidas a privados.
Este banco de terras, que seria o
primeiro passo de uma política pública mais ampla de ordenamento, gestão e
valorização da floresta, foi rejeitado no Parlamento com os votos da direita e
do PCP.
O João Frazão não me levará a mal, mas a
nossa polémica sobre a reforma legislativa da floresta está muito longe de ser
com o PCP, com o qual convergimos em diversos aspetos. A nossa profunda
divergência é com os poderosos interesses que conduziram a floresta ao caos
atual, por demissão do Estado das suas responsabilidades no apoio à organização
dos pequenos e médios produtores, no ordenamento, proteção e gestão florestais.
Independentemente da apreciação que cada
um possa fazer sobre as propostas do Bloco, as nossas diferenças com o Governo
estão claras nos projetos-lei que apresentámos em abril: novo regime jurídico
de arborização, rearborização e adensamento florestais; criação de unidades de
gestão florestais nas formas associativa e cooperativa; criação do banco
público de terras.
Sabemos que tal não aconteceu com as
restantes forças políticas parlamentares. Não era urgente revogar a “lei da
liberalização do eucalipto” do governo anterior? Não era preciso avançar no
ordenamento e na gestão associativa do minifúndio florestal, na proteção do
ambiente e dos pequenos produtores explorados pelas celuloses? Fazer o cadastro
de forma célere e combater o abandono florestal não interessava?
Quando o Bloco exigiu na Comissão de
Agricultura que não se terminasse mais uma sessão legislativa sem que começasse
a ser aprovada legislação para a reforma florestal, não faltou quem viesse
dizer que “não se pode legislar à pressa” e que “quem esperou tantos anos bem
pode esperar mais uns meses”. Vejam lá, há 20 anos que andam com esta farsa,
pelo menos desde que foi aprovada a Lei de Bases da Floresta. Adiamento a
seguir a adiamento do investimento público na floresta, sempre com os melhores
argumentos.
Entretanto, mês após mês e ano após ano,
a monocultura de espécies de elevada inflamabilidade expande-se, os incêndios
são cada vez mais incontroláveis e perigosos, as comunidades locais empobrecem
e emigram, o interior despovoa-se, as espécies autóctones recuam, o ambiente e
a paisagem degradam-se.
O Bloco não cede à obsessão dos que
querem a concentração privada da pequena propriedade e sonham com uma floresta
intensiva para transformar em pasta de papel, controlada por fundos
financeiros, nem alinha nos mitos de um mundo rural estático, infelizmente cada
vez mais despovoado e entregue à sua sorte.
Em setembro próximo, o Bloco agendará na
Assembleia da República o debate sobre as formas de gestão agregada da floresta
e os apoios públicos ao associativismo, para que os pequenos produtores ganhem
escala, consigam discutir com a indústria a valorização da sua matéria-prima, e
a floresta seja gerida com os mais elevados critérios ambientais e de
racionalidade económica.
Não contem connosco para emperrar as
mudanças necessárias na floresta, por muito que isso custe aos interesses
instalados.
Sem comentários:
Enviar um comentário